Diego Ribas vê Vini Jr. e Endrick como referências para fãs, mas pede cuidado em críticas
Em evento em São Paulo, ex-jogador explicou motivos do distanciamento entre jogadores de futebol e fãs e deu dicas de como reverter esse cenário

Ao longo de quase 21 anos de carreira como jogador profissional, Diego Ribas teve passagens marcantes por Santos, Flamengo, Werder Bremen e Atlético de Madrid, mas também se destacou pela lucidez com que falava e pela maneira como conduziu seus passos como atleta ao longo dos anos. Aposentado dos gramados, o ex-meia falou um pouco de sua relação com torcedores, fisicamente e também pela internet na última terça-feira (9), na série de palestras do Fórum Máquina do Esporte, realizada em São Paulo.
No evento, em que a Trivela esteve presente, Diego Ribas falou no painel A Relação entre Atleta e Fã. Perguntado sobre os motivos de muitos atletas não conseguirem desenvolver uma relação de mais engajamento e envolvimento com torcedores nas redes sociais, Diego disse que isso acontece por diversas razões, que vão desde o abandono dos estudos até as críticas exageradas, que os deixam mais reféns dos resultados em campo.
— Nosso problema é a educação. Trazer conhecimento é algo que liberta e pode fazer com que os atletas se sintam mais confortáveis. Muitas vezes, a própria família deles esquece do resto como a escola e veem nos garotos a oportunidade de ‘salvar' a família, conseguir muito dinheiro. Mas quem ganham milhões são uma minoria, apenas cerca de 1% dos jogadores. Caso você fique no meio do caminho, você vai enfrentar a sociedade despreparado. Se esse processo não for bem feito, faremos acima de tudo cidadãos despreparados.
Fãs são agentes ativos na construção da relação com atletas, avalia Diego Ribas (@ribasdiego10), ex-jogador de futebol do Flamengo.
Confira o conteúdo do debate que a The Players' Tribune Brasil (@TPTBrasil) trouxe para o 3º Fórum da Máquina do Esporte.https://t.co/YpKNzvrvPw
— Máquina do Esporte (@maquinaesporte) April 9, 2024
— O que também prejudica um atleta de se abrir mais é o bloqueio em forma de autodefesa devido às críticas caso ele não esteja performando bem. Na Alemanha, mesmo quando perdíamos, passávamos pelos torcedores e eles nos davam mensagem de apoio mesmo se perdíamos. Eu tinha essa liberdade lá, e isso acontecia devido à educação também. O meu papel é trazer consciência para os atletas sobre a importância que eles têm pelo papel deles, mas também trazer para a imprensa e para a torcida que parte desse distanciamento partem deles. Porque o atleta se sente receoso de se ser ofendido por uma derrota.
Endrick e Vini Jr. são exemplos nas redes
O ex-jogador, que atualmente tem 39 anos, também falou sobre a necessidade de ter cuidado com as redes sociais. Ele afirma que Endrick e Vinicius Júnior são exemplos para atletas brasileiros, mas aponta que falta um pouco de cuidado e críticas ao redor dos jogadores, e que isso pode ser um motivo a mais para eles se blindarem tanto.
— No começo da minha carreira, eu também era um pouco inconsequente, e ao longo do tempo e com o acompanhamento da minha família fui criando consciência. E ao longo do tempo, para usar as redes sociais ao meu favor, fui sendo mais estratégico com a ajuda de profissionais, e isso vem acontecendo mais com outros atletas. Mas jogadores têm poucas pessoas ao redor deles que os confrontam, muita gente tem medo de fazer isso, e no fim, isso prejudica eles. O atleta entender que aquele espaço é uma ferramenta a mais é importante. Vejo que o trabalho feito nas redes com o Vinicius Júnior e com o Endrick estão em um bom caminho, mas eles ainda são a exceção. Precisamos de mais pessoas corajosas para se expressarem, se posicionarem e trazerem assuntos importantes para a sociedade.
O tema também foi discutido por outros profissionais da indústria esportiva no evento. Diretora Octagon, agência que trabalha com marcas e com atletas, Alice Bernardo falou sobre como na internet, o atleta pode ser muito mais do que um jogador de futebol.
— Cada vez mais o atleta é visto e acompanhado pelo que ele faz, não só no campo. E é assim que eles ganham mais relevância, novas oportunidades e também acabam se tornando influenciadores. Isso, inclusive, pode ficar acima da performance em campo deles no momento em que se trabalha mais com a construção do perfil deles pela internet.
Mercado de influenciadores pode ser melhor aproveitado por atletas
Em outra palestra, sobre a transformação do marketing de influência, feita pela empresa BR Group, foi mostrado que 72% do público brasileiro segue influenciadores, e que este tipo de pessoa são os terceiros mais acompanhado nas redes sociais, atrás só de amigos e família. A indicação de uma marca feita por influencers faz com que 55% do público se sinta mais confortável a fazer compras de uma determinada marca caso os seus referentes indiquem. E é aí que entra a importância de atletas cuidarem bem de suas imagens no gramado, mas também fora dele.
Novos negócios para clubes
O local também foi palco de um painel sobre web3, que explicava sobre blockchains, fan tokens e novas possibilidades de experiências. Com explicações que podem fazer com que ingressos comprados via blockchain podem gerar descontos para produtos licenciados por clubes, Lugui Tiller, da Lumx, e Bruno Pessoa, da Socios.com, falaram sobre parcerias já existentes com clubes brasileiros. Débora Saldanha, head de inovação do Atlético-MG, falou sobre como funciona a comunicação com os torcedores do Galo, e também sobre quais as melhores formas de fazer com que de fato o torcedor entenda e usufrua dos benefícios de novos produtos e experiências, sejam elas físicas ou digitais.
— Mostrar pelas redes sociais, explicar o que são essas novas opções e fazer com que o torcedor entenda que existe uma área no clube que valida novos parceiros e novos projetos. Mas é preciso trazer experiências para envolver esses torcedores, e experiências envolvem jogadores. E para isso, precisamos conversar com o departamento de futebol para eventuais aprovações — A fala foi complementada por Pessoa, que afirmou que ‘entregar algo factível é melhor do que só explicar. O ideal é prover mais benefícios'.
Além de falar sobre atletas, influenciadores, clubes e novos projetos, o evento também falou do envolvimento do fã brasileiro com competições como a NBA, Fórmula A e a WSL, além de ter sido uma espécie de esquenta para as Olimpíadas de 2024, tanto com a participação de Gustavo Herbetta, diretor de marketing do Comitê Olímpico Brasileiro, e também de Marcelo Fernandes, head de produto do Sportv, emissora que transmitirá todas as provas dos Jogos, que ocorrerão em Paris. Palestras sobre eventos de rua como corridas, triatlos, e, além disso, sobre o papel e a atração de mulheres na indústria do esporte como um todo foram temas colocados em pauta ao longo de todo o evento.