Brasil

‘Quando compra um direito, você se torna parceiro comercial de uma federação e isso interrompe a linha editorial’

Colunista Andrey Raychtock falou sobre o assunto no último Trivela FC, que foi transmitido na terça-feira (8)

A CBF está em evidência após a denúncia da reportagem especial da revista “Piauí” que mostrou a farra financeira do presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues.

Durante participação no último Trivela FC, programa no canal da Trivela no YouTube que foi ao ar na última terça-feira (8), o colunista e comentarista Andrey Raychtock comentou sobre as acusações à entidade e o papel do jornalismo esportivo hoje no Brasil.

Quando a mídia se desenvolve para um meio mais audiovisual e o texto impresso perde força, a gente tem algumas consequências. Uma delas é que os veículos de imprensa acaba virando parceiros das federações por causa dos diretos de transmissão, que é o grande negócio do futebol. É muito importantes de veículos de jornalismo geral como a Piauí olhem para o futebol também, porque a maior parte dos jornalistas do Brasil está empregada por meios de audiovisual e os mais qualificados estão em veículos que detêm os direitos de transmissão — disse Andrey.

Andrey Raychtock comentou sobre as novas dinâmicas que surgiram com os direitos de transmissão sendo negociados diretamente entre federações e emissoras. A crítica veio num contexto em que estava sendo debatido a ausência de repercussão sobre as denúncias da “Piauí” na imprensa esportiva brasileira.

Sem acusar ninguém, mas sabemos que quando você compra um direito, você se torna parceiro comercial de uma federação e isso interrompe a linha editorial. É bom ter um olhar de fora. Olhando tudo isso, a gente pensa: ‘Como é ineficiente e varzeada a CBF num mundo cada vez mais profissional'. Mas eu acho que é o contrário. Quando a gente entende para quê serve a CBF e para que ela foi montada, você percebe que ela é um projeto extremamente bem-sucedido — analisou.

A reportagem da revista “Piauí” revelou, dentre outras denúncias, que o presidente da CBF aumentou de R$ 50 mil para R$ 215 mil a remuneração mensal dos presidentes de federações estaduais.

O baiano, que desde 2021 comanda a entidade, bancou as mordomias de 49 brasileiros durante as três semanas que a seleção brasileira disputou na Copa do Mundo de 2022, no Catar. Os valores da viagem chegaram a quase R$ 3 milhões, que saíram dos cofres da CBF.

Mesmo com as denúncias, o mandatário conseguiu se reeleger por aclamação com 100% dos votos dos presidentes das federações estaduais e dos 20 clubes da primeira e segunda divisão nacional, em uma eleição que não teve concorrente.

Ednaldo Rodrigues e Gianni Infantino
Ednaldo Rodrigues (direita) posa ao lado do presidente da FIFA, Gianni Infantino. Foto: Imago

CBF e o apoio das SAFs

Ednaldo Rodrigues também conseguiu atrair o apoio das principais SAFs do futebol brasileiro, algumas que fazem parte de redes internacionais de multiclubes, como o Bahia, com o City Football Group, e o Botafogo, com a Eagle Holdings.

— Esse modelo de negócios da CBF está lidando com desafios que nunca lidou, que são as SAFs. Quando um cara como John Textor, o City Football Group, que vêm de outro país e encontra esse ecossistema, mesmo assim o Ednaldo consegue, com um monte de manobras, se manter no poder com aclamação. Nesse sentido, a CBF é um órgão muito bem-sucedido — finalizou Andrey.

Trivela FC é o nome da live da Trivela que vai ao ar todas as terças-feiras. Comandado por Márcio Júnior, sempre às 15h, o programa conta com a participação dos colunistas Tim Vickery e Andrey Raychtock para debater e contar histórias do que há de melhor e mais interessante no esporte.

Os 10 primeiros episódios que foram ao ar estão disponíveis completos no YouTube da Trivela para você ver e rever. Aproveite e siga o canal da Trivela.

Foto de Márcio Júnior

Márcio JúniorRedator de esportes

Baiano formado pela Faculdade Regional da Bahia. Cobriu de carnaval a Copa do Mundo na TVE Bahia, onde venceu o prêmio de reportagem do mês. Passou pela ALBA, Rádio Educadora, Superesportes e Quinto Quarto antes de se tornar repórter na Trivela.
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