O Futebol brasileiro sobrevive, apesar da CBF
Embora faça de tudo para prejudicar o próprio produto, a entidade que comanda (?) o futebol no Brasil não conseguirá exterminá-lo
Dias após o termino do mais disputado Campeonato Brasileiro dos últimos tempos, os fãs do futebol brasileiro foram surpreendidos com a notícia de mais uma intervenção na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com o afastamento do presidente Ednaldo Rodrigues e provável realização de novas eleições no prazo de 30 dias, de acordo com determinação do interventor José Perdiz.
Nos bastidores circulam rumores de que por trás desta intervenção feita pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro estariam duas forças políticas que, pasmem, ainda têm muita força no jogo sujo da política do esporte: Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero! Ambos foram banidos do futebol pela FIFA, embora Del Nero tenha conseguido reduzir sua punição para uma suspensão de 20 anos.
Desfecho de ópera-bufa para uma temporada em que a CBF jogou a seleção brasileira num ridículo sem precedentes. Ninguém sabe ao certo quem é o treinador da seleção, a novela em torno da suposta contratação de Carlo Ancelotti expõe a camisa mais vencedora das Copas do Mundo ao ridículo e dentro de campo o time amarga uma campanha vexatória nas Eliminatórias Sul-americanas.
A CBF lembra aquela máxima caipira sobre o xixi de égua. Dizem os interioranos do campo que onde a égua faz xixi o mato não cresce.
E mesmo assim, tivemos um grande ano
Ainda assim tivemos um Brasileirão empolgante, uma grande Copa do Brasil e uma bela Série B. Não sem os percalços provocados pela entidade, como os erros clamorosos da arbitragem, as falhas técnicas do VAR (que continua devendo solução em imagem para muitos lances), tabela confusa quando da remarcação de jogos e a absoluta incapacidade de resolver questões simples, como programar para o mesmo horário os jogos das duas últimas rodadas.
Quando os nomes envolvidos na disputa política da CBF são conhecidos, o cenário torna-se desolador. Além de banidos, temos herdeiros de clãs políticos e jurídicos ultrapassados e toda sorte de gente cuja relação com o futebol se resume a gabinetes.
Será que alguma dessas pessoas presta atenção aos avisos escancarados pelo melhor jogador e pelo melhor treinador do Brasileirão? Quando o uruguaio Luiz Suárez deixa explícito que os absurdos do calendário nacional foram responsáveis diretos pela sua decisão de sair do Grêmio, será que algum dos figurões da política da CBF se importa? Algum deles fica incomodado quando o português Abel Ferreira alerta para as dificuldades impostas aos clubes e aos jogadores pela desorganização?
Com a montanha de dinheiro que arrecada e usa para pagar mesada às federações, bajular poderosos e fretar aviões de luxo para delegações, a CBF poderia seguir fazendo tudo isso, mas daria para investir em ações que melhorariam a experiência do futebol para o torcedor e o mercado. Tais como bancar a melhora e a padronização dos gramados e das iluminações dos estádios ou comprar um pacote mais atualizado do programa de computador do VAR. Sem falar na capacitação e profissionalização dos árbitros e assistentes.
Duvido que o cenário mude. Pelo contrário, pode piorar, se os banidos realmente conseguirem controlar a CBF como se fossem titereiros.
Ainda assim, o futebol sobreviverá. Através do poder das camisas e das histórias dos clubes, de talentos como Endrick e Vitor Roque, dos treinadores nacionais e estrangeiros, profissionais na acepção da palavra, e no amor inconteste dos verdadeiros torcedores, não dos baderneiros infiltrados.
O que mais dói na alma de quem ama o futebol de verdade é não ter qualquer perspectiva de melhora no que se refere à direção do futebol no Brasil. Há um vácuo de liderança. Como ensina a ciência, quando somos expostos ao vácuo temos quase nenhuma chance de sobreviver. Nisso, o futebol brasileiro é um autêntico “highlander”. Mas no vácuo a chance de sobrevivência resume-se à exposição mínima, coisa de segundos. Como o futebol sobrevive há anos nessa condição por aqui é algo que nem a ciência explica.