Dez coisas que aprendemos com o Brasileirão 2015

O campeão pode ter sido definido cedo, mas o Brasileirão 2015 foi encerrado com um saldo positivo dentro de campo. Grandes jogos, personagens surgindo e ganhando relevância conforme o campeonato corria, uma série de partidas emocionantes e de vários gols e um grande engajamento dos torcedores com seus times.
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Os pontos altos foram vários, e os negativos também não faltaram. Se dentro das quatro linhas vimos partidas mais movimentadas e empolgantes que em outros anos, fora delas tivemos que lidar mais uma vez com uma tradição que não tem paciência com treinadores, enfrentar problemas de arbitragem e observar decisões administrativas influenciando a atuação dos atletas. Reunimos aqui dez pontos que chamaram nossa atenção nesta edição do Brasileirão e convidamos você a deixar sua contribuição nos comentários, se tivermos deixado de lado algum outro tema importante para a construção do que foi este Campeonato Brasileiro.
Técnicos seguem sem continuidade
Há anos discute-se a necessidade de uma mudança cultural na maneira como lidamos com o trabalho de treinadores. Todos concordam que os técnicos precisam de mais tempo para desenvolver seus projetos e, mesmo assim, em 2015 a história não foi diferente. Dos 20 clubes da Série A, 19 trocaram de treinador. Apenas o Corinthians, campeão antecipado da competição, clube em que Tite foi unanimidade o ano todo, não promoveu troca no comando.
O São Paulo, por exemplo, trocou três vezes de treinador, começando a competição com Milton Cruz no comando, contratando Osório, demitindo o colombiano para acertar com Doriva e, por fim, despachando-o para, mais uma vez, recorrer ao interino Milton Cruz. Em um exemplo contrário, Eduardo Baptista recebeu respaldo da diretoria do Sport mesmo quando estava em má fase, mas em seu caso ele próprio abandonou o trabalho, após receber proposta vantajosa do Fluminense.
A arbitragem precisa passar por uma reforma

O Corinthians foi o melhor time do campeonato e levou com justiça o título, e essa conquista não receberia contestação alguma se não tivéssemos tido tantos erros de arbitragem. Por alguns deles terem acontecido em um momento crucial da competição, quando o Alvinegro ultrapassou o Atlético Mineiro na tabela, focou-se muito na narrativa conspiratória de favorecimento ao time de Tite, mas na prática os erros foram diversos, constantes, mesmo em partidas que não envolviam a briga pelo título.
Houve confusão pelos novos critérios adotados para a marcação de pênaltis por toques de mão, por exemplo, e também pelas novas instruções para lidar com indisciplina dos atletas. Essas orientações ajudaram a fazer a bola rolar mais nos jogos, é verdade, mas também causou problemas de arbitrariedade por parte dos homens do apito.
Toda a preparação e a formação dos árbitros precisam ser repensadas e, em um debate mais a nível global, a introdução de um auxílio maior da tecnologia ajudaria a diminuir os erros. Em alguns países, a tecnologia da linha do gol já foi introduzida, e outras formas de assistência tecnológica são discutidas, como o uso do replay, mas no Brasil sequer chegamos ao primeiro estágio.
O 7 a 1 despertou a necessidade de um futebol melhor
A humilhação sofrida diante da Alemanha na Copa do Mundo gerou muitas discussões, as melhores delas acerca da necessidade de mudanças estruturais na administração do futebol brasileiro. Conversas táticas também tiveram o seu espaço. Mas, no Campeonato Brasileiro, o efeito que pudemos observar foi o de uma busca por um futebol mais atraente e dinâmico.
Aquela derrota no Mineirão colocou nosso futebol em xeque. Estamos atrás em termos táticos e até mesmo técnicos em relação a outras potências do futebol mundial, e uma das consequências disso foi uma busca das equipes no Brasileirão por alternativas de melhoria. O Corinthians encontrou seu jeito próprio de jogar, deu muito certo e se sobressaiu em relação aos outros, mas não foi o único a apresentar um futebol interessante e, por vezes, de alguma plasticidade.
Diversas equipes alternaram momentos assim no Brasileirão. Mais destacadamente, além do campeão, Santos e Atlético Mineiro tiveram um futebol incisivo e habilidoso. O Palmeiras e o Sport, em algumas oportunidades, também proporcionaram partidas gostosas de se ver, assim como o Flamengo em determinado momento. Todos, acreditamos, motivados por uma necessidade coletiva de se dar uma resposta. Tomaram mais riscos, acabamos tendo partidas cheias de gols, como o Palmeiras 4×2 Flamengo, e foi divertido assistir a esse campeonato. Como não era há um bom tempo, em que a morosidade imperava.
Técnicos novatos ganhando oportunidade
Parte do futebol brasileiro parece muito presa em oferecer aos mesmos técnicos as mesmas oportunidades. Baseados em conquistas pontuais ou distantes, os clubes promovem uma verdadeira rotação de treinadores, que revezam entre si as equipes, sempre fazendo trabalhos semelhantes, que podem funcionar a curto ou médio prazo, mas que eventualmente resultam em falta de evolução e muita dependência de situações circunstanciais para dar certo. E é por isso que foi legal ver uma nova safra de treinadores ganhando oportunidades e as aproveitando.
No Atlético Paranaense, mesmo sendo demitido após uma sequência de quatro derrotas, Milton Mendes fez trabalho interessante, destacável principalmente no início do campeonato. Eduardo Baptista, no Sport, fez a equipe jogar um futebol ofensivo e de deixar o torcedor entretido. Deixou a segurança do trabalho na Ilha do Retiro para tentar um desafio maior no Flu. Já Roger, no Grêmio, conseguiu manter o time por um tempo limitado na briga pelo título, além de, ao longo do campeonato, nunca ter se distanciado do G4. Guto Ferreira, na Chapecoense, também foi outro dos novos nomes a trazer um fato novo para o campeonato.
Cariocas na parte de baixo da tabela

A atual temporada não foi boa para os cariocas. Pela primeira vez na era dos pontos corridos, todos os times do Rio de Janeiro ficaram na parte de baixo da tabela. Além de o Botafogo ter passado o ano na segunda divisão, o Vasco acabou rebaixado pela terceira vez em menos de dez anos. Flamengo e Fluminense também não tiveram um bom ano e terminaram na 12ª e na 13ª colocações, respectivamente.
O fato de que todos terminaram na metade de baixo da tabela é apenas uma curiosidade e não significa dizer que foi o pior ano para cariocas no Brasileirão, afinal, em 2013, por exemplo, o Vasco foi rebaixado, e Fluminense e Flamengo foram os 15º e 16º colocados, muito próximos do Z4, mas o Botafogo, em contrapartida, foi o quarto colocado. Ainda assim, os resultados frustrantes de 2015 apontam, sim, um problema que o futebol carioca precisa resolver, ainda que individualmente. As equipes do Rio têm história demais para serem meras coadjuvantes.
Vários jovens se destacaram
O ano de 2015 não foi especial para a base brasileira apenas pela boa campanha no Mundial Sub-20, em que a Seleção ficou com o vice-campeonato. No Brasileirão, uma série de jovens desabrochou e teve destaque de gente grande ao longo do ano, nas mais variadas posições. O Santos, por exemplo, contou com um bom número deles em seu time titular. O lateral direito Zeca e o volante Thiago Maia foram surpresas interessantes na equipe de futebol vistoso, ofensivo, enquanto Gabigol teve em diversas oportunidades um protagonismo impressionante para um atacante de apenas 19 anos.
No Flamengo, Jorge fez um ótimo Mundial Sub-20, sendo o melhor lateral esquerdo da competição e, ao retornar para o Rubro-Negro, tomou para si a posição de titular e foi absoluto durante o campeonato. Otávio, de apenas 21 anos, destacou-se no Atlético Paranaense e foi com alguma folga o maior ladrão de bolas do Brasileirão, com 96 roubadas, contra 86 do segundo colocado Fernando Bob. No ataque, Luan, do Grêmio, e Biro-Biro, da Ponte Preta, também se destacaram, com dez e sete gols, respectivamente, enquanto Gabriel Jesus caiu nas graças da torcida palmeirense em sua temporada de estreia.
Arenas impulsionaram média de público do campeonato
Após a Copa do Mundo, o Brasileirão do ano passado já havia experimentado em sua segunda metade uma melhora nos públicos em relação ao período anterior ao Mundial. Com o auxílio das arenas, o Campeonato Brasileiro deste ano também mostrou aumento de público em relação à edição anterior.
Em 2014, a média de público do campeonato foi de 16.555 pessoas, enquanto neste ano tivemos 17.051. A queda de clubes como Bahia, Botafogo e Vitória para a segunda divisão ajudou a puxar para baixo a média da competição, considerando que subiram times como Ponte Preta e Joinville, que levam menos torcedores ao estádio. Sem essa diferença, o salto no público poderia ser ainda maior.
Esta melhora foi impulsionada, entre outras coisas, pelas novas arenas de Corinthians e Palmeiras. Enquanto o primeiro foi de 28.960 de média em 2014 para 33.480 em 2015, o segundo viu um salto de quase dez mil, indo de 19.755 para 29.454. Outros clubes que atuam em estádios modernos, como Grêmio, Flamengo e Atlético Mineiro, também viram seus públicos aumentarem. O último, em especial, saltando de 14.132 para 21.453.
O impacto dos jogos das 11h (vale repensar a agenda?)
Quando o período de temperaturas mais altas chegou ao Brasil, as reclamações pelo novo horário das 11h, introduzido pela CBF, também aumentaram. A grande (e justificada) preocupação foi com os atletas, que precisaram atuar sob um sol forte, necessitando de pausas no meio das partidas para se hidratar e sujeitos a problemas por causa das condições de jogo. Nos números, entretanto, a iniciativa foi um sucesso.
Três partidas no novo horário tiveram público superior a 50 mil pessoas. No total, os 34 jogos disputados às 11h tiveram 836.787 pagantes, com uma média de 24.611 por jogo. O número é bastante superior à média geral do campeonato, de 17.051. O horário é agradável para o torcedor, que não precisa perder um dia todo em seu final de semana, programando-se para o jogo, e mais convidativo para famílias. A CBF já expressou sua satisfação com a experiência, demonstrando intenção em repetir o horário em 2016, mas terá que lidar com essa questão da saúde dos jogadores. Pelo menos nos períodos mais quentes do ano, parece, de fato, irresponsável colocá-los sob condições prejudiciais apenas por um maior lucro na bilheteria.
Folhas salariais que decepcionaram
Elenco estrelado e salários altos não são garantias de resultados, e uma boa porção de clubes viveu isso na prática no Brasileirão de 2015. O já clássico caso do Internacional se repetiu: repleto de jogadores acima da média do futebol praticado no país, o Colorado começou o ano apontado como um dos favoritos ao título do campeonato, e não levou muito tempo para vermos que a narrativa de decepção seria a mesma dos anos anteriores.
O São Paulo foi outra equipe que, olhando no papel, facilmente seria apontada como dona de um futebol interessantíssimo e fortíssima candidata a ficar com a taça. São poucos os clubes que podem contar com um elenco tão profundo quanto o do Tricolor. Na prática, entretanto, o que vimos foram vários desses atletas se desvalorizando ao longo do campeonato por não conseguirem corresponder em campo.
O bicampeão Cruzeiro passou por um desmanche, mas também tinha time para fazer melhor do que fugir da briga contra o rebaixamento apenas após a contratação de Mano, e o Palmeiras, com o número de contratações que fez poderia, ter tido um campeonato mais estável. Por sorte, o investimento acabou recompensado em outra das frentes no ano: a Copa do Brasil, em que ficou com o título.
É possível fazer muito com pouco
Por outro lado, podemos pegar exemplos de time de investimento menor e que fizeram bonito na temporada. Após subir para a primeira divisão no fim de 2013, a Chapecoense conseguiu se manter pela segunda temporada seguida na elite e, desta vez, com algumas boas histórias para contar. No Brasileirão, por exemplo, emplacou um 5 a 1 contra o Palmeiras. Já em âmbito continental, chegou até às quartas de final, encarando o atual campeão da Libertadores River Plate, venceu o jogo de volta e ficou a um gol de levar a decisão para os pênaltis.
O Sport, sob o comando de Eduardo Baptista, liderou por um tempo o Campeonato Brasileiro e, mesmo após a queda de produção, protagonizou bons duelos, como o 4 a 1 sobre o vice-campeão Atlético Mineiro, terminando na sexta colocação, a três pontos do quarto colocado. Já a Ponte Preta, com Doriva e depois Felipe Moreira no comando, conseguiu emplacar uma sequência de seis vitórias e um empate em sete jogos, entre a 25ª e a 31ª rodadas, ameaçando entrar na briga pela Libertadores. Acabou caindo de produção, acumulou cinco derrotas nas sete rodadas finais e ficou no meio do caminho, no 11º lugar, a 11 pontos do quarto colocado.