Eliminado pelo Corinthians, o que falta para o tão organizado Bragantino ganhar asas?
A pegada empresarial da Red Bull ainda carece da paixão que move os clubes tradicionais em busca de conquistas?
Todo trabalhador passa por esse momento em sua vida profissional. Aquele dia em que o chefe afirma que é preciso vestir a camisa da empresa. Fico imaginando se essa situação acontece no dia-a-dia do time de futebol do Red Bull Bragantino.
O projeto de um time de futebol que é de uma empresa ainda soa estranho em um país que leva a paixão pelo futebol a extremos inacreditáveis como matar numa briga de torcidas. A empresa que se consagrou com uma bebida energética e investe pesado em esportes radicais escolheu o Brasil como base de seu projeto de futebol na América Latina. Atletas que se destacarem no continente podem ser levados aos times da Alemanha ou da Áustria para um eventual ganho futuro numa revenda para potências europeias.
Como o projeto de chegada à Série A do Campeonato Brasileiro estava andando devagar, a Red Bull decidiu queimar etapas e comprou o tradicional Clube Atlético Bragantino, do interior paulista, que pertencia à família Chedid. Antes, tentou comprar o Oeste, mas sem sucesso. O que a empresa fez foi comprar uma vaga na Série B, competição na qual teria condição orçamentária privilegiada para antecipar a chegada à divisão principal. A jogada deu certo.
Falta paixão ao Red Bull Bragantino?
Dono de uma das melhores e mais modernas estruturas físicas do futebol brasileiro, com estádio próprio, fornecedor internacional de material esportivo, o Red Bull conseguiu seduzir a torcida do antigo Bragantino ao manter o nome do clube. O estádio Nabi Abi Chedid recebe bons públicos para o tamanho do clube e da cidade.
O problema é que o Red Bull não ganha asas, com o perdão do trocadilho.
Será possível vestir a camisa de um time que é uma empresa? Ou a frieza característica das decisões no mundo dos negócios congela o time em momentos decisivos?
Para quem vê de fora, a impressão que fica é que ainda falta ao projeto brasileiro de futebol da Red Bull a chama da paixão.
Resultados em planilhas não seduzem como uma taça voando nos braços dos jogadores em frente a uma arquibancada lotada.
Metas que não são alcançadas podem provocar demissões ou perda de bônus, mas será que provocam a dor de uma derrota em um time forjado na paixão de sua torcida?
Resultados esportivos ou econômicos?
Administração profissional e regime empresarial adaptados ao mundo do esporte competitivo são ótimas ideias. A questão está em saber até que ponto a adaptação envolve a ambição que transforma times em gigantes.
Ainda não está claro se o projeto esportivo do Red Bull Bragantino está baseado mais em resultados esportivos que econômicos. Fechar o ano com balanço positivo é uma vitória que alegra mais os executivos do que uma conquista dentro de campo com obtenção do ponto de equilíbrio financeiro?
O que dirá se o Red Bull voará alto com o nome do Bragantino é o nível de dor que derrotas e eliminações provocarão. Além da dose de analgésico aplicada ao tratamento.