Brasil

As três controvérsias de BAP no início de gestão à frente do Flamengo

Novo presidente rubro-negro acumula êxitos dentro de campo, mas polêmicas fora dele

Eleito presidente do Flamengo em dezembro do ano passado, Luiz Eduardo Baptista, o BAP, prometeu “profissionalizar o futebol” do clube e “ganhar tudo”. Nos primeiros quatro meses à frente do Rubro-Negro, o novo mandatário vem cumprindo o que afirmou.

Afinal, o Mais Querido conquistou todos os títulos que disputou até o momento na temporada, e o trabalho de José Boto, diretor de futebol contratado por BAP, tem sido bastante elogiado internamente. Campeão da Supercopa Rei, Taça Guanabara e Campeonato Carioca, o Flamengo versão 2025, em campo, vive uma verdadeira lua de mel com sua torcida.

Mas e fora dele? Abaixo, a Trivela separou três ações no mínimo controvérsias do novo presidente rubro-negro neste seu início de gestão.

1. Demissões em massa no Flamengo, descumprindo promessa de campanha

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CT Ninho do Urubu (Foto: Adriano Fontes/Flamengo)

Estou gravando esse vídeo aqui para tranquilizar vocês. Não se deixem levar por essas mentiras que estão chegando aos nossos ouvidos, de que, se a nossa chapa vencer as eleições, vai haver uma demissão generalizada no clube. Isso é mentira

A declaração destacada acima foi feita por BAP no dia 26 de novembro de 2024, pouco menos de duas semanas antes da eleição. A demissão em massa, no entanto, aconteceu, e logo nos primeiros dias da nova gestão. 

Está certo que houve casos de contratados que ocupavam as chamadas funções “de confiança”. Logo, em situações assim, é normal que tais profissionais deixem seus cargos na troca de comando do clube. Mas as demissões não se limitaram a essas circunstâncias. Pelo contrário. 

Profissionais de diversas áreas, situados em diferentes níveis hierárquicos dentro do Flamengo, foram avaliados em tempo “recorde” e perderam seus empregos. No futebol de base, por exemplo, mais de 50 pessoas, entre funcionários e jogadores, acabaram desligadas

O roteiro se repetiu na comunicação, jurídico e esportes olímpicos, mas talvez o caso mais emblemático tenha ocorrido no departamento médico. Em entrevista ao blog do jornalista Mauro Cezar Pereira, BAP respondeu ter feito uma avaliação justa dos funcionários demitidos. 

— O que se espalhava no clube era um terrorismo generalizado. Ocorreram mudanças relacionadas com o que pregamos ao longo da campanha. O clube tem quase 2.000 colaboradores. Mudanças ocorreram em menos de 40 casos, sendo que cinco em funções inexistentes anteriormente. Houve alguns casos em que funcionários do clube se engajaram em campanha política, o que é proibido. Então alguns foram desligados por uma questão de conduta profissional. A avaliação dos profissionais desligados foi feita ao longo do tempo. 

Sai Tannure, entra Runco, e o DM do Flamengo segue preocupante

Médicos, fisiologistas, fisioterapeutas e nutricionistas, da categoria profissional e base, deixaram o Flamengo na primeira semana da gestão BAP — no total, foram quase 40 demissões. A repercussão negativa interna em relação ao número excessivo de desligamentos, porém, fez o clube recuar e rever algumas saídas. 

Marcio Tannure, então gerente de saúde e alto rendimento, foi demitido após 23 anos no Flamengo. José Luiz Runco, ex-seleção brasileira e desafeto de Tannure, retornou ao Mais Querido, dessa vez ocupando o cargo de diretor médico geral — ele responde pelo departamento médico de todas as pastas.

A reformulação no DM rubro-negro, entretanto, não solucionou o grande temor do torcedor: o acúmulo de lesões. No ano passado, foram 30 contusões registradas. Número alarmante que, ao que tudo indica, não será muito diferente esse ano.

Em 2025, Bruno Henrique, Michael, Arrascaeta, Everton Cebolinha, Juninho, Danilo e Alex Sandro já frequentaram o DM rubro-negro.

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2. Aumento do preço dos ingressos

CARIOCA 2025, FLAMENGO x VASCO
Torcida do Flamengo presente no Setor Norte do Maracanã, em clássico contra o Vasco (Foto: Icon Sport)

O início de ano do Flamengo não tem sido com arquibancadas lotadas em todos os jogos. Na Taça Guanabara, por exemplo, a média de público caiu drasticamente. Em 2025, foram 21.176 pagantes, número bem abaixo dos 39.248 registrados em 2024.

Em quase todas as partidas da primeira fase do Campeonato Carioca, a diretoria rubro-negra praticou o mesmo valor. O ingresso com preço cheio mais barato foi de R$ 60 (no Setor Sul) em jogos normais, e R$ 80 em clássicos (no Setor Norte).

O mais caro custou R$ 450, no setor Maracanã Mais. A Norte, onde ficam as principais organizadas, custou R$ 80 em todos os jogos, já a Leste Superior R$ 100 e a Inferior R$ 120. A Oeste Inferior saiu por R$ 140, enquanto os espaços Fla+ na Leste e na Oeste custaram R$ 200.

Na última rodada da Taça Guanabara de 2024, os valores eram mais baixos. Norte e Sul custaram R$ 50 no preço cheio, Leste Superior R$ 60 e Inferior R$ 80. A Oeste Inferior, por sua vez, foi R$ 120, e o Maracanã Mais R$ 400.

Alvo de muitas críticas, BAP defendeu o reajuste dos bilhetes e citou a qualidade do elenco flamenguista para justificar o aumento dos preços.

Os custos do Maracanã, do Rio de Janeiro, do time do Flamengo e do futebol hoje em dia estão inflacionados. Não dá para praticar menos do que isso. Menos do que isso a gente perde dinheiro, aí você não pode ter um time como o que a gente tem hoje aqui, alegrando o coração de 45 milhões — disse o presidente no dia 22 de fevereiro, após a vitória sobre o Maricá.

Campeonato Brasileiro deve seguir a mesma toada

O Flamengo estreou no Campeonato Brasileiro no último sábado (29), contra o Internacional, no Maracanã. A primeira partida do clube da Gávea na competição de pontos corridos teve ingressos mais caros que no ano passado — em 2024, o Fla estreou em casa somente na segunda rodada.

Em comparação com 2024, as entradas aumentaram de 11% no Maracanã Mais até 50% no Oeste Inferior. Veja a tabela abaixo:

2025: Flamengo x Internacional — 1ª rodada (estreia no Maracanã)2024: Flamengo x São Paulo — 2ª rodada (estreia no Maracanã)
Norte — R$ 100 (meia R$ 50)Norte — R$ 80 (meia R$ 40)
Sul — R$ 80 (meia R$ 40)Sul — R$ 80 (meia R$ 40)
Leste Superior — (setor não foi aberto)Leste Superior — R$ 100 (meia R$ 50)
Leste Inferior — R$ 140 (meia R$ 70)Leste Inferior — R$ 120 (meia R$ 60)
Oeste Inferior — R$ 180 (meia R$ 90)Oeste Inferior — R$ 120 (meia R$ 60)
Maracanã Mais — R$ 500 (meia R$ 287,50)Maracanã Mais — R$ 450 (meia R$ 262,50)

3. A não assinatura de manifesto contra o racismo

Na última semana, a Libra, liga que reúne clubes das Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro, divulgou nota de repúdio a uma declaração polêmica do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, que utilizou o termo “chita” (chimpanzé no filme “Tarzan”) para se referir a equipes brasileiras.

Integrante do grupo, o Flamengo foi o único clube que se recusou a assinar o manifesto.

Em nota individual, o time carioca garantiu lutar “contra qualquer forma de racismo e discriminação há muito tempo”, porém pontuou que as relações institucionais com a Conmebol devem ser conduzidas pela CBF, já que é a entidade que representa oficialmente as equipes brasileiras nas competições sul-americanas. 

A postura irritou os flamenguistas. Nas redes sociais, diversos torcedores rubro-negros repreenderam a não assinatura do documento e classificaram BAP como “elitista”. Apesar da pressão, o mandatário não voltou atrás na decisão.

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BAP com a Taça Guanabara (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

BAP apoia o discurso da Conmebol

Antes do sorteio da Libertadores 2025, Alejandro Domínguez falou em português sobre as medidas para combater o racismo em jogos de futebol na América do Sul. Bap aprovou o discurso de Domínguez e disse entender a “luta” da entidade para combater o preconceito no futebol do continente. Na visão do presidente do Flamengo, os clubes não devem ser punidos por atos racistas de torcedores. 

Achei o discurso adequado e ponderado. É sempre importante lembrar que, em que pese o racismo ser algo odioso e que no Brasil é crime, nos outros 10 países da Conmebol não é. Entendo o desafio da Conmebol de lidar com 10 governos que não têm a visão que o brasileiro teve. Ele colocou muito bem que é um aspecto cultural. Para nós no Brasil é crime e para eles não.

— Sobre as penalidades, é sempre importante pensar o quanto você deve punir um clube pela atitude de uma ou outra pessoa que faz parte da sociedade e está ali no estádio. É uma situação bastante delicada. Tem de haver o repúdio e o combate, mas a coisa da punição… você se prepara o ano inteiro, disputa um campeonato inteiro. Chega lá e porque uma pessoa é racista pune seu clube e você cai de uma Libertadores? É uma coisa delicada. Há de se discutir o tamanho da punição porque punir o clube é complicado. 

Foto de Guilherme Calvano

Guilherme CalvanoRedator

Jornalista pela UNESA, nascido e criado no Rio de Janeiro. Cobriu o Flamengo no Coluna do Fla e o Chelsea no Blues of Stamford. Na Trivela, é redator e escreve sobre futebol brasileiro e internacional.
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