Como o Cruzeiro foi usado pelo PCC a lavar R$ 3 milhões, segundo a Polícia Federal
Revista "Piauí" revelou investigação da PF e do MPF em caso envolvendo a transferência do ex-meia Diogo Vitor

O Cruzeiro teria sido usado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) como uma forma de lavar R$ 3 milhões após a transferência de um jogador. É o que diz uma investigação da Polícia Federal revelada pela revista “Piauí” nesta quinta-feira (13).
O caso teria acontecido em 2021, quando o agente William Barile Agati, considerado um “intermediário” da maior facção criminosa do Brasil, negociou a contratação do meia Diogo Vitor, ex-Corinthians e Santos, pelo clube à época presidido por Sérgio Santos Rodrigues.
Como os direitos econômicos do atleta pertenciam ao empresário, o time celeste deveria pagá-lo, mas, na verdade, o caminho foi inverso. Uma empresa de Agati, chamada F1rst Agência de Viagens e Turismo depositou, parcelados, R$ 3 milhões nas contas do Cruzeiro entre fevereiro e março daquele ano. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o objetivo era lavar dinheiro que veio da venda de cocaína para o PCC.
Em 19 de março de 2021, três dias depois do último depósito, a equipe mineira iniciou a devolução da quantia para uma conta do agente e de uma outra empresa dele (Burj Motors). Foram R$ 1,58 milhão repassados. A PF continua investigando a transferência.
No fim, Diogo Vitor nem conseguiu entrar em campo com a camisa celeste e deixou o clube ao fim daquele ano.
Como foi a carreira de Diogo Vitor?
Revelado pelo Santos, o meia foi tratado como uma joia da base do time da Vila, apesar de alguns problemas extracampo — chegou a “sumir” do CT por meses em duas oportunidades, uma após ter alegado dor de dente e ter recusado tratamento e outra por problemas particulares.
Ele estreou no profissional do Peixe em 2016, justamente o ano que passou a ser agenciado por Agati. Dois anos depois, o então jovem viveu um grande momento com a camisa santista: marcou o gol do empate em um clássico contra o Corinthians.
O que poderia ser o início de uma trajetória de sucesso, no entanto, virou um pesadelo para Vitor. Apenas duas semanas após o primeiro e único gol pelo time principal do Santos, ele testou positivo para cocaína no doping e foi suspenso por um ano e meio, período que ficou sem salário.
— Difícil falar, eu errei, decepcionei muitas pessoas, mas a maior decepção foi comigo. Passei na pele, fiquei sozinho e sem amigos, e aí vi que vivia uma ilusão — disse o jogador ao portal “Uol”, em 2023.

No início de 2020, ele rescindiu com o Peixe e fechou com o Corinthians sub-23, mas nunca chegou a defender o time do Parque São Jorge, saindo em janeiro de 21, meses antes da ida ao Cruzeiro.
— No Cruzeiro treinei por seis meses, conversei com o Luxemburgo [técnico da época] e ele disse que eu seria o camisa 10 dele, que contava comigo, assinei um contrato ótimo. Mas uma semana depois o Ronaldo comprou [a SAF do clube], chegou novo estafe, nova comissão, e não quiseram me utilizar. Fiz um acordo e acabou meu vínculo — revelou, na mesma entrevista.
Depois, o meia ainda atuou por Maringá e ASA de Arapiraca antes de se aposentar ao fim de 2023.
O que diz o Cruzeiro sobre a suposta ajuda ao PCC?
À “Piauí”, o Cruzeiro se colocou à disposição das autoridades para colaborar com a investigação e afirmou não ter conhecimento sobre a transferência porque a gestão atual da SAF do clube assumiu apenas em maio de 2024.
Também em declarações publicadas na revista, Sérgio Santos Rodrigues garantiu que a contratação de Diogo Vitor foi sem custos. A movimentação financeira entre o time mineiro e Agati seria por uma dívida anterior do Cruzeiro com o agente, totalmente quitada segundo ele.
— Não houve compra de passe [do atacante], não. Foi pedido uma oportunidade [dada] para o Diogo tentar voltar a jogar — revelou Rodrigues ao veículo de imprensa.
Agati está preso desde janeiro deste ano, quando se entregou após a 23ª Vara da Justiça Federal em Curitiba ter pedido sua prisão a pedido da PF e do MPF em uma operação contra tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro.
Segundo o MPF, ele teria traficado aproximadamente duas toneladas de cocaína para o Sul da Espanha e teria sido parte de consórcio de criminosos que tentou soltar o traficante Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, preso em Moçambique, além de ter sido mandante de assassinatos por roubo de carga de cocaína.
Eduardo Maurício, advogado do empresário, disse à “Piauí” que seu cliente é “um empresário idôneo e legítimo, primário e de bons antecedentes, pai de família, que atua em diversos ramos de negócios lícitos, nacionais e internacionais, sempre com ética e seguindo as leis vigentes e os bons costumes” e provará a inocência ao fim do processo.
Maurício ainda afirmou que a prisão dele foi “ilegal e abusiva” e causou “evidente constrangimento ilegal, já que se colocou à disposição da polícia de livre e espontânea vontade, a fim de colaborar com a Justiça na busca da verdade real dos fatos”.