Por que desempenho de Cássio com os pés surpreende muita gente, menos Diniz? Explicamos
Goleiro de 37 anos não cometeu erros graves com a camisa da Raposa e tornou-se um pilar da equipe
Quando o treinador Fernando Diniz, de 50 anos, chegou ao Cruzeiro, muitos questionamentos foram levantados em relação ao jogo com os pés do goleiro Cássio, de 37 anos, que chegou ao clube ainda na gestão de Fernando Seabra.
Diniz é mundialmente conhecido por seu estilo de jogo de construção curta desde a defesa, para atrair os adversários e assim conseguir quebrar várias linhas de pressão, buscando enfrentar sistemas defensivos desguarnecidos.
E Cássio muitas vezes foi definido como um goleiro de pouca eficiência no jogo com os pés, diferentemente de sua inquestionável habilidade embaixo das traves.
Porém, para Fernando Diniz, isso jamais foi uma questão de preocupação. Desde sua coletiva de apresentação, o técnico reforçou a confiança no icônico goleiro.
— O Cássio é um jogador que tem o estímulo de jogar com os pés, dos tempos do Corinthians. Ele gosta de jogar com o pé e, na minha opinião, discordo de vocês (que Cássio teria problemas para jogar com os pés). Ele tem totais condições de poder jogar com o pé e ajudar o Cruzeiro, como já tem ajudado na temporada — afirmou Diniz, na ocasião.
O treinador ainda apontou que, para ele, o camisa 1 era a solução e não um problema.
— Se vocês analisarem o jogo do Cássio, quando o goleiro começa a ser muito ativo para jogar com os pés, a gente costuma olhar no que ele erra. Mas o Cássio é um goleiro que tem bola média e bola longa muito boa. Dá pra ver nos jogos o Cruzeiro conseguindo fazer ataques que se originaram do pé do Cássio. Então, pra mim, ele faz muito mais parte da solução do que de um problema — argumentou.
E diferentemente do que possa parecer, as declarações de Fernando Diniz não foram protocolares, para ganhar o grupo. O treinador sabia muito bem do que estava falando. E a Trivela te conta os motivos.
Fernando Diniz já possuía longa relação com Cássio
Um dos motivos que reforçaram tanto a confiança de Fernando Diniz com o jogo com os pés de Cássio era a relação prévia entre os dois. O treinador, inclusive, já comentou publicamente sobre essa amizade.
— Quando eu vim para o Cruzeiro, ganhei outro presente (além de ter comandado o ex-cruzeirense Fábio) que é trabalhar com o Cássio, que é um jogador que eu tinha uma relação muito forte sem nunca ter trabalhado com ele — revelou, após a classificação do Cruzeiro para a final da Copa Sul-Americana.
Uma fonte ouvida pela Trivela relatou que a relação da dupla tem um pivô: o preparador de goleiros Marcelo Carpes, também conhecido como “Tchê”.
Carpes foi o responsável por trabalhar com Cássio no início de sua carreira, no sub-17 do Grêmio, e também em seus últimos anos de Corinthians, e pode-se dizer que ele seja o grande responsável pela enorme evolução do “Gigante” no quesito.
Coincidentemente, o preparador também é um dos melhores amigos de Fernando Diniz, com que trabalhou no Audax-SP. Diniz inclusive levou Tchê para a Seleção Brasileira durante seu período no comando da equipe nacional.
Assim, Tchê foi o pilar dessa relação prévia entre Cássio e Diniz, que se consolidou com a parceria no Cruzeiro.
Cássio é ‘mal avaliado' e seu jogo com os pés supera o de Fábio
Informações apuradas pela Trivela contam que apesar da notória evolução do jogo com os pés de Cássio ter acontecido com Tchê, o goleiro já buscava melhorias no quesito sob a tutela de Leandro Idalino, que trabalhou no Timão até 2019.
O que é consenso para todos os ouvidos pela reportagem é que o jogo com os pés de Cássio é mal avaliado.
Há uma concordância, também, em que os erros de Cássio com os pés ficam ainda mais marcados que seus muitos acertos pelo porte físico do atleta, que dá um ar mais “desengonçado” quando ele trabalha com a bola no chão.
Um personagem que trabalhou com Cássio no Corinthians revelou que houve um ano, o qual não conseguiu especificar, em que as ações com os pés do goleiro brasileiro superaram as de Marc Andre Ter-Stegen, goleiro do Barcelona, ficando atrás somente de Manuel Neuer, do Bayern.
“Se vocês pegarem números de acerto de passes dele de 2020 em diante, verão que a média é muito alta. Sem contar que a reposição dele, para mim, é a melhor entre os goleiros do Brasil, atualmente”, apontou a fonte ouvida.
Outro ponto importante apurado pela reportagem foi que Cássio precisou de um trabalho muito menos incisivo que Fábio para a adaptação ao estilo de Fernando Diniz.
Em seus tempos de Fluminense, Diniz passou por um período no qual chegava mais cedo aos treinamentos para trabalhar o jogo com os pés de Fábio, que apresenta muito mais dificuldades que Cássio com a bola no chão.
— Em relação ao Cássio, para mim é uma coisa muito natural. Tiveram um goleiro aqui, com quase mil jogos, que não jogava com o pé. Ele passou a ser figura central no Fluminense, e, com 42 anos, ajudou enormemente que foi o Fábio — afirmou Diniz em sua coletiva de apresentação.
Os números de Cássio jogando com os pés
Cássio faz grande temporada defendendo o gol do Cruzeiro e tem índice de 7.31 gols evitados no Brasileirão desde sua estreia na Raposa. São 62 defesas em 17 jogos.
? Cássio é o goleiro que mais evitou gols no @Brasileirao 2024 desde a estreia pelo @Cruzeiro! ??
⚔ 17 jogos
? 7.31 gols evitados (!)
? 62 defesas (!)
? 35 defesas em finalizações na área (3º!)
? 80% bolas defendidas (3º!)
? Nota Sofascore 7.35 (3º!) pic.twitter.com/r6M7E0nOX0— Sofascore Brasil (@SofascoreBR) November 10, 2024
Seu desempenho com as mãos é incontestável. Porém, o aproveitamento dele com a bola no pé surpreende os mais céticos acerca de suas competências no quesito.
Levando em consideração seu rendimento por Cruzeiro e Corinthians no Brasileirão, são 20 jogos, Cássio tem média de 80% de acerto de passes no geral. Em seu próprio campo, no geral passes mais curtos, a precisão é de 92%.
O número cai quando se trata de passes no meio de campo adversário, indo para 33%. Nas bolas longas, Cássio tem precisão de 50%. Nos passes tensos, as famosas “fatiadas”, mais certeiras, o camisa 1 se destaca ainda mais, com precisão de 68%.
Na Copa Sul-Americana, contando Cruzeiro e Corinthians, os números seguem parecidos. Variando um pouco para baixo.
Além disso, o goleiro não teve erros que levaram a uma finalização adversária nessa temporada. Ele até cometeu um erro que levou a um gol adversário, mas ainda com a camisa do Corinthians.