Tino Marcos se despede da reportagem como um craque que, através de seu olhar, também ajudou a moldar nosso imaginário do futebol

A partir de agora, as transmissões da Seleção terão um vazio. Vai ser estranho acompanhar um jogo do Brasil, especialmente em Copas do Mundo, e não ouvir a voz calma chamando “Galvão” à beira do campo. Tino Marcos anunciou nesta terça-feira o fim de uma brilhante trajetória de 35 anos como repórter – como um exemplo de profissão no jornalismo esportivo. Suas participações nas partidas da seleção brasileira, é claro, marcam a carreira que adentrou na casa de tanta gente. No entanto, o talento do jornalista vai muito além da onipresença nas principais competições do esporte nas últimas décadas.
O anúncio de Tino Marcos seria acompanhado por uma série de mensagens carinhosas. Não foram poucos os colegas que prestaram sua homenagem à referência na profissão. Mesmo como uma das faces principais da reportagem esportiva na Rede Globo, Tino passa longe de qualquer vaidade que seu destaque poderia provocar. Muito pelo contrário, a generosidade é uma marca do profissional. Humilde, atencioso e capaz de transmitir um pouco de sua bagagem aos companheiros de coberturas. Tal característica carrega um pouco do olhar sensível, que talvez seja a grande virtude de Tino como repórter.
Afinal, Tino Marcos não é apenas o jornalista sempre atento à beira do campo, pronto a transmitir a informação. Não é apenas o responsável por entradas ao vivo nos telejornais e outras tarefas corriqueiras da cobertura diária no esporte. Tino Marcos é um mestre da grande reportagem, especialmente por esse tato para contar histórias e apresentar o lado humano além da bola. Especialmente por essa sensibilidade para se aproximar dos entrevistados e descobrir quão profundas são suas caminhadas.
É dificílimo encontrar um jornalista com a qualidade de Tino Marcos para produzir textos tão bem escritos. Ouso dizer que, nos últimos 35 anos do jornalismo esportivo brasileiro, não houve outro companheiro de profissão tão talentoso com as palavras nas reportagens televisivas. As imagens, que tantas vezes se sobrepõem àquilo que chega aos ouvidos, acabam se tornando um perfeito complemento às histórias contadas por Tino Marcos através suas crônicas. Linguagem precisa que leva a uma viagem bem mais completa do que aquilo se vê na tela.
Vai ser uma pena não ter mais o olhar de Tino Marcos para construir o imaginário ao redor do esporte brasileiro nos próximos anos. Fica o exemplo profissional a quem segue em frente na carreira, e percebe tamanhas virtudes de diferentes formas. Felizmente, também fica um enorme legado de 35 anos de reportagem – e a expectativa para os especiais já preparados às Olímpiadas. Há uma coleção de trabalhos incríveis de Tino Marcos para apreciarmos, como jornalistas ou telespectadores. Nada melhor do que revermos alguns desses golaços para reverenciarmos o repórter e percebermos que um craque pendurou os microfones. Um craque que, à sua maneira, também ajudou a moldar como sentimos o futebol.
Sabedor de que chegaria, vira e mexe eu pensava nele: o dia em que sairia da Globo.
Ele deveria ser planejado pra, então, ser festejado.
E chegou desse jeitinho mesmo.
Com uma sensação bombando, justo a que eu mais desejava: a gratidão.
Obrigado a tantos, de tantas gerações.— Tino Marcos (@tinomarcosreal) February 2, 2021
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Um dos maiores trabalhos da carreira de Tino Marcos foi realizado às vésperas da Copa do Mundo de 2018, com os perfis dos 23 convocados e de Tite para o Jornal Nacional. São 24 obras-primas do repórter e da equipe que o auxiliou na produção. Fica a sugestão para quem quiser prestar tributo ao talento de Tino Marcos. No Globo Esporte, também foi publicada nesta terça uma entrevista em que Tino explica sua decisão. Fica aqui nosso obrigado a um mestre.