Brasil

Tonhão quase comprometeu a Parmalat e obrigou Palmeiras a se retratar

Zagueiro faleceu aos 55 anos nesta terça-feira, mas deixa legado de entrega e luta, além de grandes histórias

Tonhão será sempre lembrado como uma figura de raça, entrega e determinação em campo. O ex-zagueiro do Palmeiras morreu nesta terça-feira, aos 55 anos, em decorrência de um problema no fígado.

Nascido em 23 de fevereiro de 1969, o ex-jogador foi peça importante da conquista do Campeonato Paulista de 1993. Título marcado pelo encerramento de um jejum de 27 anos do Verdão.

Antônio Carlos Costa Gonçalves, que ganhou o apelido de Tonhão, ainda ganharia mais seis campeonatos pelo Alviverde: os Paulistas de 1994 e 1996, o Rio-SP de 1993, o bi-Brasileiro em 1993/1994, e o antigo Torneio Euro-América em 1996.

Excêntrico, o ex-zagueiro era declaradamente palmeirense, deixando aflorar o sentimento de amor pelo clube do coração quando estava em campo.

Às vezes, tal sentimento extrapolava, e em um episódio específico, o Palmeiras, e a Parmalat, precisaram se retratar por conta de uma atitude do jogador

Provocação da torcida da Portuguesa motivou ação impensada de Tonhão

Em janeiro de 1995, o Palmeiras perdeu para a Portuguesa por 2 a 1 em jogo disputado no Canindé. Após o jogo, Tonhão alegou que teve seu carro apedrejado no estacionamento do estádio.

Meses depois, em 15 de abril daquele ano, o Verdão devolveu a derrota com juros, e superou a Lusa por 3 a 0, no Parque Antártica.

Diego Iwata, setorista do Palmeiras na Trivela, tinha 14 anos na época, e assistiu ao jogo das arquibancadas. Segundo o jornalista, Tonhão fora provocado durante o jogo inteiro pela torcida da Portuguesa, que usou de palavras racistas para ofender o jogador.

“Ele (Tonhão) foi xingado o jogo inteiro, e os termos utilizados pela torcida da Portuguesa foram: filha da pu**, orelhudo e cabeção. Quando o jogo acabou, a torcida continuou xingando o jogador, que foi com a camisa até a arquibancada visitante”, recorda Diego.

Tonhão, ainda mordido com o ocorrido no Canindé, e furioso com os xingamentos dos rivais no Parque Antártica, aguardou pela tradicional troca de camisas entre os jogadores após o jogo, e cometeu um ato impensado.

O ex-zagueiro cuspiu no manto lusitano, limpou sua chuteira, jogou o uniforme no chão e o pisoteou. O ato deixou a torcida, e a diretoria da Portuguesa enfurecida. Na época, o diretor de futebol da Lusa, Fernando Gomes, disse que “um jogador que faz isso não merece estar no Palmeiras”.

A diretoria do Palmeiras avaliou junto da Parmalat se o zagueiro seria punido. Posteriormente, Tonhão veio a público pedir desculpas, o que não foi aceito pela diretoria da Portuguesa.

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Diretor da Portuguesa sugeriu boicote à Parmalat

Dirigentes e a comissão técnica da Lusa permaneceram inconformados com a atitude de Tonhão. O clube lusitano entrou com um pedido de interpelação (advertência judicial ou extrajudicial) junto ao Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paulista.

Manuel Gonçalves Pacheco, então presidente da Portuguesa, queria processar Tonhão na Justiça Comum. Já Alberto Alexandre Oliveira, outro dirigente, disse que o pedido de desculpas do zagueiro não era suficiente.

“As desculpas de Tonhão não adiantam. A coletividade portuguesa exige uma punição que sirva de exemplo e tenho certeza que a Federação não vai deixar barato”, afirmou Alberto na época.

Segundo matéria publicada pela Folha de São Paulo, Francisco Iaúca, antigo diretor de futebol da Portuguesa, era dono de dez padarias.

O dirigente então sugeriu que nenhum dos estabelecimentos recebesse algum produto da Parmalat, patrocinadora do Palmeiras na época.

No entanto, o presidente do sindicato das panificadoras, Francisco Pereira de Souza Filho, era palmeirense, e impediu que o fornecimento fosse interrompido.

“Precisamos separar as coisas. Esse caso tem que ser resolvido na esfera esportiva. Não acredito em boicote das padarias”, afirmou o sindicalista na época.

Atitude de Tonhão causou crise diplomática entre Palmeiras e Portuguesa
Atitude de Tonhão causou crise diplomática entre Palmeiras e Portuguesa. Foto: Imago

Palmeiras veio a público para resolver impasse

O clima entre Palmeiras e Portuguesa era tenso, sendo amenizado somente quando José Carlos Brunoro, diretor-esportivo do Alviverde, veio a público pedir desculpas pelo ocorrido, em uma entrevista coletiva.

Apesar do episódio, Tonhão se manteve no coração da torcida palmeirense pela sua entrega em campo. Reserva de Edinho Baiano em 93, ganhou chances como titular, mas após a chegada de Clebão, voltou ao banco.

Seu jeito excêntrico, e amor ao Palmeiras, sempre serão lembrados com muito carinho pela nação Alviverde, que hoje lamenta sua ausência.

Foto de Lucas de Souza

Lucas de SouzaRedator

Lucas de Souza é jornalista formado pela Universidade São Judas em São Paulo. Possui especialização em Marketing Digital pela Digital House, e passagens pelos sites Futebol na Veia e Futebol Interior.
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