Brasil

Dia das Crianças: como Atlético-MG iniciou tradição adotada até em Copa do Mundo

Atlético-MG foi o primeiro time no mundo a colocar várias crianças para entrarem em campo com os jogadores, tradição mundial hoje em dia

Crianças entrando em campo ao lado dos jogadores é uma das marcas que vemos ao redor de todo o mundo, inclusive na principal competição do planeta, a Copa do Mundo. O que poucos sabem é que essa ação começou no Brasil, mais especificamente no Mineirão, através do Clube Atlético Mineiro.

Em 1976, o Atlético passava por alguns problemas financeiros e precisava arrecadar mais dinheiro através de bilheteria. Diretor de relações públicas do clube, Ronan Ramos Oliveira, que é também um dos grandes nomes do jornalismo mineiro, teve a ideia de realizar o sonho de quase todas as crianças, que é encontrar seus ídolos no futebol e entrar em um campo de futebol. Assim nasceram os “mascotinhos”, que são presença confirmada em quase todos os jogos ao redor do mundo hoje.

O Atlético e os mascotinhos

Ronan precisava de uma ideia para atrair mais torcedores e arrecadar mais dinheiro. O foco dele foi nas crianças, pois levando uma criança, quase que obrigatoriamente você tem que levar, no mínimo, um adulto. Na época, havia apenas registros de uma ou duas crianças entrando em campo, geralmente filhos(as) de presidente ou algo do tipo: “Sabia que se levasse a criança como mascote ao campo, levaria também seus pais. Se posso levar um, por que não levar onze, pensei”, disse Ronan em entrevista ao Cafés Imaginários, em 2013.

Mas a ideia de Ronan não foi criada da forma como conhecemos hoje, que qualquer pai pode pleitear para que seu filho entre em campo com qualquer jogador de um time. O diretor queria que as crianças fossem “sósias” dos atletas. Ou seja, era necessário que a criança que fosse entrar com Reinaldo, por exemplo, fosse parecida com ele. O mesmo para todos os outros jogadores. Por conta dessa ideia, a estreia dos mascotinhos atrasou, mas aconteceu no dia 5 de setembro de 1976, quando o Atlético venceu o América por 1 a 0, com gol do Rei. Por sugestão do Galo, o Coelho também teve seus mascotinhos na entrada em campo.

Ortiz, goleiro do Atlético em 1976 e um dos mais difíceis de encontrar um sósia (Arquivo/GaloDigital)

A curiosidade é que os jogadores atleticanos só sabiam que teria uma novidade, mas não sabiam que seriam as crianças: “Eles só ficaram sabendo no dia do jogo. Na véspera, correu a notícia que o Departamento de Relações Públicas ia apresentar uma surpresa para a torcida. Curiosidade total. No dia, os jogadores a cada minuto chegavam à porta do vestiário para ver as crianças e o susto era geral, porque eram 11 sósias dos que iam entrar em campo”.

Essa ação pensada por Ronan se espalhou no estado, no Brasil e em todo o mundo. O ex-diretor atleticano disse que pesquisou em jornais, livros e revistas antes de 1976, conversou com jogadores veteranos e profissionais da imprensa mais antigos, e não ouviu de nenhum deles um relato sobre a entrada das crianças em campo. Quase 50 anos depois, as crianças seguem entrando com os atletas, e o Galo é um dos que mais presa por isso, seja dentro ou fora de casa.

Tradição oficializada na Fifa

A ideia de Ronan que rodou o mundo chegou até a entidade máxima do futebol. Em 2001, em parceria com a UNICEF, a Fifa oficializou a incorporação de entradas de crianças com jogadores nas partidas de futebol. A diferença é que ela estabeleceu algumas regras. Por exemplo, na Copa do Mundo, só pode entrar uma criança por jogador e eles precisam ter comportamento exemplar: entrar, cantar o hino e sair, tudo “sem fazer graça”.

Os mascotinhos do Brasil na Copa do Mundo de 2014 (Icon Sport)

Outra grande entidade que adotou a ação das crianças foi a UEFA, que, assim como a Fifa, coloca as crianças para entrarem com os jogadores na principal competição de clubes do mundo, a Champions League. Mais recentemente, essas entidades também passaram a incluir crianças para entrarem também com a arbitragem das partidas. Atualmente, com as várias câmeras espalhadas nos estádios, é comum elas flagrarem a alegria dos jovens ao entrarem com seus ídolos.

No Brasil, há diferentes regras nos campeonatos. Nos que são organizados pela CBF, como o Campeonato Brasileiro, há um limite de 22 crianças por time, ou seja, dois para cada jogador do time titular. Já em outras competições, como o Campeonato Mineiro, o número de crianças é ilimitado. A forma como cada clube seleciona as crianças varia. No Galo, por exemplo, é um benefício para o sócio torcedor nos jogos do Brasileirão. Em outros lugares do mundo, como na Premier League, os clubes chegam a cobrar valores altos para os pequenos entrarem em campo com as grandes estrelas.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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