Brasil

O que levou Bruno Henrique a ser indiciado pela PF após investigação sobre cartão amarelo

Nove pessoas, além do atacante do Flamengo, foram nomeadas pela Polícia Federal em indiciamento

O atacante Bruno Henrique, do Flamengo, foi indiciado pela Polícia Federal nesta terça-feira (15). De acordo com a denúncia, obtida inicialmente pelo Metrópoles, o órgão concluiu após uma longa investigação que o jogador teria forçado um cartão amarelo no Brasileirão de 2023, beneficiando apostadores, incluindo familiares e amigos de seu irmão.

De acordo com conversas obtidas pela Polícia Federal, Bruno Henrique informou ao irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, quando tomaria seu terceiro amarelo no campeonato. Quando o atleta cita a partida, Wander responde deixando clara a intenção de apostar: “Já vou guardar o dinheiro investimento com sucesso”.

Wander teria ganhado cerca de R$ 1,18 mil com uma aposta de R$ 380 no cartão do irmão. Mesmos valores obtidos pela esposa de Wander e por uma prima da dupla. A companheira de Wander ainda levou R$ 1,42 mil com uma aposta de R$ 500 em uma segunda casa.

O lance que causou o indiciamento de Bruno Henrique

Deflagrada em novembro de 2024, a Operação Spot-fixing investigava uma possível manipulação do mercado de cartões no confronto entre Flamengo e Santos, ocorrido em novembro de 2023, pelo Campeonato Brasileiro.

Naquele jogo, Bruno Henrique sofreu um cartão amarelo por falta em Soteldo e, na sequência do lance, foi expulso pelo segundo cartão por reclamação.

Segundo a IBIA (Associação Internacional de Integridade em Apostas), 98% das apostas para um jogador receber um cartão estavam direcionadas a Bruno Henrique. Além disso, nove apostas máximas foram feitas em um cartão do atacante em um período de três horas na casa de apostas Betano.

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Por qual crime Bruno Henrique foi indiciado?

Bruno Henrique e seu irmão, Wander, foram indiciados inicialmente no artigo 200 da Lei Geral do Esporte:

Fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de qualquer forma, o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado.

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Ambos também foram indiciadas por estelionato, artigo 171 do Código Penal Brasileiro:

Art. 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.

Pena reclusão, de um a cinco anos, e multa.

A conversa vista como fundamental pela Polícia Federal

Wander: O tio você está com 2 cartão no brasileiro?
Bruno Henrique: Sim
Wander: Quando pessoal mandar tomar o 3 liga nós hein kkkk
Bruno Henrique: Contra o Santos
Wander: Daqui quantas semanas?
Bruno Henrique: Olha aí no Google
Wander: 29 de outubro. Será que você vai aguentar ficar até lá sem cartão kkkkkk
Bruno Henrique: Não vou reclamar. Só se eu entrar forte em alguém
Wander: Boua já vou guardar o dinheiro investimento com sucesso

Quem, além de Bruno Henrique, foi indiciado?

Além de Wander, mais dois familiares aparecem na lista:

  • Ludymilla Araújo Lima, esposa de Wander;
  • Poliana Ester Nunes Cardoso, prima do jogador.

Existe também um grupo de seis pessoas, todas amigas do irmão do jogador:

  • Claudinei Vitor Mosquete Bassan;
  • Rafaela Cristina Elias Bassan;
  • Henrique Mosquete do Nascimento;
  • Andryl Sales Nascimento dos Reis;
  • Max Evangelista Amorim;
  • Douglas Ribeiro Pina Barcelos.

Todas as pessoas citadas foram indiciadas por estelionato.

Como o STJD vê o caso de Bruno Henrique?

Em novembro de 2024, o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva arquivou a denúncia após a empresa Sportradar apresentar um relatório que concluía não existir irregularidades no cartão amarelo recebido por Bruno Henrique.

Veja parte da nota do STJD:

— Em análise desportiva do lance, a Procuradoria constatou que os fatos observados se coadunam com a realidade razoável da prática do futebol.

— A Procuradoria considerou que o alerta não apontou nenhum indício de proveito econômico do atleta, uma vez que os eventuais lucros das apostas reportados no alerta seriam ínfimos, quando comparados ao salário mensal do jogador.

Nesta terça-feira, a posição do tribunal mudou. O STJD pediu que a Polícia Federal envie o relatório ao tribunal para que o caso possa ser analisado novamente.

Bruno Henrique durante o jogo contra o Santos em 2023 (Crédito: Mateus Bonomi/Agif/Gazeta Press)
Bruno Henrique durante o jogo contra o Santos em 2023 (Crédito: Mateus Bonomi/Agif/Gazeta Press)

O que disse Bruno Henrique sobre o caso?

Ao “ge”, a assessoria de Bruno Henrique disse que se não se manifestará sobre o assunto neste momento.

Em 2024, pouco após a operação ser deflagrada, o jogador falou sobre o caso ainda no campo depois da conquista da Copa do Brasil.

Em entrevista ao “SporTV”, o atacante se mostrou incomodado com a forma que tudo aconteceu, com membros da PF indo até sua casa para levar documentos e eletrônicos e outros policiais no Ninho do Urubu. BH reforçou o trabalho mental individual que faz com uma psicóloga para conseguir lidar com esse momento.

— Recebi [a notícia sobre a acusação] de uma forma agressiva. Não esperava a forma que foi. Mas acredito na justiça lá de cima. Deus é um cara que sempre esteve comigo. Minha trajetória desde quando eu comecei a jogar futebol nunca foi fácil, mas Deus foi comigo [momento que a voz embarga]. Eu estou tranquilo em relação a isso com meus advogados, empresário, pessoas que estão comigo nessa batalha comigo — iniciou o jogador.

— Eu só peço que a justiça seja feita. E separar o fora de campo com o dentro de campo. Como falei antes, eu tenho uma pessoa que consegue me ajudar mentalmente, porque não é fácil da forma que foi [divulgada a acusação] — disse.

Questionado pelo jornalista Carlos Eduardo Mansur se ele é inocente no caso, Bruno Henrique garantiu que “sim, com certeza“.

— Eu sou um cara que sempre tive uma vida difícil, nunca foi fácil, e cheguei aqui hoje com muita humildade, respeitando todo mundo, e assim vai ser daqui para frente, quando eu parar de jogar futebol. Só tenho a agradecer a Deus pela minha vida, da minha família. Estou muito feliz hoje pelo título — finalizou.

O que disse o Flamengo sobre o caso?

Ainda na noite desta terça-feira, o Flamengo publicou uma nota sobre o caso, alegando que ainda não recebeu nenhuma comunicação oficial.

O Flamengo não foi comunicado oficialmente por qualquer autoridade pública acerca dos fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa sobre o atleta Bruno Henrique.

O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito.

Foto de Matheus Rocha

Matheus RochaSubcoordenador de conteúdo

Matheus Rocha é natural de Uberlândia, onde se formou em Jornalismo na Unitri em 2014. Começou a carreira no jornalismo na Trivela antes de passar por ExtraTime e Yahoo, participando da cobertura de três Copas do Mundo e cinco Olimpíadas.
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