Há 100 anos, primeiro título Carioca do Vasco mudava o futebol do Rio
Em 1923, com um time de negros e operários, que ficou conhecido como "Camisas Negras", o Vasco conquistou o seu primeiro Carioca
Há 100 anos, o Vasco escrevia uma de páginas mais importantes da sua história e do futebol brasileiro. Neste sábado, 12 de agosto, o clube comemora o centenário do seu primeiro Campeonato Carioca, conquistado por um time com negros, operários e suburbanos. O episódio, que ficou conhecido como “Camisas Negras”, foi um divisor de águas no futebol e, com muita razão, é celebrado até hoje. E será para sempre. Não à toa, no começo de 2023 o Vasco lançou a campanha “Próximos 100 anos“.
E o dia será de homenagens em São Januário e nas redes do clube. A partir das 9h, o Vasco vai publicar conteúdos sobre os Camisas Negras na Vasco TV e também há a promessa de publicação de documentos e fotos inéditas por parte do clube nos seus veículos oficiais.
Em São Januário, o Vasco fará homenagens aos Camisas Negras durante a manhã. Às 10h, o Vasco vai inaugurar a exposição “Centenário dos Camisas Negras”, no Espaço Experiência, o museu do clube. O evento vai ter a presença de familiares dos jogadores do time de 1923. A partir das 14h, a mostra será aberta ao público. Além disso, personalidades negras que se destacam na luta contra o racismo serão homenageados com a “Honraria Pai Santana”. O Vasco também vai apresentar réplicas dos uniformes e vai inaugurar uma placa em homenagem aos Camisas Negras.
Há momentos na história que são mais do que apenas páginas de um livro, são lutas que ecoam ao longo das décadas, inspirando gerações e moldando identidades.
No próximo sábado, 12 de agosto de 2023, celebraremos, com reverência, o Centenário dos lendários Camisas Negras,… pic.twitter.com/GkkM5pSsbn
— C.R. Vasco da Gama (@crvasco_br) August 10, 2023
Camisas Negras marcaram a história do futebol
Um ano antes da conquista do Campeonato Carioca, o Vasco foi campeão da Série B da Primeira Divisão, garantindo o acesso para Primeira Divisão da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT). No entanto, o time do Cruz-Maltino era formado por negros e operários. Assim, os clubes já tradicinais na época e da elite carioca, como Flamengo, Fluminense, Botafogo e America, tentaram barrar a entrada do Vasco na liga – e não conseguiram.
Com Nélson, Leitão e Mingote; Nicolino, Claudionor e Artur; Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito, e sob o comando do uruguaio uruguaio Ramón Platero, o Vasco foi campeão carioca em 1923 com 14 vitórias, um empate e apenas uma derrota (para o Flamengo, em um jogo com muitas reclamações sobre a arbitragem). O título veio no dia 12 de agosto, com uma vitória por 3 a 2 sobre o São Cristóvão.
𝐂𝐚𝐦𝐢𝐬𝐚𝐬 𝐍𝐞𝐠𝐫𝐚𝐬 que guardo na memória.
No peito.
Na alma.#CamisasNegras100Anos#VascoDaGama pic.twitter.com/0J9FjrgXNl— Vasco da Gama (@VascodaGama) August 12, 2023
Em meio as disputas entre amadorismo e profissionalismo, os clubes da elite carioca fundaram a Associação Metropolitana dos Esportes Athleticos (AMEA). Com o sucesso e apelo popular do Vasco, que lotava seus jogos, a AMEA retirou algumas das exigências, mas deixou a principal delas, que excluía 12 jogadores do Cruz-Maltino da competição.
Presidente do Vasco na época, José Augusto Prestes, recusou inicialmente essas exigências, e publicou, em 1924, o que ficou conhecido como a Resposta Histórica, exaltando as tradições do clube e os jogadores, e permaneceu na Liga Metropolitana, com clubes de menor expressão naquele período do século passado. Dessa forma, neste ano, o Vasco foi conquistou novamente o Carioca – dessa vez, de forma invicta, com 14 vitórias em 14 jogos. Com o Vasco ficando cada vez mais popular e lotando seus jogos, em 1925 a AMEA aceitou a entrada do clube de negros e operários. Para além dos interesses econômicos e esportivos, o posicionamento do Vasco na época, em apoio aos jogadores negros, foi essencial para mudar a estrutura do futebol carioca.