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Luxemburgo assume papel de Ted Lasso sem graça no Corinthians

Treinador abusa das frases caricatas e das colocações de efeito, mas já perdeu metade dos jogos que disputou com o Timão

O Corinthians, ou o que ainda resta dele após seis meses de crise, consegue mostrar para seu torcedor, jogo a jogo, que o buraco sempre pode ser mais embaixo. Se o elenco não está em seus melhores dias, lesões vêm para piorar. Se as lesões não forem suficientes, aparece algum problema financeiro. Se esse problema financeiro não assusta de tanto que a torcida já está acostumada, vem alguma limitação como um transfer ban. Sempre pode piorar e o corinthiano está vivendo na pele isso em 2023.

Nessa lógica, o torcedor corinthiano aguarda com uma ansiedade negativa o final da 13ª rodada do Campeonato Brasileiro, que pode terminar com o Timão novamente amargando uma passagem pela zona de rebaixamento. O resultado mais lógico para um trabalho que consegue ser ruim em todos os aspectos imagináveis: o Corinthians capenga em campo e fora dele, com jogadores, técnicos (afinal, foram vários em seis meses) e diretoria completamente em sintonia para remarem contra o que parece ser bom para o clube.

Neste cenário de terra arrasada está Vanderlei Luxemburgo. Outrora um dos técnicos mais vitoriosos e bem quistos do futebol brasileiro, ele chegou ao Corinthians para apagar o incêndio, única função para a qual tem sido cotado há pelo menos uma década, e parece só jogar alcool na fogueira. Se já era ruim sem Luxa, o Timão, com o treinador, parece não ter um futuro mais brilhante e preocupa a Fiel.

Quanto de culpa Luxemburgo tem na má fase do Corinthians?

Em uma situação como a do Corinthians é difícil apontar apenas um culpado ou aquele que tem a maior parcela de culpa nos problemas do clube. Mas é fácil afirmar que todo mundo tem um pouco de culpa e, por isso, Luxemburgo tem sim sua participação na má fase corinthiana. Foram algumas semanas de blindagem, já que o técnico além de assumir no momento mais turbulento do ano, começou seu trabalho em um Maio bastante ingrato, com sequência de clássicos, Copa do Brasil, Libertadores e adversários de cima da tabela no Brasileiro.

OK, tudo isso tem de ser levado em consideração. E foi. Mas o prazo de Luxemburgo no Corinthians para jogar a culpa em outras áreas acabou após a data Fifa recente, na qual o time teve tempo de ser treinador e voltou… igual. A vitória diante de um Santos ao menos tão desesperado contra o Corinthians acabou dizendo muito menos sobre o time do que as derrotas para Athletico e RB Bragantino, por exemplo. E então Luxa ativou o personagem que há anos irrita bastante imprensa, clubes e torcedores dos locais por onde passa.

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Luxemburgo, um Ted Lasso sem graça

O personagem Luxemburgo tem um combo que todos nós já conhecemos: frases de efeito, várias delas sem sentido, acopladas em desculpas sem muita lógica e que negam a evidente evolução pela qual o futebol passou. É engraçado ver Luxa falando de termos novos sendo usados desde sempre com outros nomes ou até mesmo ouvir suas histórias dos tempos de glória nos anos 1990 e 2000. Mas fica nisso. Luxa se traveste como uma espécie de Ted Lasso, treinador da ficção que cai de paraquedas em um clube de futebol sendo treinador de futebol americano, que está ali para ser um terapeuta dos jogadores e mostrar que o caminho da amizade é pavimentado dia após dia, tendo a vitória como uma consequência que acontece naturalmente.

Ted Lasso, personagem de Jason Sudeikis (Divulgação)

Fantástico para uma série de TV, péssimo para um time de futebol. As frases de efeito que uma hora são engraçadas perdem totalmente sua graça quando 50% dos jogos sob o comando de Luxemburgo terminaram com derrotas — apenas 25% deles com vitórias, bom destacar. Para um treinador que deixa de ganhar três de quatro jogos que disputa, as frases perdem efeito e passam a demonstrar apenas um Luxa perdido, que em menos de dois meses parece ter esgotado todas as cartas que tinha na manga para fazer o Corinthians render, sejam elas motivacionais ou táticas. 

A comparação com o treinador norte-americano de ficção surge muito pelas frases prontas, mas sem sentido algum, que Luxa vem soltando em suas coletivas. Após a derrota para o Bragantino, a mais recente de seu time, disparou: “Se ganharmos jogos, a pontuação do time vai aumentar”. Mesmo? Acho que ninguém imaginava isso. Muitos até deram risada, por exemplo, quando ele afirmou, após vencer o Liverpool-URU, que “futebol é igual macarrão, se esfria fica ruim”. Bem, a Fiel tem comido espaguete frio e duro atrás de espaguete frio e duro, então.

Alguns números (horríveis) mostram como o Corinthians precisa muito menos de um técnico carismático e muito mais de alguém que entenda de uma vez o quanto o time precisa de organização muito mais do que motivação:

  • Em 13 jogos, o Corinthians de Luxemburgo marcou apenas 11 gols
  • Já gols levados são muitos: 17 nos 13 jogos disputados até agora
  • Os poucos gols feitos não são fruto apenas de má pontaria: o Timão tem média de apenas 1,1 grande chance criada por jogo
  • O time tem média de 12,7 finalizações por jogo, mas apenas 4.1 vão para o gol adversário
  • A defesa está mal e poderia estar pior: Cássio é responsável por 3,1 defesas por jogo
  • Desorganizado, o time perde nada menos do que 124,1 posses de bola por jogo

Terrão tem sido salvação e único acerto de Luxa

Nem apenas de más momentos está sendo construída essa passagem de Luxemburgo no Corinthians. Há de se bater palmas para a relação dele com os jogadores novos, formados no próprio clube. Tal qual fez no Palmeiras em 2020, quando colocou a molecada para jogar, Luxa tem feito essa aposta no Timão. Rendeu bons frutos, como o retorno de Ruan Oliveira e as afirmações de Murillo e Adson. É evidente que a culpa de toda a fase ruim não é exclusiva de Luxa e que suas frases, até por vezes engraçadas, não são o único problema.

Se a garotada tem rendido, o mesmo não se pode falar dos veteranos. Balbuena já deixou o clube, Gil vive a pior fase de sua carreira, Fábio Santos quase não tem mais condições de jogo, Giuliano vive seu pior momento no time e Renato Augusto nunca está à disposição diante de tantas lesões. Diante desse cenário, Luxa tem um desafio e tanto para até o fim do ano, considerando que ele dure até lá: fazer esse Corinthians engrenar com mais tática, mais trabalho de campo e menos frases de efeitos. Depois que as coisas se organizarem talvez haja espaço para o personagem Luxa e ele pode até colar uma placa BELIEVE na Neo Química Arena. Mas há um longo caminho até lá.

Foto de Leonardo Sacco

Leonardo SaccoCoordenador de conteúdo

Formado em Jornalismo pela Cásper Líbero, fez categorias de base na TV Gazeta, Olheiros e Impedimento. Se profissionalizou no Yahoo e desde junho de 2023 é coordenador de conteúdos editoriais da Trivela.
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