Os 60 anos do Morumbi: Como os jornais e revistas da época narraram a inauguração do estádio

O Morumbi não é apenas a casa do São Paulo. O estádio é o orgulho do clube e da torcida, que participou ativamente de sua construção. Há exatos 60 anos, em 2 de outubro de 1960, o palco tricolor foi inaugurado. As obras ainda não estava completas. Ainda assim, com arquibancadas cheias e recorde de arrecadação, os são-paulinos viveram um domingo inesquecível. Peixinho anotou o gol que garantiu a vitória por 1 a 0 sobre o Sporting e abriu a história de uma das praças esportivas mais importantes do Brasil – que, afinal, abrigaria grandes momentos de todos os principais clubes paulistas.
A partir de sua fundação, o São Paulo rodou por diferentes estádios. Começou sua história na Chácara da Floresta, às margens do Tietê. Passou também pela Mooca, até marcar os primórdios do Pacaembu com conquistas importantes e o talento de Leônidas da Silva. Apesar disso, o desejo de ter uma casa própria seguia entre os são-paulinos. O clube namorou com diferentes regiões da capital – do Canindé ao Sumaré, do Ibirapuera às margens do Pinheiros. Mas foi a partir da década de 1950 que, enfim, o Morumbi se tornaria a terra prometida dos tricolores. Um loteamento seria construído na região, o Jardim Leonor, e o estádio seria chamariz aos novos moradores de uma área então considerada afastada da cidade.
O São Paulo adquiriu o terreno do Morumbi antes mesmo de ter um projeto concreto para o estádio. Logo depois, as ideias não demoraram a tomar forma, com a escolha dos responsáveis – o escritório Vilanova Artigas. A preparação do solo começou em 1953. Na sequência, o clube lançou um projeto de venda de cadeiras cativas, que se tornou base ao financiamento das obras. Enquanto as arquibancadas eram erguidas, em 1957, o gramado já recebeu um jogo de inauguração contra um combinado carioca. De qualquer maneira, os três anos seguintes seriam de trabalhos intensos, até que o início da história na nova casa acontecesse em outubro de 1960.
Naquele momento, o Morumbi já tinha quase metade dos anéis das arquibancadas construídos. Também levava seu nome oficial, Cícero Pompeu de Toledo, uma homenagem feita ainda em vida para o presidente que idealizou o projeto e iniciou as obras. O dirigente, à frente do clube em conquistas importantes a partir dos anos 1940 e reeleito múltiplas vezes, faleceu um ano antes da inauguração. Mas sua influência àquela história não seria negada pelos tricolores, inclusive com a presença de um busto com sua imagem no local.
O Sporting seria o convidado de honra à primeira partida. A solenidade contou com casa cheia e a presença de autoridades. Treinado por Flávio Costa, o São Paulo alinhava alguns ídolos históricos, como Poy, Gino Orlando e Canhoteiro – embora desfalcado por De Sordi e Dino Sani. E o herói daquela tarde chuvosa seria o jovem Peixinho. Aos 12 minutos de partida, o camisa 7 de 20 anos aproveitou o cruzamento à meia altura de Jonas para mergulhar na área e emendar a cabeçada rumo às redes. Não apenas inaugurou a história do Morumbi, como também batizou a jogada com sua alcunha – um apelido herdado de Peixe, seu pai, também ex-jogador. O placar terminaria com a vitória por 1 a 0, diante de quase 65 mil espectadores.
A abertura do Morumbi, aliás, não se encerrou naquele jogo. O São Paulo também tinha marcado um amistoso contra o Nacional de Montevidéu e enfrentou os uruguaios no domingo seguinte. A festa teria o apoio, inclusive, dos rivais paulistas. Corinthians, Palmeiras e Santos cederam jogadores ao Tricolor, enquanto a Portuguesa só não participou do combinado também porque tinha compromisso na data. Assim, os são-paulinos turbinaram sua escalação com os alviverdes Julinho Botelho e Djalma Santos, bem como com o corintiano Almir Pernambuquinho. Olavo deveria vir do Parque São Jorge, enquanto o Santos cedeu ninguém menos que Pelé e Mauro (este, antigo ídolo tricolor), mas o trio se tornou desfalque de última hora por lesões.
Não foram as ausências, porém, que impediram o São Paulo de registrar mais uma vitória em seu novo estádio. E desta vez, ainda mais categórica, com o triunfo por 3 a 0 sobre o Nacional. Canhoteiro e Gino Orlando, duas vezes, fizeram os gols são-paulinos na ocasião. Naquela mesma data, ocorreu ainda uma partida com os veteranos do chamado Rolo Compressor, o time tricolor que dominou o Paulistão em meados dos anos 1940. Enfrentaram antigos oponentes dos outros clubes paulistas da época. Rui, Noronha, Sastre, Friaça, Neco, Oberdan, Luizinho e Araken foram algumas das lendas no gramado. O combinado paulista venceu por 3 a 0.
Com a compra da parcela restante do terreno e um novo projeto para finalizar o financiamento, o São Paulo concentrou seus esforços em terminar o Morumbi durante a década de 1960. A conclusão das obras aconteceu em fins de 1969, para a nova inauguração em janeiro de 1970, em amistoso contra o Porto. Quase 150 mil torcedores viram a partida, que terminou com empate por 1 a 1. Aquele ano também seria um marco da história vitoriosa no Morumbi: em setembro, os são-paulinos conquistaram o Paulistão, encerrando o jejum que perdurava em 1957. A partir de então, os títulos voltariam a ser abundantes, marcando o início de uma era em que o estádio se transformou em símbolo imponente da força tricolor.
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Abaixo, para recontar a inauguração, reunimos recortes de vários jornais e revistas da época, que narravam o evento. Clique com o botão direito do mouse para abrir em nova guia e ampliar. Também recomendamos fortemente o livro oficial “São Paulo Futebol Clube – 90 Anos: A Construção do Morumbi – parte I (1944 a 1960)”, assinado pelo historiador Michael Serra. A publicação, da qual se derivou boa parte do texto acima, está disponível gratuitamente online.
















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