Brasil

Flamengo chega ao ponto alto da sua reconstrução financeira com contratação de Arrascaeta

O Flamengo fez a maior contratação do futebol brasileiro em 2019 (). O uruguaio custou € 15 milhões (R$ 63,7 milhões), uma contratação que não pareceria possível ao mesmo Flamengo alguns anos antes. Foi preciso passar por uma reestruturação financeira para que o clube saísse de um dos grandes devedores do futebol brasileiro para um clube com capacidade de contratar jogadores por valores altos. Georgian de Arrascaeta é a mais recente demonstração da força rubro-negra nesse sentido. É mais um passo de um time que se mostra forte, investe pesado e espera conseguir o retorno em campo, que é o mais importante – e uma justa cobrança da torcida.

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Em 2013, o Flamengo tinha uma dívida de mais de R$ 600 milhões. A gestão que entrou no clube tratou de tentar arrumar a casa, renegociar com credores, as dívidas e tentar tornar viável um clube que parecia em inviável naquele momento. Uma dívida desse tamanho fazia com que a receita, que era alta, fosse barrada na justiça para pagamento de dívidas e mais dívidas, como a de muitos ex-jogadores que cobravam na justiça trabalhista. Assim, entrava contrato de TV, bilheteria, patrocínio, o que fosse e o dinheiro tinha que ser usado para pagar o que o clube devia. Por isso, foi importante trabalhar para conter imenso rombo, ao mesmo tempo buscando o aumento das receitas, aproveitando o potencial do time, ainda mal explorado na época.

Os investimentos no futebol eram tímidos no início da nova gestão do Flamengo. O título surpreendente da Copa do Brasil em 2013 foi um bônus para um time moldado com restrições orçamentárias e o o time gastava no futebol não indicava briga por taças. O clube só passou de fato a aumentar o seu investimento no elenco em 2016, depois de amenizar um pouco os efeitos da dívida. Isso fica claro na folha salarial do clube: em 2014 e 2015, R$ 124 milhões; em 2015, R$ 115 milhões. Em 2016, o primeiro salto: R$ 155 milhões. Em 2017 passou a ser a segunda mais alta do país, R$ 219 milhões. Não por acaso, os resultados melhoraram: foi 16º em 2013; 10º em 2014; 12º em 2015; 3º em 2016; 6º em 2017; 2º em 2018. Os dados podem ser encontrados nesta reportagem de Rodrigo Capelo na revista Época.

Esse aumento no gasto no futebol só foi possível porque a dívida diminuiu e, principalmente, foi equacionada, de forma a não travar o funcionamento do clube como acontecia antes. Foi um bom trabalho em termos de gestão financeira, que foi permitindo ao clube fazer investimentos mais fortes, primeiro em salários, mas também no valor pago por jogadores. A transferência de Arrascaeta é gigantesca para o padrão brasileiro: sai de um clube grande para outro, sendo um dos principais jogadores e custando muito dinheiro.

O Flamengo monta um time forte, com jogadores de peso, como até já aconteceu antes, mas com uma diferença importante: não é uma loucura. Vimos inúmeras vezes os clubes grandes (todos eles, em algum momento) fazer loucuras, pagando mais do que têm para contratar um jogador e torcer para dar certo, porque se não a conta não fecha. Não é o caso do Flamengo. Além de diminuir e equacionar as dívidas, o clube aumentou muito a receita. Em 2013, a receita era de R$ 273 milhões; em 2014, subiu para R$ 325 milhões; em 2015, chegou a R$ 339 milhões; em 2016, aumento para R$ 377 milhões; em 2017, o valor alcançou R$ 595 milhões. A receita mais do que dobrou, ao mesmo tempo que a dívida diminuiu: em 2013, a dívida era de R$ 616 milhões; passou para R$ 609 milhões em 2014; para R$ 519 milhões em 2015; R$ 427 milhões em 2016; e finalmente, subiu um pouco R$ 435 milhões em 2017.

Na principal receita dos clubes, os direitos de TV, o Flamengo é quem mais recebe, ao lado do Corinthians (algo em torno de R$ 170 milhões até 2018; em 2019, esses números mudarão e aumentarão no novo contrato de TV). Antes de 2012, nem isso salvava o time de ser um caos financeiramente e ter uma dívida paralisante. Em 2019, o clube consegue contratar um jogador de seleção uruguaia, saindo de um adversário nacional, por um valor altíssimo, sem cometer uma loucura. Faz, sim, uma aposta que o uruguaio será importante e não há motivos para não imaginar exatamente isso. Rodrigo Capelo, no Twitter, falou sobre a estratégia financeira do Flamengo para 2019, que é agressiva, mas responsável.

Segundo reportagem do Globoesporte, os € 15 milhões correspondem a 75% dos direitos federativos de Arrascaeta, além de comissões pelos envolvidos no negócio. Isso, por si, mostra uma força tremenda do clube. Só mesmo o Flamengo e o Palmeiras poderiam contratar alguém por valores assim. Até porque além de sanear as dívidas, o Flamengo tinha receitas altas também om jogadores: recebeu mais uma parcela pela venda de Vinícius Júnior, vendeu Lucas Paquetá e Felipe Vizeu.

Com Arrascaeta, o Flamengo passa a ter um time muito forte tecnicamente, especialmente com a chegada também de Gabigol. Rodrigo Caio também reforça a defesa, em um time que ainda tem muitas boas opções, como o próprio Fernando Uribe, contratado no meio da temporada 2018, Éverton Ribeiro, contratado ainda em 2017, Gustavo Cuéllar e mesmo Diego, especulado para sair, mas que aparentemente deve seguir. O elenco é forte, ainda que seja questionado em algumas posições (laterais e zagueiros, pro exemplo, onde falta alguma profundidade no elenco). É suficiente para brigar forte no alto da tabela, que é o que se espera.

O Flamengo fez um trabalho grande para ter capacidade de contratar jogadores e tornar o seu futebol mais forte. Conseguiu e Arrascaeta é a prova disso. Falta o próximo passo, que a torcida espera ansiosamente desde 2016: os títulos importantes. Eles ainda não vieram. Os campeonatos cariocas não passam de aperitivos para uma torcida tão faminta por glórias. O poder financeiro está provado. Resta transformar isso em uma força em campo capaz de levantar troféus. É com essa pressão que Arrascaeta terá que lidar. Uma pressão grande em um jogador que teve seus momentos de irregularidade, conviveu com algumas lesões, mas principalmente mostrou alta capacidade técnica e de decisão. O que se esperará dele é essa última parte. O investimento foi muito alto e a cobrança será proporcional.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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