Brasil

Time da NBA dá exemplo a clubes brasileiros ao apoiar jogador gay

Jason Collins, pivô do Washington Wizards, revelou ser homossexual em entrevista à revista Sports Illustrated, que começou a circular nesta segunda-feira nos Estados Unidos. O jogador, de 34 anos, é o primeiro de uma das quatro grandes ligas americanas a assumir a sua homossexualidade. O seu time mostrou completo apoio. Mais do que isso: disse estar orgulhoso do anúncio do pivô, dizendo que ele é um modelo dentro e fora de quadra. Um comportamento completamente diferente do que se vê no futebol. No Brasil, diversos casos de jogadores homossexuais foram falados e, ao contrário do que fez o time da NBA, os clubes brasileiros não só não apoiam os jogadores que querem assumir, como ainda os proíbem de fazê-lo.

“Nós estamos extremamente orgulhosos de Jason e apoiamos sua decisão de viver a sua vida orgulhosamente e abertamente. Ele tem sido um líder dentro e fora de quadra e um companheiro de time fora de série durante sua carreira na NBA. Esses qualidades irão continuar a servir a ele como jogador e como um modelo postivo para outros sobre toda a sua orientação sexual”, diz o comunicado do Washington Wizards. Você pode ler mais sobre essa história e a repercussão que ela teve no Extratime, site parceiro da Trivela que fala sobre esportes americanos.

Essa situação já foi vivida em grandes clubes brasileiros. Diversas histórias de bastidores já disseram que os jogadores estavam dispostos a enfrentar o preconceito e assumir a sua homossexualidade em público. Foram proibidos. Calados por gente que acha que esse seria um motivo de sarro dos rivais, gente conservadora que acha que o futebol não é lugar para homossexuais.

Aquela bobagem que se diz desde quando ainda somos crianças, que futebol não é coisa de mulher (outra grande bobagem, por sinal, como as mulheres mostram já há algum tempo). Como se um homossexual não pudesse ter as qualidades físicas e psicológicas para jogar com heterossexuais. Um pensamento que é desmistificado na história, já que há muitos casos de jogadores gays – infelizmente, por muitas razões, que vão desde a censura dos clubes aos patrocinadores, passando, às vezes, pela opção pessoal de não querer expor a própria vida.

Há casos e mais casos de como o futebol é cruel e homofóbico. . Uma amostra de como o futebol precisa mudar. E precisa mudar logo.

No Brasil, um jogador já esteve tão convencido que era hora de sair do armário que chegou decidir dar uma entrevista contando isso. Antes que isso acontecesse, o jogador foi proibido de falar pelo clube. Censuraram o jogador, o proibiram de tomar uma decisão que é estritamente pessoal. Pior do que isso: o clube perdeu a chance de ser um exemplo, de enfrentar o preconceito de peito aberto. O clube poderia entrar na história como aquele que deu todo o apoio para um jogador do seu elenco assumir a sua homossexualidade abertamente. Fez o contrário. Um ato de vergonha, um ato pequeno. Há outros jogadores que são homossexuais, mas não querem revelar nem mesmo aos melhores amigos, com medo de represálias dos clubes, dos patrocinadores, da própria imprensa.

Um jogador homossexual não tem impedimento algum para ter um desempenho de alto nível no esporte profissional. Qualquer tentativa de desqualificar um jogador apenas por ser homossexual é sim homofobia e deve ser combatido com rigor. Em um meio tão homofóbico como o futebol, alguém precisa dar o primeiro passo. Alguém precisa tomar uma atitude, enfrentar as críticas, as chacotas. Jason Collins foi um esportista corajoso ao revelar a sua homossexualidade. Como disse Ubiratan Leal no Extratime, Jason Collins provavelmente iniciou um processo de atletas que irão sair do armário nos próximos anos. É algo natural, a nossa sociedade evoluiu. Há cada vez menos espaço para comportamento preconceituoso.

O impacto positivo que a revelação de Collins trouxe nos Estados Unidos mostra que o mundo mudou. Estamos mais prontos para enfrentar os imbecis preconceituosos que fazem do esporte um lugar pior, com ofensas racistas, homofóbicas, com preconceito de classe. Temos que enfrentar esse tipo de preconceito. Não podemos aceitar que se ofenda um jogador por ele ser homossexual, assim como não aceitamos que se ofenda um jogador por ele ser negro. E como não deveríamos aceitar chamar o torcedor do outro time de favelado, como um preconceito de classe. São comportamentos que ganham força em estádios de futebol, mas que temos que combater. Em nós mesmos, inclusive.

O mundo está mudando, mas o futebol parece ainda viver no passado. Alguns times já entraram na história por aceitarem jogadores negros em uma época que esse não era um comportamento aceito no meio do futebol. O Vasco tem em sua história essa marca, embora não tenha sido o primeiro a aceitar, talvez tenha sido o clube mais importante a fazer isso em um momento que o futebol era um esporte de brancos e da elite. O Vasco ficou do lado certo da história ao aceitar os negros no início do século XX, enquanto muitos times entraram para a história como racistas. De que lado da história os clubes brasileiros querem estar em relação a aceitar homossexuais no futebol?

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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