Brasil

‘Idiota’: Segunda escancarou distância entre lucidez de Leila e devaneios de Textor

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, esbanjou segurança no Roda Viva, no mesmo dia em que o dirigente do Botafogo elevou patamar de bravatas no Senado Federal

Justo no dia em que John textor esteve no Senado Federal, Leila Pereira esteve no centro do programa Roda Viva, da TV Cultura. A atração, que existe há quatro décadas, é conhecida por colocar seus entrevistados em uma prova de fogo.

No Senado, Textor, dono da Botafogo SAF, também se via em uma situação de pressão. Convocado, o norte-americano foi instado a apresentar provas das manipulações que favoreceram o Palmeiras em 2022 e 2023, conforme ele alega.

O dirigente repetiu o que vem dizendo há mais de um mês. Leu relatórios de uma consultoria de inteligência artificial, cuja conclusão atesta, entre outras questões, que jogadores do São Paulo atuaram de modo a favorecer o Palmeiras na goleada por 5 a 0 do ano passado.

Goste-se ou não das atitudes de Leila no contexto político do Palmeiras, bem como do conflito de interesse com o fato de ela ser patrocinadora e presidente, algumas coisas, não se pode negar.

Conhecer o lugar

Leila exala confiança e segurança como administradora e já entendeu como se impor e como funciona o mundo do futebol. Após alguns deslizes em entrevistas coletivas, parece ter finalmente encontrado também o tom certo para se expressar.

Já Textor vai se tornando uma figura mais caricata, cheio de bravatas, dia após dia. Um personagem com cada vez menos cara de agente de modernização do futebol e mais de bilionário excêntrico. Um alienígena no cenário em que se inseriu. Uma contrapropaganda do modelo das SAF.

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Resposta para tudo

O advento das SAFs trouxe para o futebol brasileiro a possibilidade de um bilionário norte-americano se tornar, de uma hora para outra, o dono de um clube com o peso histórico do Botafogo.

Já Leila teve de cumprir o caminho comum para ser presidente do Palmeiras. Em que pesem as acusações de que seu tempo de associação foi inflado por uma manobra do ex-presidente Mustafá Contursi, ex-aliado de Leila. Bem como a alteração no estatuto do tempo de mandato para três anos – exatamente o tempo que Leila necessitava para conseguir se candidatar à sucessão de Mauricio Galiotte.

Mas só Leila é constantemente questionada, inclusive por torcedores do Alviverde, quanto à legitimidade para estar na cadeira que ocupa.

Leila enfrentou a bancada do Roda Viva por duas horas com tranquilidade, sem passar do ponto, sem ataques baixos a rivais, com resposta para tudo. Exceção feita a Textor, em quem a dirigente bateu com gosto:

– Esse senhor, desculpe a expressão, é um idiota – cravou ela.

– Fica falando, falando, falando e não prova absolutamente nada. É uma aberração. Uma vergonha – disse.

– Eu acho que ele ficou louco por causa disso, por causa dos 4 a 3 do Palmeiras, ele nunca esqueceu. Eu tenho certeza – completou Leila, demonstrando menos deboche do que consternação com a postura de Textor.

Leila Feminista

Conforme a apresentador do Roda Viva Vera Magalhães ressaltou, não faz muito que Leila começou a defender pautas mais feministas. E foi justamente o futebol que abriu os olhos dela para a questão.

– Nunca tinha me passado pela cabeça (a necessidade de inclusão de mulheres nos espaços) porque, para mim (nas minhas empresas), era normal. Aí, eu entrei no futebol… – afirmou ela. – No futebol, eu vi a necessidade de a mulher se impôr. Foi daqui que aflorou – revelou.

– Se tivesse mais mulheres no futebol, o futebol estaria muito melhor. E não tem mais por falta de oportunidade. Esse meio não dá oportunidades às mulheres – afirmou.

Leila foi ainda honesta com relação à falta de mulheres nos quadros diretivos do Palmeiras, e afirmou que vai continuar contratando profissionais sem se importar com o gênero. Mas que vai aumentar a quantidade de mulheres trabalhando no clube, até como forma de formar novas profissionais. Hoje, há 60 no futebol profissional.

– Não tenho como mudar uma história de cento e poucos anos em um estalar de dedos – disse.

“Confiam em mim”

O que menos houve na entrevista de Leila foi futebol. Mas, diante da linha editorial do Roda Viva, isso até já era esperado. De qualquer forma, algumas declarações da presidente valem nota.

– Aprendi a ter jogo de cintura. Pessoas que andam ao meu lado diziam: você tem que ter mais jogo de cintura, as coisas não acontecem por causa de uma pessoa só no futebol – contou ela, quando indagado sobre o que tonha aprendido nesse tempo de Palmeiras.

– Eu fui a única presidente que, no meio do ano passado, não contratou nenhum atleta. O que eu faço é o que o Palmeiras tem capacidade financeira de honrar – relembrou ela, dizendo que manteve todos os jogadores que Abel pediu para ficarem.

– Falo não com uma facilidade incrível. Tive propostas por todos os principais jogadores do Palmeiras. E falei não – afirmou.

– Nosso time está redondinho. Não tem galácticos, esquece. Galácticos são os nossos atletas – disse, indagada sobre a chegada de reforços para o Mundial de 2025.

Leila acha que é justamente seu modo austero de conduzir o clube o que lhe confere credibilidade diante, por exemplo, dos jogadores.

– Eles sabem que eu não tenho medo de absolutamente nada. E que salário, no Palmeiras, não atrasa um dia. É esse excesso de governança é que faz o sucesso do Palmeiras – acredita.

CBF?

Leila não negou nem confirmou que um dia pode vir a ser presidente da CBF. Disse apenas que não retorna mais ao Palmeiras após o término de seu muito provável segundo mandato. E aí, quem sabe, limitou-se a falar.

– A Leila vai passar -, disse ela, sobre o futuro do Palmeiras. E isso é fato. Assim como é fato que a passagem da primeira mulher presidente em 110 anos de história jamais será esquecida no clube. Por vários motivos.

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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