A Supercopa eterniza um superjogo e marca o ápice em emoção da disputa Palmeiras versus Flamengo
O Palmeiras venceu o Flamengo por 4 a 3, num jogo que entregou demais em emoção, em vontade e em requintes de qualidade

A Supercopa do Brasil é um oásis no calendário do futebol brasileiro. Uma final entre equipes que vêm de um ano vitorioso, após longos meses de férias dos clubes e no meio dos arrastados estaduais. Mesmo que não seja a partida mais importante da temporada, a Supercopa tem entregado jogos excelentes. Une times sedentos por novos títulos, ao mesmo tempo que não é uma derrota que vai ser tão lamentada depois. Assim, natural que os adversários entrem em campo de peito aberto, mas sem menosprezar a atmosfera de uma decisão. E o que se viu no Mané Garrincha, neste sábado, foi uma partida memorável. Junte no caldeirão a expressa qualidade de Palmeiras e Flamengo como os dois times mais fortes do Brasil nos últimos anos, com a rixa crescente entre os clubes. Resultado: um eletrizante 4 a 3 de golaços, reviravoltas e vibração incessante. Melhor ao Palmeiras, que virou no primeiro tempo e reagiu duas vezes no segundo tempo após levar o empate.
A Supercopa do Brasil começou grandiosa antes mesmo que a bola rolasse. A necessária homenagem a Pelé criou um clima especial no Estádio Mané Garrincha. As filhas do Rei estiveram em campo, com as réplicas da Jules Rimet em mãos, ao lado do presidente da CBF. Um bandeirão com a imagem do Atleta do Século foi estendido nas arquibancadas, enquanto o telão exibiu um vídeo em tributo.
Quando a decisão se iniciou, ainda levou um tempo para a partida engrenar. Era um jogo mais tenso, de reclamações e poucas chances. Nada melhor que o gol, então, para promover a descarga de adrenalina. E o primeiro saiu aos 26, no pênalti convertido por Gabigol. No entanto, o Palmeiras conseguiu uma reação contundente ainda na etapa inicial. Os alviverdes ganhavam o meio-campo e eram bem mais diretos em suas ações. Rondaram até o empate de Raphael Veiga, atento na área, aos 38 minutos. Dudu também foi ótimo no lance. Os palmeirenses permaneceram martelando e viraram com o golaço de Gabriel Menino, aos 45. Um chute com potência e precisão, que beliscou a trave e não deu chance a Santos.
O segundo tempo manteve o ritmo altíssimo. O Flamengo voltou com a faca entre os dentes. Weverton realizou duas defesaças, antes que o novo empate surgisse aos seis. Méritos de Everton Ribeiro, com uma enfiada de bola sensacional. Méritos de Gabigol, gelado em sua finalização por cima de Weverton, em mais um lindo tento. Só que o Palmeiras de novo manteve a cabeça no lugar para não se abalar. Retomou a vantagem logo aos 14, num pênalti bobo cometido por Everton Ribeiro. Raphael Veiga guardou. O Mané Garrincha explodia, entre expectativa e regozijo.
Não dava nem para piscar diante do campo. E o Flamengo pôde desfrutar do empate logo aos 16 minutos. Afinal, o gol de Pedro é mesmo para se apreciar: depois do passe de Ayrton Lucas, o desvio de calcanhar do centroavante foi puro requinte. A Supercopa oferecia tudo: emoção, vontade, qualidade. A temperatura subiu neste momento, com discussões entre os jogadores e cartão até para o banco de reservas. Os times também acionavam seu banco e a entrada de Mayke no lugar de Endrick reconfigurava o Palmeiras. A esta altura, ficava difícil cravar qualquer tendência, num duelo lá e cá. Prova disso veio aos 22: Santos fez uma defesaça contra Rony e, no contra-ataque, Marcos Rocha deu um carrinho cirúrgico em Pedro, de frente para o crime.
A essa altura, a partida estava extremamente corrida. Os times atacavam com mais velocidade que cautela. Todavia, o Palmeiras chegava mais vezes. E conseguiu o quarto gol nessa sequência, aos 29, com capricho. Dudu serviu Veiga, o passe rasteiro passou por Rony e chegou em Gabriel Menino. O meio-campista nem pegou bem na bola, mas o efeito o ajudou a marcar de novo, numa atuação iluminada. O Flamengo mexeria com Cebolinha, Matheuzinho e depois Vidal. Enquanto isso, Gabriel Menino deu lugar a Danilo. Aos 42, uma troca tripla incluiu Breno Lopes, Luan e Rafael Navarro do lado alviverde, além de Matheus França no rubro-negro.
Os minutos finais concentraram a partida de um só lado do campo. O Flamengo tentava espremer o Palmeiras para conseguir o empate. A pressão era incessante e a bola rondava a entrada da área, mas os alviverdes conseguiam segurar a bronca. Apesar disso, num jogo tão imprevisível, não dava para cravar nada. E os oito minutos de acréscimos davam tempo a uma reviravolta. Jaílson quase anotou o quinto do Palmeiras, num chute cruzado que desviou em David Luiz e passou perto da trave. Abel Ferreira logo depois foi expulso por chutar o microfone, revoltado por marcarem tiro de meta. E a perda de tempo auxiliava os palmeirenses, com os nervos à flor da pele em campo. Apesar de mais dois minutos acrescidos, o Flamengo não conseguiria a nova igualdade. Teve uma cabeçada de Thiago Maia no último minuto, mas a bola saiu. A festa alviverde, enfim, era possível.
O Flamengo x Palmeiras de 2021 e o Atlético Mineiro x Flamengo de 2022 já tinham sido ótimos. O espetáculo da Supercopa em 2023 supera ainda mais esse passado recente, num troféu inédito para o Palmeiras. E fica uma impressão forte de que os dois times voltarão a competir em alto nível na sequência da temporada. O Flamengo vinha mais badalado pelos reforços, mas Gérson não foi bem desta vez e a ausência de João Gomes foi sentida, especialmente pela vulnerabilidade na defesa. Melhor ao Palmeiras, que resolveu a saída de Danilo dentro de casa, com a partidaça de Gabriel Menino, renovado para essa nova etapa de sua carreira. Coletivamente, a equipe de Abel Ferreira é mais madura e isso se explicitou.