BrasilBrasileirão Série A

A consumação de duas tragédias já anunciadas: O rebaixamento de América Mineiro e Santa Cruz

A tragédia se consumou restando ainda três rodadas para o término do campeonato, mas o desfecho era sabido há tempos. América Mineiro e Santa Cruz passaram boa parte do Brasileirão como favoritíssimos ao rebaixamento. Caíram nesta quarta, ambos derrotados. Os pernambucanos não resistiram ao Coritiba no Couto Pereira, também lutando para não cair, mas em uma situação já confortável. Já os mineiros sucumbiram diante do Flamengo no Mineirão, em uma campanha que até viveu melhores momentos nas últimas semanas. Resta a resignação a duas torcidas que comemoraram títulos em maio, mas viram o trabalho sucumbir.

Os exemplos de América e Santa Cruz, aliás, ressaltam a maneira como o desempenho no estadual não pode ser enganoso. Mesmo ficando com a taça, o desnível em relação ao Brasileiro é considerável. A maratona se faz em grau de exigência maior e depende da profundidade do elenco, não apenas de um ou dois jogos fortuitos. E resultado para os dois acabou sendo irremediável, com o retorno à segunda divisão apenas um ano após o acesso.

Desde o início do campeonato, o América surgiu como um dos favoritos à queda. O título do Campeonato Mineiro servia de sopro de esperança, que não durou nada com o início da campanha. A conquista não foi suficiente para segurar Givanildo Oliveira no cargo, diante dos maus resultados, e parecia que o Coelho poderia registrar a pior campanha dos pontos corridos. Desde agosto, houve uma leve recuperação, com 18 dos 27 pontos somados a partir de então. Serviu para lavar a dignidade do elenco, mas não para a salvação.

Alguns jogadores do América podem esperar novas oportunidades na elite para o próximo ano. O goleiro João Ricardo, o lateral Jonas e o meia Danilo Barcelos conseguiram certo destaque ao longo da campanha. De qualquer maneira, o desnível do Coelho era mais do que evidente. Difícil esperar uma campanha sustentável, até com o baixo engajamento da torcida em torno do time. O retorno à primeira divisão é um marco digno em relação à história americana, mas a elite não é o lugar do clube atualmente.

O Santa Cruz, por sua vez, decepcionou por aquilo que prometia. Logicamente, evitar a queda seguia como objetivo principal dos tricolores. Ainda assim, havia a expectativa de que a permanência coral na primeira divisão pudesse ser um pouco mais tranquila. É um clube de massa, que vive uma gestão digna de elogios e com alguns bons jogadores como protagonistas. Além do estadual, também havia conquistado a Copa do Nordeste. No início, foi possível se transformar em sensação, com a arrancada comandada por Grafite e a surpreendente liderança. Não passou de maio.

Faltou uma base de jogadores melhor encaixada, diante do elenco inchado e das contratações excessivas. Faltou coragem para barrar alguns jogadores que não vinham rendendo o esperado. Faltou um pouco mais de consciência sobre a realidade, priorizando mais a defesa, que se desestruturou principalmente após a saída de Alemão. Ao final, restou a imagem da equipe que emendou a série negativa e teve dificuldades até mesmo para levar sua apaixonada torcida ao Arruda – este, tema para outro texto aqui na Trivela nos próximos dias. O sucesso repentino de Milton Mendes não resistiu à má fase, Doriva não conseguiu revertê-la e o time coral caiu com o interino Adriano Teixeira no comando.

Olhando para a estrutura, o Santa Cruz tem força para retornar em breve na Série A, especialmente se conseguir manter alguns de seus protagonistas. No entanto, cabe lembrar os passos acelerados dados pelos tricolores nos últimos anos, desde a conquista da Série D. O planejamento precisa ser feito de maneira mais consistente, e aproveitando o potencial que o clube possui para atrair patrocinadores e torcedores, dentro da realidade em que está inserido. A luta pelo acesso será retomada em 2017. Mas já com os erros deste ano assimilados, para tentar fazer diferente e buscar uma estabilidade mais duradoura. O Santa tem grandeza suficiente para alcançar isso, embora seus retornos à elite na última década sejam marcados pelo rebaixamento logo em seguida.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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