Brasil

Depay é uma aposta desesperada do Corinthians

Acossado por dívidas e escândalos políticos, presidente Augusto Melo joga tudo na contratação do atacante holandês para fugir do rebaixamento e salvar seu mandato

Foi a notícia da semana no futebol brasileiro. Não teve para NFL e nem para a Seleção Brasileira. A provável contratação (quase concretizada enquanto esse texto é escrito) do atacante holandês Memphis Depay pelo Corinthians ganhou manchetes e mexeu com o imaginário da segunda maior torcida do Brasil.

Prudência no momento que vive o Corinthians é recomendável. O diretor de futebol Fabinho Soldado está na Holanda nesta semana que começou em 8 de setembro para assinar o contrato e trazer Memphis para o Brasil. O jogador exigiu que os exames fossem feitos na Holanda, por médicos de sua confiança.

Na hipótese de que tudo se acerte e o jogador seja anunciado oficialmente pelo Corinthians, é preciso analisar a operação com cautela.

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Por que contratação de Depay tem que ser vista com atenção?

Augusto Melo é um presidente desesperado. Acossado por escândalos administrativos e pela ameaça de rebaixamento, ele precisava da chamada agenda positiva.

Prometeu uma contratação midiática e Memphis Depay apareceu como grande oportunidade. Um jogador efetivamente midiático, de 30 anos, e que estava disponível no mercado.

Por que o destaque da idade? Porque para os grandes clubes europeus, um jogador de 30 anos não justifica grandes investimentos, pois não tem potencial de revenda.

Memphis – como ele não gosta de usar o sobrenome por ter sido abandonado pelo pai, sigo a nomenclatura que ele adota – tem sido um jogador que se destaca mais pela seleção da Holanda do que por clubes.

Tem 46 gols pela Laranja, por quem jogou oficialmente sua partida mais recente, em 10 de julho. Sem comparações técnicas, apenas uma referência factual: como o colombiano James Rodriguez.

A última grande temporada de Memphis por clubes foi a de 2020/21, pelo Lyon, na França. Pela Ligue 1 ele antou 45 gols em 63 partidas. Na temporada 2023/24, atuando pelo Atlético de Madrid, o holandês disputou 23 jogos e fez cinco gols em La Liga.

A oportunidade que se apresentou ao Corinthians é interessante porque, mesmo com os valores envolvidos, por estar sem clube, Memphis sai mais em conta que um atleta empregado.

A transação, calculada em mais de R$ 70 milhões, certamente seria inviável caso o Corinthians precisasse pagar pelos direitos econômicos. Memphis estava livre e não tem agentes, ele é o único cliente da própria empresa de agenciamento de carreira, a Team Depay.

Contratação boa é aquela que dá certo em campo

A primeira vitória de Augusto Melo foi tirar momentaneamente do noticiário a dívida bilionária do Corinthians e a ameaça de impeachment.

Para pagar a contratação na qual está pendurando seu mandato, o dirigente deve utilizar parte do dinheiro do patrocínio de uma casa de apostas, envolvida em polêmica. São 57 milhões para este propósito.

Numa conta arredondada, faltariam 13 milhões para fechar o contrato. Memphis atrai mídia, é um jogador talentoso e carismático, que pode trazer mais recursos financeiros e, caso ajude o time a permanecer na Série A, será a tábua de salvação de Augusto Melo.

Esse tipo de contratação é a nova tendência do futebol brasileiro e escancara um pouco de nossa tragédia como nação boleira.

Para se sustentar, os clubes brasileiros se desfazem cada vez mais cedo de seus maiores talentos. Vini, Rodrygo, Vitor Roque, Endrick, Estevão.

Até mesmo os clubes mais poderosos, como Palmeiras e Flamengo, buscam atletas com mais de 30 anos e sem ou pouco mercado na Europa, mas com apelo junto aos torcedores e mídia.

Clubes que pertencem a grupos com equipes na Europa usam o Brasileirão como incubadora de jovens talentos, avaliando se têm grande potencial para migrar para suas equipes em mercados mais fortes.

Bragantino, Bahia e Botafogo estão nesse grupo. Internacional e São Paulo estão recheados de estrangeiros ou brasileiros repatriados na casa dos 30 para mais.

O lado positivo é a internacionalização do Brasileirão. Um torneio que atrai jogadores da América do Sul em busca dos altos salários pagos pelo Brasil em relação ao continente. Além de europeus em fim de carreira ou em momento de inflexão que busquem uma liga mais competitiva que a Saudita, que proporcione remuneração que não conseguem mais na Europa.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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