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O Botafogo luta, vibra, contagia e segue em frente na Libertadores com uma intensidade impressionante

Anda meio difícil não se empolgar com esta campanha do Botafogo na Libertadores. Até quem não é botafoguense tem dado o seu braço a torcer. E principalmente os alvinegros, naturalmente céticos por “aquelas coisas que só acontecem como o Botafogo”, estão com todo o direito de afastar a nuvem cinza dos pensamentos. Os dedos se descruzam e as figas se desfazem para, com os punhos cerrados, vibrarem pelo time de Jair Ventura. A intensidade e a vontade dos cariocas ao longo do torneio continental são contagiantes. Proporcionaram mais uma noite de alucinação nesta quinta, no Estádio Nilton Santos. Os botafoguenses já tinham aberto o caminho para a classificação com a vitória em Montevidéu, e facilitaram ainda mais a sua vida com dois gols logo nos cinco primeiros minutos do reencontro no Rio de Janeiro. Não foi a vantagem, porém, que minguou a garra dos anfitriões. Foram 90 minutos em alta voltagem, como manda a cartilha deste Botafogo, para eliminar o Nacional com os 2 a 0 no placar e confirmar a classificação às quartas de final, encarando o Grêmio na próxima etapa.

Era impossível que o Botafogo não entrasse ligado na partida. Afinal, como tem sido praxe nesta Libertadores, a torcida alvinegra proporcionou uma atmosfera fantástica no Estádio Nilton Santos. As arquibancadas estavam lotadas e, mais do que isso, se incendiaram com a entrada dos times em campo. Um escudo enorme se ergueu em um dos setores, com a mensagem ‘Vamos Botafogo'. Pois os comandados de Jair Ventura não demorariam a corresponder dentro de campo os 40 mil presentes.

Logo em seu primeiro ataque, o Botafogo já abriu o placar. Bruno Silva ratificou a excelente fase com um belíssimo gol de cabeça. João Paulo cobrou escanteio na medida e o meio-campista saltou soberano para testar com firmeza. Não foi isso, de qualquer forma, que diminuiu o ritmo dos alvinegros na partida. E o segundo gol, aos cinco, seria um retrato fiel da identidade e da mentalidade da equipe de Jair Ventura. Após um péssimo recuo de Agustín Rogel, Rodrigo Pimpão atacou a bola. Deu um carrinho e, se antecipando ao goleiro Esteban Conde, estufou as redes. Um símbolo da raça que rege os botafoguenses. Que empolga tanto, e que qualquer torcedor gostaria de ver em seu time sempre.

Neste momento, o Botafogo já tinha três gols de vantagem no placar agregado. Era hora de executar o seu plano de jogo. Enquanto o Nacional partia para cima, tentando arrancar algum tento que pudesse ressuscitá-lo, os alvinegros esperavam a brecha para atacar. Assim, os cariocas continuavam criando os principais lances de perigo. Roger obrigou grande defesa de Conde, enquanto viu seu passe açucarado para Rodrigo Lindoso ser salvo por Diego Polenta, que ainda rasgaria outra ótima bola destinada ao centroavante. Do outro lado, o Nacional era impotente. Mal conseguia encontrar espaços na área botafoguense, insistindo nas bolas alçadas e nos chutes de média distância. Poucas foram as chances que realmente assustaram.

Durante o segundo tempo, o cenário ficou ainda mais evidente. O Nacional tentava achar uma brecha, enquanto o Botafogo entregava o seu máximo a cada bola. Já nas arquibancadas, a torcida ditava o ritmo eletrizante do confronto, por mais que as oportunidades claras fossem um tanto quanto escassas. Gatito Fernández começou a aparecer, com duas grandes defesas antes dos 25 minutos. E os defensores botafoguenses apareciam ligadíssimos, fechando a porta aos uruguaios, bloqueando diversos chutes.

Na reta final da partida, com a entrada de Guilherme, o Botafogo poderia muito bem ter anotado o terceiro em um contra-ataque. Em três oportunidades o time avançou em igualdade numérica, mas o Nacional conseguia se segurar. Além disso, Lindoso ainda deu uma cabeçada perigosíssima, que passou ao lado da meta de Conde. Quando o milagre já parecia impossível ao Bolso, os uruguaios apelaram. Polenta e Rodrigo Aguirre foram expulsos por entradas duras, enquanto uma confusão entre os jogadores também resultou no vermelho para Victor Luís e Sebastián Rodríguez. Classificados, os alvinegros não precisavam entrar na pilha. E os times voltaram a se estranhar ao apito final, enquanto os torcedores visitantes depredavam as cadeiras. Cenas que não puderam, entretanto, estragar a merecida festa no Estádio Nilton Santos.

A celebração que se seguiu simbolizou bastante a comunhão entre o Botafogo e a sua torcida. Os jogadores foram até a beira das arquibancadas para comemorar. Empunharam as bandeiras e começaram a embalar a galera. É um time que faz do coletivo a sua grande força. As limitações de fato existem e não há grandes estrelas no elenco, mas a união agiganta a equipe. A noção do todo prepondera a cada etapa superada. Como resultado, os alvinegros já derrubaram cinco ex-campeões da Libertadores em sua trajetória.

Nas quartas de final, Grêmio e Botafogo tendem a fazer o melhor confronto da competição até este momento. São dois times, cada um a sua maneira, prazerosos de se assistir. E que justamente por este choque de filosofias prometem partidas imprevisíveis – quem sabe, também inesquecíveis. Por tudo o que ambos vêm fazendo nos últimos meses, mereciam se enfrentar em fases mais avançadas. Agora, todavia, decidem as suas vidas sabendo que o sobrevivente seguirá ainda mais forte na luta pelo título. Os botafoguenses sabem que a sua vibração precisará vir redobrada para continuar escrevendo esta grande história na competição continental.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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