Torcida foi treinada para ter cara de estádio, mas não se preparou para teste definitivo

A seleção brasileira é um time de futebol como tantos outros. Tem uma camisa mais pesada, tem mais títulos, tem bons jogadores, mas ainda é um time de futebol. E, tanto quanto qualquer clube de cidade do interior, precisa de uma torcida que saiba empurrar. Esse foi um dos ensinamentos da Copa de 2014. Quando os mexicanos igualaram os brasileiros em barulho na segunda rodada da primeira fase, ficou claro que o Brasil precisava criar uma cultura de torcida de estádio em torno de sua equipe nacional.
LEIA MAIS: É hora de manter a dignidade. É hora de abraçar a zoeira
A mobilização foi grande, e teve sucesso. Dezenas de músicas surgiram na mídia, algumas poucas acabaram escolhidas naturalmente pelas arquibancadas. E o Brasil torceu, fez barulho, brigou com os argentinos no gogó, empurrou nos momentos difíceis contra Chile e Colômbia.
Uma coisa surgiu, os brasileiros já sabem que precisam abraçar sua seleção. Mas faltava o teste final, e ele não era gritar “é campeão!”. Faltava seguir amando e apoiando mesmo nos péssimos momentos. Como algumas torcidas de clubes já fizeram ao aplaudir suas equipes após derrotas ou eliminações. E, nesse teste, houve quem fosse reprovado nesta terça.
Alguns torcedores deixaram o Mineirão no meio do primeiro tempo. É verdade que o placar estava em 4 ou 5 a 0 quando essas pessoas tomaram a decisão de voltar para casa, mas ainda havia 60 minutos de futebol. A Seleção jamais viraria o marcador, mas ela – como qualquer time de futebol, do Aimoré-RS ao Baré-RR – precisava da manifestação da torcida. Uma manifestação de compreensão, de carinho, de ódio. Qualquer que fosse. Mas não o desprezo, não a fuga de quem tem medo de encarar o fato de que, no esporte, seu time às vezes é humilhado.
LEIA MAIS: Argentinos e brasileiros fazem clássico de gogós em SP
Claro que não foram todos os torcedores. A maioria ficou, muitos seguiram se manifestando com apupos ou cantos de incentivo. Tudo dentro do que se pode imaginar para um time que está sofrendo a maior goleada de sua história. Mas a imagem de pessoas indo embora para fugir da realidade foi forte. Mostrou que muita gente prendeu a lição de como torcer quando parecia bonitinho e descolado, mas não estava disposta a continuar a brincadeira quando ela ficou mais sofrida do que divertida.
Tudo bem, a fuga do Mineirão contra a Alemanha ficou como o silêncio do Castelão contra o México. Mas, para a seleção brasileira ter uma torcida plena, é preciso que todos na arquibancada entendam que seguir um time é um exercício de como lidar com altos e baixos emocionais, e não apenas momentos de alegria. Vejamos o que acontece nas Eliminatórias para a Copa de 2018.