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Joelinton agarrou sua chance e foi a melhor notícia na goleada da Seleção no amistoso contra Guiné

Joelinton guardou seu gol logo na estreia pela Seleção, enquanto o trio do Real Madrid anotou os outros tentos

Joelinton deu a volta por cima no Newcastle. Antes criticado como um centroavante que fazia poucos gols, o pernambucano se redescobriu sob as ordens de Eddie Howe e ganhou o coração da torcida. Virou um excelente meio-campista ou ponta, auxiliando na subida de produção do clube que, em uma temporada e meia, foi da zona de rebaixamento à classificação para a Champions League. E se a ótima forma de Joelinton já vinha merecendo uma chance pela Seleção, ele aproveitou muito bem a estreia neste sábado. Foi um dos destaques na goleada por 4 a 1 sobre Guiné em Cornellà-El Prat, com gol e uma postura muito aguerrida. O trio do Real Madrid também fez a diferença. Rodrygo, Éder Militão e Vinícius Júnior complementaram o placar, num jogo com manifestações antirracistas, mas também outro episódio abjeto de racismo nos corredores do estádio.

A partida contou com diversas iniciativas contra o racismo. O Brasil utilizou um uniforme inteiro preto, enquanto os jogadores das duas equipes se ajoelharam antes que a bola rolasse. No entanto, do lado de fora, um triste episódio foi denunciado na entrada do estádio. Segundo um dos melhores amigos de Vinícius Júnior, membro do staff do jogador, um segurança apontou uma banana para ele enquanto passava pelas catracas. “Mãos ao alto, esta é minha arma para você”, teria dito o segurança. O homem foi detido pela polícia para investigação, num episódio revoltante de racismo. Apesar da camisa “com racismo não tem jogo”, a Seleção jogou.

O Brasil entrou em campo com poucas novidades. Ederson era o goleiro, com uma linha de defesa formada por Danilo, Éder Militão, Marquinhos e o estreante Ayrton Lucas. No meio, Joelinton era quem ganhava uma chance ao lado de Casemiro e Lucas Paquetá. Na frente, Richarlison recebia o apoio de Rodrygo e Vinícius Júnior. Do lado da Guiné, o destaque ficava para a espinha dorsal formada por Mouctar Diakhaby, Naby Keita, Ilaix Moriba e Serhou Guirassy.

Quando a bola rolou, o Brasil tentou forçar os passes em profundidade, mas o goleiro Ibrahim Koné saía bem nas antecipações. Guiné chegou até a dar o primeiro susto, num lance de liberdade com Guirassy. O centroavante arriscou de fora da área e mandou por cima. Rodrygo tentaria um chute desviado para fora e Joelinton não aproveitou o escanteio posterior. Guiné atuava de maneira recuada e depois não tinha muita pressa ao recuperar a posse. Era uma partida sonolenta, sem que as jogadas brasileiras tivessem grande continuidade.

O gol do Brasil saiu a partir de uma bola parada, aos 27 minutos. Méritos de Joelinton, oportunista dentro da área. Em cobrança de falta pela direita, Rodrygo cruzou e a bola desviou duas vezes, a primeira na cabeça de Richarlison e depois no corpo de Casemiro. O goleiro Koné fez grande defesa em cima da linha, mas Joelinton estava esperto no rebote para só completar na pequena área. Foi quando a porteira se abriu. Três minutos depois, Rodrygo ampliou. O ponta roubou a bola no lado direito, invadiu a área em velocidade e definiu diante de Koné. Vinícius Júnior teria um chute para fora logo depois.

Os dois gols, no entanto, fizeram o Brasil relaxar. Guiné passou a rondar mais a área de Ederson. Em meio a um período maior dos Elefantes Nacionais no ataque, o desconto saiu aos 36 minutos. Issiaga Sylla cruzou pela esquerda e Guirassy subiu nas costas de Marquinhos. Cabeceou firme para anotar o gol. Os guineenses se animaram com o tento e teriam uma sequência de escanteios. A Seleção demorou a dar alguma resposta, mas Joelinton de novo ameaçaria antes do intervalo.

A conta do Brasil voltou a se alargar na volta para o segundo tempo, com o terceiro gol aos dois minutos. A partir de uma cobrança de falta pela direita, Paquetá cruzou com perfeição e Militão desferiu a cabeçada sem chances de defesa. A Seleção se mantinha mais ativa no ataque. Richarlison mandou um chute forte que Koné espalmou, enquanto Rodrygo bateu por cima aos 14. As mudanças aconteceram só aos 20. Joelinton sentiu dores e deu lugar ao companheiro Bruno Guimarães, enquanto Raphael Veiga suplantou Lucas Paquetá.

Com as trocas nos dois times, a partida teve mais alternâncias. Guiné tentou marcar mais um, mas Ederson realizou uma sequência de ótimas defesas aos 32. Espalmou o chute de Morlaye Sylla e ainda desviou com o pé a tentativa de José Kanté no rebote. Do outro lado, quando Richarlison ficou sozinho com Koné, foi preciosista demais e desperdiçou. Novas mudanças ocorreram no Brasil aos 37, com Malcom e Pedro nos lugares de Rodrygo e Richarlison.

Vinícius Júnior queria deixar sua marca. O ponta primeiro tentou fazer um golaço, num lance em que dançou para cima da marcação, passou no meio de dois e bateu cruzado para fora. O gol de Vini sairia de fato aos 42, a partir de um pênalti sofrido por Malcom. Não foi uma boa batida de Vinícius, mas a bola passou por baixo do goleiro Koné e morreu nas redes. Pedro tentou mostrar serviço nos minutos finais, sem sucesso. Já nos acréscimos, Vanderson e Rony foram duas novidades. Vinícius saiu bastante aplaudido.

O Brasil volta a campo na próxima terça-feira, contra Senegal, no Estádio José Alvalade. Será um teste melhor à Canarinho, embora a continuidade do trabalho deixe questionamentos, entre a passagem interina de Ramón pelo comando e a falta de um técnico definitivo. Além disso, será importante uma postura bem mais contundente da CBF em relação ao novo episódio de racismo. Várias campanhas públicas foram iniciadas, mas manter um amistoso na Espanha depois de tudo o que aconteceu com Vinícius Júnior era bem questionável desde antes. O caso nojento de racismo em Cornellà-El Prat também precisa gerar cobranças sobre a confederação.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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