Santos precisa de R$ 18 milhões em cinco dias para evitar ação de ex-presidente
No último mês da gestão Rueda, Peixe foi rebaixado pela primeira vez na sua história
O Santos tem mais um problema financeiro para resolver. E esse precisa de solução em cinco dias. Na próxima segunda-feira (23), vence o empréstimo de R$ 18 milhões que o Peixe fez em 2023, tendo o ex-presidente Andres Rueda como fiador.
Se o valor não for quitado ou o Santos não arrumar um novo fiador, o dinheiro será debitado da conta do ex-mandatário, que, por sua vez, cobra uma atitude da atual diretoria.
Conforme o apurado pela Trivela, o empréstimo foi feito no banco Safra, em dezembro de 2023, dias após o rebaixamento do Peixe à Série B do Campeonato Brasileiro, com o objetivo de pagar salários de jogadores e funcionários, além de fornecedores do clube.
Santos consegue pagar R$ 18 milhões?
Ainda conforme as informações obtidas pela Trivela, o Santos não tem dinheiro para quitar esse empréstimo até segunda-feira. Por isso, estuda a possibilidade de arrumar um novo fiador, que aceite renegociar o valor com o banco.
Inicialmente o desejo da diretoria era de que Rueda fizesse isso. Porém, o ex-presidente está irredutível e aguarda uma resposta da cúpula alvinegra.
Caso o Santos não pague os R$ 18 milhões e não arrume outro fiador, Rueda, após arcar com o valor, deverá buscar o ressarcimento por meio da Justiça.
Triênio de Andres Rueda no Santos
Presidente do Santos entre os anos de 2021 e 2023, Rueda tentou fazer uma administração austera em razão das muitas dificuldades financeiras que o clube já enfrentava.
O plano, porém, não foi bem-sucedido. Nos três anos da sua administração, o Peixe acumulou fracassos e lutas contra os rebaixamentos nos campeonatos paulista e brasileiro.
No último mês da gestão Rueda, o Santos foi derrotado pelo Fortaleza, na Vila Belmiro, por 2 a 1, pela última rodada do Brasileirão, e rebaixado pela primeira vez em sua rica história.
Rueda expulso do quadro associativo do Santos
No último dia 2 de dezembro, os membros do Conselho Deliberativo do Santos votaram pela expulsão definitiva de Rueda do quadro associativo do clube.
Além do ex-presidente, o ex-vice-presidente José Carlos de Oliveira, Dagoberto Oliva e Renato Hagopian, ambos membros do Comitê de Gestão daquela administração, também receberam tal punição.
Assim, todos estão proibidos de voltar à vida política do Peixe.
Rueda e seus pares foram expulsos pela prática das seguintes irregularidades:
- Contrato com a Brax – empresa responsável pelas placas de publicidade da Vila Viva Sorte;
- Antecipação das receitas do Campeonato Paulista;
- Inadimplência do Caso Cueva.
Abaixo, uma explicação maior sobre as três acusações.
Renovação de contrato com a Brax
Conforme o parecer da CIS, que tem o desembargador Oswaldo Magalhães Junior como presidente e o advogado Leandro Weissmann como relator, “o Santos concedeu à empresa BRAX licença exclusiva dos direitos de exploração comercial das Propriedades Comerciais durantes as temporadas de 2025 a 2029”.
“Ou seja, por período posterior ao término da gestão e dos mandatos dos referidos sindicados”.
Ao viabilizar o negócio com a Brax, os ex-dirigentes infringiram o artigo 91 do Estatuto Social do Clube, que diz:
— O Comitê de Gestão não poderá antecipar, nem comprometer as receitas ordinárias ou extraordinárias do Santos por período superior ao do seu mandato em benefício da sua gestão. Tampouco é permitido comprar, vender ou emprestar qualquer direito federativo de atleta profissional nos últimos três meses anteriores ao término de seu mandato, sem prévia autorização do Conselho Deliberativo, mediante parecer favorável do Conselho Fiscal, sendo ineficaz o ato em contrário.
Segundo o parecer da CIS, o acordo entre Santos e BRAX foi sacramentado mediante o pagamento de R$ 73 milhões em cinco parcelas anuais.
Temporada 2025: R$ 12 milhões
Temporada 2026: R$ 13,2 milhões
Temporada 2027: R$ 14,5 milhões
Temporada 2028: R$ 15,9 milhões
Temporada 2029: R$ 17,5 milhões
Porém, “as partes também ajustaram, por outro lado, o recebimento da quantia de R$ 25 milhões, que estipularam como ‘arras e princípio de pagamento' (um sinal de que acordo seria realmente fechado), sendo que R$ 2,5 milhões foram pagos no ato da assinatura do memorando de intenções (18.7.2023), e o saldo a ser quitado no prazo de até 30 dias corridos a contar da assinatura do contrato”.
Antecipação de receitas do Paulistão
Sempre tomando como base o parecer da CIS, “no último trimestre de 2023, o fluxo de caixa do Santos ficou comprometido, razão pela qual, em atendimento ao artigo 91 do Estatuto Social do Clube, solicitaram ao Conselho Deliberativo a antecipação das receitas do Campeonato Paulista de 2024 no valor de R$ 30 milhões”.
Tal solicitação foi aprovada com as seguintes recomendações:
1) Abertura de uma conta-corrente específica para este recurso
2) Os valores só poderão ser usados única e exclusivamente para: 2.1) Pagamento de folha salarial e dos direitos de imagem; 2.2) Pagamento dos impostos da folha de pagamento dos atletas profissionais; 2.3) Pagamento do fundo de garantia dos atletas profissionais.
3) A administração não poderá deixar o pagamento dos impostos da folha e do fundo de garantia dos atletas profissionais em atraso até a data de 31/12/2023.
4) Os valores de impostos e de FGTS dos atletas profissionais deverão estar provisionados nesta conta para o pagamento destes encargos a vencerem em janeiro de 2024.
Ocorre que os R$ 30 milhões não foram suficientes para honrar todos os compromissos assinados e foi necessário buscar novos recursos no funding – uma espécie de caixa criado pela gestão Rueda no banco Safra em que santistas podiam emprestar dinheiro ao clube e, em troca, recebiam o valor emprestado com rendimento igual ou até maior.
Ao fazerem a antecipação das receitas do Campeonato Paulista de 2024 e buscarem investimentos com o funding para o pagamento de despesas, Rueda e seus aliados, de acordo com o parecer da CIS, infringiram, mais uma vez, o artigo 91 do estatuto.
Dívida do Santos com o Krasnodar por Cueva
Ainda segundo o parecer da CIS, em reunião do Comitê de Gestão realizada em 11 de junho de 2021, o ex-integrante do órgão Walter Schalka apresentou uma proposta segundo o Krasnodar, da Rússia, por conta do pagamento do peruano Cueva.
Na oportunidade, o ex-dirigente propôs “o parcelamento de 6,5 milhões de dólares, sem qualquer cobrança de multa ou juros, com início de pagamento em julho de 2021 e quitação até dezembro de 2023, ajustando-se naquela oportunidade, expressamente, entre os sindicados, o seguinte: caso o Santos recebesse alguma compensação do Pachuca, do México, contra o qual temos um processo em andamento na Fifa pelo mesmo atleta, o valor deverá ser transferido ao Krasnodar para acelerar o pagamento da dívida”.
À época, Rueda e todos os seus aliados aprovaram a proposta de Schalka.
Mas, conforme o parecer da CIS, “muito embora o Santos tenha recebido, em 14 de março de 2023, a quantia de aproximadamente R$ 24 milhões do Pachuca, os próprios sindicados admitem nos autos que em razão de juízos de conveniência e oportunidade próprias da gestão, tomaram a decisão de não pagar o clube russo, priorizando outas obrigações“.
Sem receber, o Krasnodar ingressou uma ação na Fifa, que, por sua vez, aplicou um transfer ban contra o Santos em 26 de março de 2024.