A diferença do gol de Rondinelli para o de Márcio Araújo é um erro do bandeira
O gol do título aos 46 minutos do segundo tempo. Uma cabeçada que poderia muito bem lembrar o mítico tento de Rondinelli, o Deus da Raça, no Carioca de 1978. A bola saiu da mesma marca de escanteio, foi arrematada por Wallace quase da mesma posição, seguia em direção ao mesmo ângulo da meta vascaína. Mas, paradoxalmente, centímetros a fizeram passar muito longe disso. No rebote, o gol de Márcio Araújo garantiu o empate por 1 a 1, deu mais um Carioca ao Flamengo, fez o Vasco outra vez vice-campeão. Valeu o dia de quem gosta de tirar sarro do rival, de quem curte a picardia do futebol. Mas qual o real significado de um título nestas condições? Muitas dúvidas.
O flamenguista pode comemorar com o mesmo gosto uma taça que só veio por causa de um erro de arbitragem? De desconsiderar uma atuação sofrível do time? De esquecer a semana sofrível, quando o clube não cumpriu sua real obrigação com a torcida, a classificação na Libertadores? O vascaíno pode reclamar de maneira tão veemente por um erro que sequer foi notado por seus jogadores em campo? De minimizar o jejum contra os rivais em decisões, algo que perdura desde aquele gol de Cocada em 1988?
São as interrogações que ficam na cabeça por ora. E que são bem menores do que o verdadeiro debate que essa final deveria suscitar. Os problemas na preparação da arbitragem são evidentes. O lance deixa clara a falta de atenção do assistente no lance. E que se agrava ainda mais com a lambança da Ferj, que atribuiu o gol a Nixon, e não Márcio Araújo. Admitir o erro, como a Comissão de Arbitragem da entidade carioca fez, é um passo. Mas não basta. Se as falhas se repetem tanto, e com aqueles que eram para ser os melhores da arbitragem no Estado, a questão é bem mais profunda do que pontual.
E, vale ressaltar, não foi a única polêmica envolvendo a arbitragem nas finais dos estaduais. Em São Paulo, o impedimento no lance do pênalti para o Santos foi ignorado, embora não tenha atrapalhado o Ituano. Já em Minas Gerais, o árbitro voltou atrás na marcação de um pênalti (discutível, é verdade) contra o Cruzeiro, após o assistente marcar uma posição irregular inexistente de Jô.
As falhas da arbitragem não são exclusivas do Brasil. Mas não dá para admitir que sejam tão escancaradas assim, tratadas como corriqueiras. Acabam por tirar um pouco mais do brilho dos estaduais, cada vez mais esvaziados pelo público. E só refutam aquele ditado imbecil de que ‘ganhar roubado é mais gostoso’. Não quando o que corre perigo é o próprio interesse pelo futebol.
Foto: Jorge Rodrigues