O roteiro parecia cruelmente repetido, mas a aflição terminou em desafogo e o Brasil avançou nos penais

O filme inescapavelmente voltava à cabeça. As duas últimas eliminações do Brasil nos mata-matas da Copa América aconteceram contra o Paraguai, pelas quartas de final, nos pênaltis. O roteiro tratou de ser cruelmente dramático no tempo normal. A Seleção dominou o jogo e pressionou a Albirroja, que trabalhou muitíssimo bem na defesa. Os brasileiros tinham dificuldades para finalizar e até viram os paraguaios criarem a melhor chance do primeiro tempo, barrados por Alisson. Já a segunda etapa, condicionada pela expulsão de Balbuena, pendeu toda à Canarinho. O time de Tite insistiu, sufocou, tentou. Estava complicado para destravar a área guarani. E quando as brechas surgiam, Gatito Fernández se agigantava. Até a trave salvou, arrastando outra vez o final aos pênaltis.
Com o 0 a 0 ao longo dos 90 minutos, sem prorrogação na Copa América, a definição ficaria à marca da cal. Desta vez, ao menos, o Brasil foi competente e contou com um grande goleiro. Alisson espalmou logo o primeiro chute do Paraguai, o que tirou um fardo de seus companheiros. Além disso, os batedores não temeram um pegador de penais como Gatito. O único a perder foi Roberto Firmino, para fora. Derlis González compensou, também errando o alvo por muito. Ao final, Gabriel Jesus teve muita tranquilidade para dar o triunfo por 4 a 3. Permitiu a festa na Arena do Grêmio. A Seleção passa às semifinais e pegará Argentina ou Venezuela no Mineirão, em duelo marcado para a próxima terça-feira, às 21h30.
Escalações
O Brasil manteve praticamente a mesma escalação que goleou o Peru. A única novidade era a entrada de Allan, no lugar do suspenso Casemiro. A trinca de frente continuava com Gabriel Jesus na direita e Everton Cebolinha na esquerda, além de Roberto Firmino centralizado. Já o Paraguai entrou com uma formação mais resguardada, privilegiando a velocidade. Derlis González virou o homem de referência na frente. O lateral Santiago Arzamendia passou a ocupar o lado esquerdo no meio-campo. Já na zaga, uma dupla conhecida do futebol brasileiro, composta por Fabián Balbuena e Gustavo Gómez.
Alguns chutes do Brasil (e isso já era muito)
Embora o Paraguai tenha arriscado primeiro, o Brasil logo tomou conta do jogo durante os minutos iniciais. Empurrou as linhas de marcação dos paraguaios em direção à área e chegou a arriscar alguns chutes de média distância. Gatito Fernández não teve problemas para pegar os arremates de Roberto Firmino e Éverton Cebolinha. Faltava aproveitar um pouco melhor os lados do campo, para tentar abrir a defesa adversária. Mesmo assim, a Seleção fazia um intenso trabalho no campo de ataque, especialmente ao apertar a saída de bola da Albirroja e recuperar a posse rapidamente.
Muita bola e pouca qualidade
O Brasil chegou a se aproximar dos 75% de posse de bola neste momento. Porém, logo esse domínio se tornou improdutivo. Os meio-campistas não se aproximavam o tanto que deveriam, os pontas não faziam muitas jogadas de linha de fundo e Firmino terminava encaixotado pela marcação. Outra vez, o respiro dependia da participação dos laterais, armando o jogo. Obviamente, havia muita solidez do Paraguai na marcação, preenchendo os espaços e chegando junto nas divididas. Só que os guaranis não faziam muito na frente, tentando emendar os ataques rápidos com Miguel Almirón, que não tinham continuidade.
Alisson salva
Era um jogo de pouquíssimas emoções. Quando Firmino ia conseguindo escapar dentro da área, Gustavo Gómez fez uma proteção perfeita para Gatito ficar com a bola. O Paraguai jogava por uma bola. E ela quase veio aos 28 minutos, na melhor chance do primeiro tempo. Hernán Pérez cruzou e Derlis González recebeu sozinho pelo lado direito do ataque. Pôde dominar e fuzilar rente à trave. Alisson fez uma ótima defesa, espalmando para fora. A Albirroja parecia sentir o momento e começou a se soltar mais a partir de então, equilibrando a partida.
Cadê o chute?
O Brasil encontrava dificuldades para sair jogando ao campo de ataque e só voltou a incomodar nos minutos finais do primeiro tempo. Foi quando justamente exibiu um pouco mais de amplitude, aproveitando os espaços pelos lados. Cebolinha fez um cruzamento que a zaga afastou, enquanto Coutinho chutaria em cima de Gatito logo depois. A jogada que mais deslumbrou veio já nos acréscimos. Everton passou no meio de dois, mas o passe não foi bom e a zaga logo trancou a porta para Daniel Alves. Era uma Seleção distante de empolgar.
Um segundo tempo mais animado (e dramático)
Com cartão amarelo, Filipe Luís deu lugar a Alex Sandro na volta do intervalo. E o Brasil ao menos veio com mais pressa ao segundo tempo, tentando arrematar. Coutinho deu um chute desequilibrado, de fácil defesa para Gatito. Depois, em uma saída errada dos paraguaios, Arthur teria espaço para avançar e, depois do passe bloqueado, mandou por cima. O grande lance veio aos sete minutos. Gabriel Jesus fez fila e descolou uma ótima enfiada para Roberto Firmino. O centroavante ia saindo de cara para o gol, mas sofreu falta de Fabián Balbuena. O árbitro Roberto Tobar inicialmente apontou o pênalti, mas reviu o lance no monitor e remarcou a falta fora da área. Como Firmino ia em direção ao gol, Balbuena recebeu o vermelho. Na cobrança, Daniel Alves mandou uma bomba rasteira e Gatito desviou para escanteio.
O Brasil vai para cima
Berizzo tratou de fechar ainda mais o Paraguai. Recompôs a zaga com Bruno Valdez, tirando Arzamendia. O domínio do Brasil, que já era enorme, se tornou sufocante. Mas com o mesmo problema da letargia e do receio para chutar. A equipe de Tite rodava e rodava a bola diante da barreira de handebol à frente da área paraguaia, sem penetração. Os jogadores brasileiros pareciam sempre querer dar um toque a mais antes de soltar o pé e a zaga travava. Uma chance real só veio aos 24. Mais uma vez, Everton bagunçou a defesa pela esquerda e cruzou. Ninguém completou na área, mas Arthur pegou a sobra na meia-lua e bateu para Gatito espalmar. Foi quando Tite finalmente mexeu. Entrou Willian, no lugar de Allan. Ao menos alguém que chutasse bem e ocupasse mais a ponta.
A pressa bate
Estava claro que o jogo, de novo, dependia de Everton Cebolinha. O ponta era o único que oferecia algo diferente para quebrar a marcação. Aos 28, uma sequência de dribles deixou dois marcadores tontos e abriu a fresta ao cruzamento. Roberto Firmino não cabeceou em cheio e, na sobra, Gabriel Jesus bateu para fora. O Brasil estava aceso e ia para cima. Parecia faltar pouco ao gol. Aos 31, em mais um bom avanço, Everton chutou no canto e Piris desviou para fora. A torcida vinha junto, empurrando o time. Enquanto isso, Berizzo só reforçava a sua muralha, com as entradas dos defensivos Rodrigo Rojas e Juan Escobar.
Espaaaaaaaalma, Gatito! E na trave!
O regulamento da Copa América, sem prorrogação, explicava ainda mais as posturas dos times. A última cartada de Tite veio aos 38 minutos, com Lucas Paquetá no lugar de Daniel Alves. O Paraguai até passou do meio-campo neste momento, ameaçando em uma falta cobrada na área e em um lançamento a Almirón. Todavia, era um monólogo brasileiro. Aos 43, outro bom lance da Seleção terminou frustrado por Gatito Fernández. Falta cobrada por Coutinho na esquerda e Alex Sandro cabeceou. O goleiro paraguaio voou, espalmando o tiro de maneira espetacular. Como se não bastasse, logo na sequência Willian carimbou o poste. Tabelou e partiu para dentro, como manda a cartilha, mas o chute caprichado beijou o pé da trave. O ponta também era uma importante alternativa ao jogo de Tite, saindo bem do banco.
Os acréscimos, sem solução
Diante das longas paralisações, o árbitro deu sete minutos de acréscimos. O Brasil tentava principalmente nas bolas cruzadas. Mas também se expunha aos contra-ataques. O Paraguai levou muito perigo aos 47, quando Escobar invadiu a área, mas bateu prensado, ganhando escanteio aos guaranis. De qualquer maneira, os brasileiros foram responsáveis pelos últimos suspiros. Nas principais oportunidades, a zaga conseguiu travar os chutes de Éverton e Coutinho. Como em 2011 e 2015, seria preciso encarar os pênaltis.
Sofrido até nos pênaltis
O Paraguai começou cobrando. Gustavo Gómez, reconhecido por sua qualidade na marca da cal, partiu para o chute. Mandou um tiro muito forte à sua direita e Alisson acertou o canto, realizando uma defesaça. Logo depois, Willian iniciou a contagem do Brasil. E converteu, deslocando Gatito. Almirón deu sequência ao Paraguai, balançando as redes, assim como fez Marquinhos, mesmo com Gatito tocando seu arremate. Alisson até esperou e acertou o lado na batida de Valdez, sem alcançar o chute forte. No terceiro penal do Brasil, Coutinho mandou na lateral da rede, rasteiro, suficiente para que Gatito não chegasse. Alisson de novo se aproximou de pegar a cobrança de Rodrigo Rojas, mas os braços esticados não alcançaram a bola no alto. Até que Roberto Firmino colocasse tudo em pé de igualdade, mandando ao lado da trave. Sua sorte é que Derlis González, que parara em Armani contra a Argentina, desta vez mudou de lado e errou o alvo, mandando longe do poste. Por fim, Gabriel Jesus fez o dele. Até com paradinha, exibiu uma calma espantosa para um lance tão importante. Gatito nem saiu na foto.
O alívio era possível, finalmente. O Brasil agora aguarda o vencedor de Argentina x Venezuela nas semifinais.
Ficha técnica
Brasil 0x0 Paraguai (nos pênaltis, 4×3 para o Brasil)
Local: Arena do Grêmio, em Porto Alegre
Árbitro: Roberto Tobar (CHI)
Gols: nenhum no tempo normal
Cartões amarelos: Santiago Arzamendia, Iván Piris, Júnior Alonso (Paraguai), Filipe Luís, Roberto Firmino, Arthur (Brasil)
Cartões vermelhos: Fabián Balbuena (PAR)
Brasil: Alisson, Daniel Alves (Lucas Paquetá), Thiago Silva, Marquinhos, Filipe Luís (Alex Sandro); Allan (Willian), Arthur, Philippe Coutinho; Gabriel Jesus, Roberto Firmino, Everton. Técnico: Tite.
Paraguai: Gatito Fernández, Iván Piriz, Gustavo Gómez, Fabián Balbuena, Junior Alonso; Hernán Pérez (Rodrigo Rojas), Richard Sánchez (Juan Escobar), Celso Ortíz, Santiago Arzamendia (Bruno Valdez); Miguel Almirón, Derlis González. Técnico: Eduardo Berizzo.