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Braz se diz vítima em episódio de agressão a torcedor do Flamengo: “Premeditado”

Vice-presidente de futebol do Flamengo disse que foi ameaçado de morte na frente da filha, em pronunciamento no Ninho do Urubu

Depois de se envolver em confusão com torcedor em um shopping na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, o vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, concedeu entrevista coletiva no Ninho do Urubu. O dirigente e vereador explicou o que aconteceu no entrevero em longo papo com os jornalistas no CT do Rubro-Negro.

Marcos Braz estava nervoso durante toda a coletiva

A Trivela estava presente na coletiva do vice-presidente de futebol do Flamengo e observou algumas questões e manias. O nervosismo era claro, muito pela repercussão do caso, e Braz aumentava a voz todas as vezes que comentava sobre a própria filha. O vereador também fez questão de criticar a imprensa durante o pronunciamento e interrompeu algumas perguntas.

Braz afirma que é vítima

— Eu sou vítima, sendo vereador, sendo primeiro suplente de deputado federal, sendo de vice-presidente de futebol do Flamengo. Sistematicamente aqui, em várias situações, sou questionado e nunca retruquei torcedor. Eu nunca tive um problema mais sério com torcedor. Quem em sã consciência vai estar com a filha e mais duas meninas, filhas dos outros, e vai arrumar problema? Porque eu ia optar por essa reação ao lado da minha filha. O que o torcedor vai falar, é o que ele vai falar. Tá certo, vai ser orientado por uma advogada. O meu é que eu estava sendo ameacado de morte, sem uma visão da minha filha. Eu nunca fui vitimizado de nada, nunca me escondia atrás de nada.

O vice-presidente de futebol do Flamengo ainda confirmou que o evento foi premeditado, baseado nas redes sociais e na rapidez com que o vídeo foi divulgado. Depois, frisou que as decisões, agora, serão tomadas pelo poder público e que não está mais em suas mãos.

— É só ir na internet, está sistêmico. A premeditação é clara. O vídeo foi postado 40 segundos depois do ocorrido. O próprio primeiro vídeo, eu não falo nada. Esse vídeo está postado também. Não preciso falar que está premeditado, estava na internet três dias antes  — disse, antes de completar:

— Agora, existe uma delegacia, existe poder público. Não é mais com o Marcos Braz, agora é com o poder público. Talvez, alguém que cagoetou que eu estava no shopping não viu que eu estava com a minha filha. Não sou valente, mas também não vou me ajoelhar. Sou vítima e vou até o final dessa história. Lógico que a justiça pode entender que eu sou louco, mas vou respeitar qualquer decisão —  finalizou.

Entenda o caso entre Braz e um torcedor do Flamengo

Em momento de grande pressão no Flamengo, Marcos Braz foi cobrado por uma dupla de torcedores do clube em um shopping na Barra da Tijuca. Ao ser ameaçado de morte na frente da filha, o dirigente se exaltou e, com a ajuda de um segurança do local, agrediu um dos adeptos no meio do corredor. Segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML), o VP de futebol teve sangramento no nariz, enquanto o rubro-negro acabou mordido na virilha.


O resultado foi uma confusão no local, e Marcos Braz só conseguiu deixar o estabelecimento com escolta de seguranças, sob forte vaia e protestos dos presentes. Dirigente e torcedor foram encaminhados à 16ª Delegacia de Polícia para prestarem depoimentos sobre o caso e foram liberados logo depois. Depois do ocorrido, o clube se posicionou e confirmou que o vice-presidente de futebol é vítima na situação. Ele não foi afastado do cargo.

Braz também esclarece questionamentos sobre a ausência na Câmara dos Vereadores

Vale destacar que Braz ainda foi questionado sobre a falta na sessão extraordinária de terça-feira, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. O vice-presidente de futebol do Flamengo marcou presença de maneira online, mas tomou falta por conta do ocorrido no shopping. Na opinião do vereador, é totalmente normal o que aconteceu.

—  As vezes você faz a presença virtual para ter acesso às informações e declarações dos outros vereadores. Muitas vezes eu não entro no virtual e vou para a câmara. Tenho minha presença validada nesses casos. Posso não estar nessa parte virtual, mas se eu chegar lá 16h, é normal. É o vereador que decide — confirmou.

—  Não existe isso. O vereador vai na casa votar onde quiser. Essa matéria nada tem a ver com Comissão de Ética. Isso é para estupro, assassinato. Eu vou para lá porque estava comprando um presente para a minha filha? Vou conseguir resolver isso antes. Em outras votações, fui contra o empréstimo. Eu sou bastante independente, não voto com o governo sempre, causas LGBT, enfim. Se eu errei é uma coisa, eu fiz a opção de estar com a minha filha um dia antes do aniversário dela. Uma filha que não mora comigo. Foi uma opção minha — finalizou.

Veja o pronunciamento completo de Marcos Braz

“Agradeço por vocês estarem aqui, para esclarecer os fatos, algumas situações e algumas reportagens que não procedem. Com o tempo, a verdade vem aparecendo. Anteontem, eu fui no Barra Shopping comprar um presente para a minha filha, ela fazia 15 anos no dia seguinte, estava comigo. Ela não mora comigo, mora com a mãe. Parei para tomar um café, ela me encontrou lá. Imagina ela com 14 anos e duas amigas, fomos em várias lojas. Quando eu tava dentro da loja. Esses fatos que contei até agora não tem muito a ver com os fatos que sucederam. Eu estava no fundo da loja, duas ou três pessoas e mais algumas no fundo, começaram a fazer cobranças. Nesse momento, que durou alguns minutos, eu não abri a boca. Não falei absolutamente nada. Todas as cobranças, tudo que foi feito, algumas ameaças, não abri a minha boca. Tinha um casal na loja, com recém nascido. Tudo que estou falando aqui vocês vão ver nas imagens. Estou tranquilo com vocês, não com a situação. As pessoas estavam filmando, elas fizeram de tudo, não abri a boca e eles foram embora. Continuei lá, segue aí. Uma pessoa que estava do meu lado me perguntou “é isso mesmo que vocês passam?”, a esposa deve estava até nervosa.

A minha filha chegou, junto com as duas amigas, comentei com pessoas do lado e agradeci que elas não estavam aqui. Brinquei com ela, ela viu o pingente. Quando ela decidiu o que queria, ela sai da loja para ver algo na vitrine. Quando elas foram lá, o rapaz que teve problema apareceu e começou a me ameaçar. Dessa vez foi diferente, minha filha já estava ali. Tanto que nas gravações que eles fizeram, não aparece em nenhum momento eu discutindo com eles, só eles falavam. Alguns irresponsáveis falando que eu estava sozinho, outros falando que eu estava com um segurança, isso é uma vergonha. Com a minha filha na loja, eu falo “vocês já vieram aqui, minha filha está aqui, você está me ameaçando”, mas ele continuou falando. Como a loja é estreita, perdi a visão dela. Elas estavam mais perto dele do que eu, isso estava me incomodando. Uma filha de 14 anos vendo o pai ser ameaçado de morte, isso me tirou do sério. Falei várias vezes que minha filha estava ali. Peço desculpas, mas a última frase foi “foda-se a sua filha”. O final vocês viram. Tenho o problema lá, os fatos vão aparecer, 40 segundos depois já vazaram. Vocês veem que eu saio passando a mão no nariz e procurando a minha filha. Não vou para o estacionamento, não tenho segurança e voltei para a loja, por razões óbvias. Antes de eu subir no mezanino da loja, já estava viralizado. Falei na loja “se a gente tivesse entrado na porrada, se minha filha tivesse algum problema, eles já estavam longe”.

Como o final não foi o que o rapaz achou que fosse acontecer, deu ruim. Eles já estavam se chamando na internet, estou sendo perseguido a tempos aí. Fiquei dentro da loja, os policiais falaram que eu tinha que ir para a Delegacia, pois o evento estava viralizado. Não quis ir ao Hospital, fui depois no Corpo Delito. Fui até a Delegacia, prestei depoimento, deixei claro as ameaças de morte, claro as ameaças junto a minha filha. Depois fui para casa, para tocar a vida de novo.

Eu queria deixar claro que quando aceitei o cargo de vice-presidente de futebol do Flamengo, até por ser criado dentro da Gávea, dentro desse ambiente, eu tinha noção clara do serviço. Sei da pressão, sei dos questionamentos, sei das situações políticas, sei que os resultados as vezes não vem e a gente convive isso. Os jornalistas que conviveram 5 anos aqui sao testemunhas fortes de que eu jamais fiz nada com torcedor, fiz banana, questionei. Convivo bem com a pressão. As vezes a pessoa é acima do tom, mas estou acostumando a questionamentos. São críticas positivas ou não.

Queria deixar claro que o evento que teve no shopping nada tem a ver com pressão, nada tem a ver com contratar mal ou bem, eu não tenho soberba. Agora vocês precisam acreditar em mim, fui ameacado de morte do lado da minha filha de 14 anos. Estou preparado para cumprir minha função, não para isso. Talvez tenha tido uma atitude diferente por isso. Não estou diminuindo a gravidade. Outra coisa é você ser ameacado na internet, outra é um maluco com cara de maluco te ameaçando ali, in loco. Peço desculpas pelo evento, não para a pessoa, mas pelo transtorno que causei. Queria pedir desculpas para a diretoria, torcida do Flamengo, não precisava ter passado por isso. Peço desculpas por não estar preparado para ser ameaçado de morte. Eu não posso ter uma situação sistêmica de ameaça do lado da minha filha.

Queria esclarecer a minha situação na Câmara, até mexeram na matéria, mas o estrago já estava feito. Terças e quintas a presença é on-line. Tenho conhecimento das pautas de 13h até as 16h. A partir daí, você toma falta e é descontado do salário. Fizeram a matéria, mas esqueceram dos detalhes. Eu tomei a falta, não fiz nenhuma legalidade, vou ser descontado. Outra questão é a segurança, eu não tenho nenhum comigo. Os que estavam lá era de shopping. Não foi dessa vez, mas vai ter uma tragedia no futebol. É questão de tempo.

Tenho um cargo de confiança, que é dado pelo atual presidente. Penso e tenho certeza que a gente vai continuar.”

Foto de Guilherme Xavier

Guilherme XavierSetorista

Jornalista formado pela PUC-Rio. Da final da Libertadores a Série A2 do Carioca. Copa do Mundo e Olimpíada na bagagem. Passou por Coluna do Fla e Lance antes de chegar à Trivela, onde apura e escreve sobre o Flamengo desde 2023.
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