Os 50 anos de Evair, craque de várias gerações de palmeirenses

Dependendo da idade, o palmeirense tem uma referência diferente. Os que foram testemunhas da transformação do Palestra Itália em Palmeiras veneram Oberdan Cattani. Os saudosos da Academia, Ademir da Guia. Quem decorou a narração de José Silvério naquele pênalti de Marcelinho, São Marcos. Os que contaram os passos que ele deu antes de chutar a bola na final de 1993, Evair.
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Todos esses são personagens fazem parte de qualquer lista de ídolos do Palmeiras, mas cada geração tem o seu herói, de acordo com o título que mais lhe foi importante. Evair, completando 50 anos neste sábado, conseguiu transcender o Paulistão do fim da fila. Dialogou com os torcedores mais velhos e também com os que ainda eram crianças no começo da sua década de ouro.
O palmeirense dos anos 1960 e 1970 valoriza acima de tudo a classe e a técnica. Naquele time da Parmalat, ninguém tinha tanta quanto Evair. Não era velocista, forte ou corpulento. Tinha passos lentos e inteligentes, movimentos simples e eficientes. Era um finalizador nato, daqueles que transformam o passe torto em um linear e perfeito gol. Oportunista. Depois de décadas torcendo para pessoas que maltratavam a bola, foi um alento ter alguém que lembrava os tempos de Ademir e companhia.
Quem era criança ou adolescente em 1999 idolatra Marcos. Era muito jovem para lembrar com clareza a primeira parte da Era Parmalat e, bem, depois dela não teve muita gente digna de admiração. Também tem carinho por Evair, que fez questão de voltar para mais um ano no Palmeiras, desta vez vestindo outra camisa. Era o número 17, não mais o 9, mais meia que matador, mais reserva que titular. Mas estrela é um negócio complicado? abriu o placar (novamente de pênalti) no segundo jogo contra o Deportivo Cali pela final da Libertadores. Fez um dos gols do maior título da história do clube.
Para a geração que aprendeu a gostar de futebol durante aqueles 17 anos sem títulos, os que cresceram nos anos 1980 vendo Corinthians e São Paulo festejar, nem se fala. Evair é o ídolo máximo. Representa a libertação do período obscuro da fila e a transição para as conquistas da Parmalat. Porque estava antes do esquadrão do leite começar a ser formado e foi o líder daquele time estrelado. E porque, lógico, deu aqueles oito passos para a glória no jogo que lembrou a todos o quanto o Palmeiras é grande.
Com 18 anos de carreira, cabeça excepcional e técnica incontestável, Evair foi reconhecido por mais clubes. O palmeirense não é egoísta e o empresta para a torcida do Guarani, por exemplo, pelo qual foi vice-artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1986 apenas porque Careca marcou no último segundo do torneio e o superou. Ou do Vasco, campeão de 1997. Estava naquele desastre perpetuado por Javier Castrilli na semifinal do Paulistão do ano seguinte pela Portuguesa e também teve uma boa passagem pela Atalanta.
Mas esses são apenas sub-enredos no roteiro da sua carreira. A trama principal foi desenvolvida a partir de 1991, quando chegou ao Palmeiras, com o clímax em 1993 e um prólogo seis anos depois. Ninguém o ama tanto quanto o torcedor alviverde que lotava as arquibancadas de concreto do Palestra Itália para avisar os adversários: aquele rapaz de sorriso discreto e jeito tímido, barba feita e cabelo parecido com uma peruca; o camisa 9, sabe? É um terror. Tome cuidado.