Brasil

Fortaleza mostra que é possível peitar os gigantes

Transformação administrativa e manutenção de Vojvoda confirmam o Leão do Pici como maior time do Nordeste e mudam patamar nacional

É um costume enraizado de muitos cartolas de clubes que não sejam do Rio ou de São Paulo reclamar da desigualdade de condições. Seja na questão da divisão do dinheiro da TV ou da influência política junto à CBF. No Sul, mesmo contando com dois dos maiores clubes do País, as reclamações giram em torno do que chamam de Eixo, ou Centro do País.

O Fortaleza durante muito tempo engrossou esse coro. Mas quando mudou o discurso e colocou a mão na massa, a partir de 2015, o clube promoveu uma mudança radical de pensamento e atitude e iniciou o processo que o coloca hoje como uma das forças do futebol brasileiro.

Um nome se destaca nessa trajetória: Marcelo Paz. O atual CEO do Fortaleza era diretor de futebol em 2015, passou a vice de futebol no ano seguinte e assumiu a presidência do clube em 2017. O Leão estava na Série C do Campeonato Brasileiro. Desde então, venceu a Série B em 2018, foi pentacampeão cearense, venceu três vezes a Copa do Nordeste, chegou à final da Copa Sul-americana e à Libertadores da América.

Em maio de 2021, um nome entrou para a história do Fortaleza: o do argentino Juan Pablo Vojvoda. Ele trocou a medicina pela paixão pelo futebol e confirmou em campo a transformação do Fortaleza como clube. Desconhecido no Brasil, Vojvoda construiu uma equipe sólida, com princípios táticos estabelecidos, mudando jogadores de posição e mostrando a eles qualidades que desconheciam. Houve turbulências e decepções, a cabeça do treinador esteve a prêmio, mas o clube bancou a ideia e o projeto.

É preciso destacar a participação de Rogério Ceni no processo. O treinador compartilhou a experiência que viveu no São Paulo como atleta, nos tempos em que o Tricolor paulista era referência em estrutura e manutenção de trabalho. Ajudou a modernizar o clube em estrutura física e em mentalidade futebolística.

Com as vendas de Moisés (que já voltou) e Caio Alexandre, o clube cearense encaixou duas das maiores negociações da história do futebol do Nordeste.

Transformado em SAF, o Fortaleza não foi vendido a nenhum grupo ou proprietário individual: é dono de seu próprio negócio. 

Sem contratações bombásticas ou grandes craques, desafiando um gramado horroroso no Castelão, o time de Vojvoda e Paz encara qualquer adversário de peito aberto em qualquer parte. Sem chororô. Encostou nos líderes do Brasileirão em 2024 e pode sonhar, porque pavimentou o caminho com suor, compromisso e competência. Ultrapassou dois poderosos paulistas de orçamentos superiores, Palmeiras e São Paulo, e deixou para trás irmãos de SAF de pais diferentes: Bahia e Cruzeiro.

Em um torneio equilibrado como o nacional brasileiro, com candidatos que se dividem entre competições, poupam jogadores e embaralham a disputa, o Fortaleza vai chegando sem muito alarde e pode surpreender.

O que não é surpresa é a trajetória. Uma prova de que é possível fazer futebol profissional com resultados, mesmo longe do tal do Eixo.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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