Uruguai demorou para encontrar o seu melhor futebol – e quando o fez, foi tarde demais
Os sul-americanos, enfim, fizeram um bom jogo na Copa do Mundo, que acabou sendo insuficiente para a classificação às oitavas

Após dois jogos muito fracos, o Uruguai havia finalmente aparecido na Copa do Mundo do Catar. Abriu 2 a 0 contra Gana, após Sergio Rochet defender um pênalti, e estava se classificando graças ao empate entre Coreia do Sul e Portugal na outra partida. No entanto, Hwang Hee-chan marcou para os asiáticos aos 46 minutos do segundo tempo. O resultado eliminava o Uruguai que, desesperado, tentou encontrar o gol salvador. Não conseguiu. No fim das contas, encontrou o seu melhor futebol tarde demais.
Diego Alonso substituiu o maestro Óscar Tabárez para salvar a campanha do Uruguai nas Eliminatórias Sul-Americanas. Não apenas conseguiu em resultados, como fez o time apresentar um futebol melhor. Essa evolução, porém, não foi vista nas duas primeiras rodadas, e a sua condução da fase de grupos passou longe da perfeição. Ainda foi eliminado porque Portugal levou uma virada improvável da Coreia do Sul, mas não deveria ter chegado à última rodada precisando de outros resultados para se classificar.
A atuação contra Gana, principalmente no primeiro tempo, mostrou que o Uruguai tinha recursos para fazer mais nas outras partidas. No entanto, pareceu um time sem identidade ofensiva. Durante o renascimento sob o comando de Tabárez, a fórmula era simples: aplicação defensiva e bola em Cavani e Suárez. Os veteranos não têm mais a mesma vitalidade, mas, acima de tudo, o talento à disposição da seleção uruguaia não é mais tão limitado. Não é mais necessário apenas buscar as duas lendas – que nem chegaram a atuar juntas.
Darwin Núñez, em uma fase técnica bastante complicada, tem pelo menos a energia para emular (fisicamente) um Cavani do passado, e o plano ofensivo uruguaio contra Coreia do Sul e Portugal indicava certa confusão. Alguns lançamentos sem propósito. Quando tinha a transição, cadenciava. Na segunda partida, Cavani entrou no lugar de Suárez, fazendo uma dupla com Núñez muito forte pelo alto. Alonso escalou três zagueiros e abriu alas, sugerindo que buscaria a jogada aérea. Cruzou menos que na estreia.
Federico Valverde é uma das sensações da temporada europeia, atuando quase como ponta direita pelo Real Madrid. A sua chegada à área para finalizar de média distância tornou-se uma das armas mais mortais dos últimos meses, mas Alonso não soube utilizá-la. Valverde ficou muito preso na maior parte do tempo, como um segundo meia central, aproximando-se pouco do ataque, onde pode ser tão perigoso.
Arrascaeta nem saiu do banco contra a Coreia do Sul e teve alguns minutos diante de Portugal. Perdeu uma chance clara, preferindo um toquinho por cobertura na saída de Diogo Costa. Para um jogador que precisava convencer o técnico a escalá-lo, não foi a melhor decisão, mas Alonso lhe deu a oportunidade que era tão cobrada. Além de grande jogador do Flamengo, Arrascaeta foi importante ao longo do último ciclo, com atuações decisivas nas Eliminatórias. E dá um toque de criatividade para o Uruguai que vai além dos dois gols que marcou contra os africanos.
Nessa terceira partida, Alonso finalmente encontrou a melhor formação. Ou pelo menos algo mais próximo dela, com Arrascaeta pela esquerda, Rodrigo Bentancur e Valverde pelo meio. Ainda faltaria encontrar uma alternativa melhor na direita para Facundo Pellistri, que colecionou atuações fracas, mas foi um Uruguai muito mais perigoso. Em que se pese a fragilidade defensiva de Gana, finalmente acelerou quando recuperava a bola, conseguiu ter Núñez como um preparador, envolveu melhor o que Suárez ainda pode oferecer e poderia até feito mais do que dois gols.
Deveria e precisaria ter feito mais do que dois gols, e as suas trocas serão contestadas, principalmente as saídas de Núñez e Arrascaeta, aos 35 minutos do segundo tempo. Em defesa de Alonso, a situação parecia mesmo confortável, mas bastava um gol para tudo mudar. Quando mudou, o Uruguai ainda teve cerca de dez minutos para tentar se classificar pelo saldo. O jogo estava aberto, parecia uma pelada, Gana havia desistido completamente de se defender.
Mas o desespero falou mais alto. O Uruguai não conseguiu manter a cabeça fria para aproveitar os espaços. Até teve chances, mas não conseguiu encontrar o gol da classificação, e o problema foi ter deixado para procurá-lo tão tarde em sua campanha na Copa do Mundo. Era para ter feito mais contra a Coreia do Sul. Poderia ter feito mais contra Portugal. Até dava para ter ampliado contra Gana quando o jogo estava morto. Não fez nada disso e agora faz as malas para voltar para casa.