Na bola e no coração, o Grêmio se impôs num desafio com DNA de Libertadores
O Grêmio encarou uma verdadeira noite de Copa Libertadores da América. Muitas eram as condições adversas contra os tricolores nesta terça, e não somente relativas ao jogo. Precisaram superar o campo pesado e encharcado, na noite fria e chuvosa em Mendoza. Precisaram suportar um adversário que não economizou na pancada e tentou arrancar o resultado incessantemente durante os minutos finais. Precisaram, sobretudo, fazer valer a sua clara superioridade técnica, em um duelo no qual apenas isso não seria suficiente. Assim, com qualidade e também com coração, os gremistas venceram o desafio. Conquistaram um triunfo valiosíssimo no primeiro encontro das oitavas de final, dentro do Estádio Malvinas Argentinas. Graças ao gol-relâmpago de Ramiro, bateram o Godoy Cruz por 1 a 0 e voltam para o reencontro na Arena com uma excelente vantagem. Voltam certamente mais tarimbados para casa, em um jogo que proporcionou o batismo de fogo nos mata-matas da Libertadores.
Energias renovadas após Renato Gaúcho poupar seus titulares contra o Palmeiras no final de semana, o Grêmio entrou em campo para decidir a partida rapidamente. E ninguém imaginava que seria tão instantâneo. Logo no primeiro minuto, Kannemann cobrou uma falta em direção ao ataque. Lucas Barrios desviou e Pedro Rocha avançou nas costas da defesa. Cruzou para Ramiro aparecer na segunda trave e balançar as redes, já deixando a partida nas mãos dos tricolores. Nunca um visitante fez um gol tão rápido nos mata-matas de Libertadores. Primazia de um time melhor e mais engrenado que seus adversários.
Os primeiros minutos, aliás, foram todos do Grêmio. Os visitantes faziam de Mendoza a sua casa, trocando passes e buscando a movimentação de seus homens de frente. Incomodavam bastante a defesa do Godoy Cruz, por mais que não conseguissem acertar o passe final. Luan, especialmente, era quem mais infernizava a defesa argentina, combinando inteligência e habilidade para abrir espaços. Diante da superioridade, os bodegueros começaram a descer o sarrafo. Com um juiz um tanto quanto caseiro, não economizavam nas entradas duras, o que deixou o jogo tenso. E o segundo gol não saiu aos 20 minutos por um triz, em pancada de Edílson cobrando falta que explodiu no travessão.
O Godoy Cruz começou a equilibrar um pouco mais o jogo a partir de então. Procurava os espaços principalmente pelas pontas, enquanto a marcação gremista pela faixa central do campo era ótima. Apenas com um erro é que os argentinos realmente ameaçaram, mas Marcelo Grohe salvou fazendo uma grande defesa com o pé. Os atritos entre os times se tornavam constantes, com entradas duras dos anfitriões e os visitantes gastando tempo. Por mais que os mendocinos tentassem se impor no ataque, o Grêmio era bem mais perigoso e Barrios ainda obrigaria uma grande defesa do goleiro Rodrigo Rey aos 40. Os longos acréscimos, de qualquer maneira, só serviram para acirrar os ânimos.
Para o segundo tempo, o Grêmio veio com uma postura mais resguardada. A chuva castigava o campo e impossibilitava algumas das virtudes do time de Renato Gaúcho. O jeito era recuar um pouco mais e buscar um contragolpe certeiro. Só que isso também chamava o Godoy Cruz para o campo de ataque. Foi quando o sistema defensivo do Grêmio começou a se sobressair. Pedro Geromel e Walter Kannemann, mais uma vez, se combinavam de maneira praticamente perfeita. Nem sempre foram infalíveis. Mas, quando isso aconteceu, Marcelo Grohe estava em noite inspiradíssima.
Renato tentou injetar sangue novo ao ataque com as entradas de Everton e Fernandinho, mas as bolas longas não davam muitos resultados neste momento. Luan, quando aparecia, sofria com a brutalidade dos marcadores. Já o Godoy Cruz insistia principalmente nos cruzamentos, com a defesa tricolor prevalecendo. Aos 32, enfim, Santiago García teve espaço para cabecear. Parou em um verdadeiro milagre de Grohe, espalmando para escanteio. E na sequência, quando a bagunça prevaleceu na defesa, os argentinos desperdiçaram a chance. O Grêmio ainda buscaria o segundo, com Luan levando perigo em uma rara chance. De qualquer forma, nos minutos derradeiros, a prioridade dos visitantes era manter o placar. Com muita garra, conseguiram completar a missão. Ao apito final, os bodegueros tentaram tirar satisfação e arrumar confusão com os brasileiros, mas a faísca não teve consequências maiores.
A classificação está nas mãos do Grêmio. Com um gramado favorável e apoiado por sua torcida, o Tricolor terá condições ainda melhores para impor a sua qualidade na Arena. Obviamente, nem sempre se vence na Libertadores apenas na bola, mas a concentração e a solidez demonstradas pelos gremistas nesta terça são fatores essenciais na luta pelo objetivo. Afinal, não bastasse o ótimo futebol apresentado nas últimas semanas, o time de Renato Gaúcho inegavelmente sabe encarar os mata-matas. É o ressurgimento de um Grêmio copeiro em sua raiz, que tem a Libertadores como um de seus palcos favoritos.