Brasil

Botafogo usou seu principal ativo para contratar Rafael: o amor incondicional pelo clube

Após mais de uma década na Europa, o lateral direito ex-Manchester United retorna ao Brasil para defender o seu clube de infância

Não é segredo o quanto a situação do Botafogo é complicada. As dividas, quase em R$ 1 bilhão, são impagáveis. As receitas estão em baixa. Disputa a segunda divisão – de novo – e precisa desesperadamente equacionar as suas contas, seja por meio da sociedade anônima ou por outro caminho que não é muito claro no momento. Porque, enquanto não fizer isso, não existe muita margem de manobra para aumentar investimentos, melhorar o time e voltar a ser competitivo. Até lá, porém, é importante que consiga usar o seu principal ativo para atrair bons jogadores como o lateral direito Rafael. Qual é esse ativo? O amor pela Estrela Solitária.

É a vantagem que acaba tendo em relação à maioria dos clubes do país. Rafael, após uma passagem relativamente de sucesso pelo Manchester United e cinco temporadas pelo Lyon, estava livre no mercado ao fim de seu contrato com o Istambul Basaksehir. Poderia ir para qualquer lugar. Chegou a ser especulado um retorno à Inglaterra. A negociação durou alguns dias e exigiu a ajuda dos dignatários botafoguenses Marcelo Adnet e Felipe Neto, mas não teria ocorrido sem o forte desejo de Rafael de defender o seu clube de infância.

Toda a campanha de marketing tem girado em torno disso. “Sonho de criança” foi a legenda do vídeo oficializando a contratação que era uma possibilidade há mais de um ano. Em entrevista ao UOL em junho de 2020, Rafael chegou a até a citar contatos iniciais com a diretoria do Botafogo, mas ainda estava sob contrato com o Lyon. E o jogador formado pelo Fluminense ainda deu uma dica: se retornasse ao Brasil para defender o Botafogo, seria para ficar.

“Se eu estiver bem no Botafogo, vou querer me aposentar lá. Pode ter certeza que, a partir do momento que voltar ao Brasil, não vou querer voltar para a Europa. A partir do momento que voltar, quero que seja definitivo. Encerrar no Botafogo é o meu pensamento”, disse, também explicando por que é um caso raro de jogador profissional que abriu o coração sobre o clube que torce, mesmo sem nunca tê-lo defendido. Costuma acontecer com mais frequência quando o atleta surgiu naquele clube ou teve uma passagem anterior.

“Não tem por que eu mentir. Muita gente me critica por eu falar abertamente desse amor pelo Botafogo. ‘Por que você faz isso? Você está fechando outras portas’. Cara, eu faço porque é o meu desejo. Se vou jogar no Botafogo, só Deus sabe. É meu desejo e do clube, que já entrou em contato comigo. É deixar acontecer. Se estou fechando porta, eu não sei. Meu desejo está sendo falado e não vou mentir sobre isso”, completou, naquela entrevista ao UOL ano passado. E não fechou portas porque houve outros interessados em seu futebol quando ele acenou com o retorno ao Brasil – Fluminense, Fortaleza e Internacional, segundo o Globo Esporte.

Na Europa, Rafael nunca gerou muitos fogos de artifício, mas teve uma carreira bastante competente. Chegou ao lado do irmão Fábio ao Manchester United em 2008 e foi esporadicamente usado por Alex Ferguson até última temporada do escocês, em 2012/13, quando o brasileiro atuou em 28 rodadas da Premier League, quase todas como titular. Foi seu melhor momento na Inglaterra, justamente no último título inglês dos Red Devils. Seu espaço diminuiu nos anos seguintes, com David Moyes, Ryan Giggs e Louis Van Gaal até sair para o Lyon, em 2015, com 170 partidas e como uma espécie de ídolo cult das arquibancadas de Old Trafford.

Encontrou mais espaço no Lyon, o qual defendeu 139 vezes em cinco anos, embora nunca tenha havido uma edição da liga nacional – nem na França, na Inglaterra – em que entrou em campo mais do que 30 vezes. Fez 28 partidas pelo Istambul Basaksehir na última temporada, mas a maioria aconteceu na primeira metade do calendário europeu – como na vitória por 2 a 1 sobre o Manchester United – e seu último jogo aconteceu no começo de maio, contra o Sivasspor.

Provavelmente terá algum trabalho a fazer antes de começar a contribuir com um time do Botafogo que está em boa fase na Série B, com oito vitórias nas últimas dez rodadas e está em quarto lugar, na briga pelo acesso. Fora dele, já ajudou bastante para inflamar a torcida e também terá um papel em ações de marketing e na impulsão no programa de sócios que se chama Camisa 7 – não por coincidência o mesmo número que Rafael usará.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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