O Universitario foi campeão peruano na casa do Alianza e nem o apagão impediu a volta olímpica
O Universitario venceu a final do Campeonato Peruano em pleno Matute, o que impediu o tri do rival Alianza e botou os cremas no topo do país após dez anos de jejum

O Universitario lavou a alma com a conquista do Campeonato Peruano de 2023. Foi um título para os torcedores cremas não mais se esquecerem, depois de dez anos sem a taça – igualado o maior jejum da história do clube. A final trazia o clássico contra o Alianza Lima, em duelo entre os vencedores dos turnos da Liga 1. O Universitario até vencia a ida em casa, mas cedeu o empate por 1 a 1 nos acréscimos. Já nesta quarta-feira, La U impediu o tricampeonato dos rivais com o triunfo em plena casa aliancista. Dentro do Estádio Matute, a equipe dirigida por Jorge Fossati ganhou por 2 a 0 e pôde celebrar a volta ao topo do país depois de uma década.
Obviamente, o “Matutazo” teve sua dose de confusão. Durante os minutos finais, pouco depois que o Universitario anotou o segundo gol, torcedores do Alianza Lima atiraram sinalizadores em campo. Ainda assim, a cena mais insólita aconteceu logo após o apito final. Quando os jogadores do Universitario começavam a celebrar a conquista, um apagão tomou conta do estádio. A transmissão sequer pôde exibir direito os festejos dos campeões, numa ação claramente proposital dos aliancistas. Foram maus perdedores. A volta olímpica de La U aconteceu sob a luz dos celulares dos jogadores e dos sinalizadores da torcida visitante. Não tinha iluminação sequer para as entrevistas dos vencedores.
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— Universitario (@Universitario) November 9, 2023
Esse é o 27° título do Universitario na história do Campeonato Peruano. É um troféu importante, especialmente por aumentar a vantagem na lista de campeões da Liga 1. O Alianza Lima vinha encostando com seus 25 títulos, enquanto o Sporting Cristal também reduziu a diferença com 20. A virada do século não é muito prolífica para os cremas, com só quatro canecos desde 2001, contra sete dos aliancistas e também sete dos cervejeiros. Além disso, o Universitario impediu que o Alianza registrasse um tricampeonato, o que o clube não consegue desde os anos 1930 e que não se vê no país desde 2000 – quando a própria La U tinha conseguido três taças consecutivas.
A campanha
A década de seca do Universitario teve poucos momentos de real destaque no Campeonato Peruano. Desde 2014, a equipe tinha conseguido no máximo um vice na Liga 1. Aconteceu em 2020, quando chegou à decisão contra o Sporting Cristal, mas acabou superada em duelos sem torcedores no Estádio Nacional. La U enfrentou momentos de crise financeira e administrativa, que inclusive culminaram em sanções nos tribunais. A quinta colocação na temporada de 2022 refletia bastante o tempo de vacas magras, embora a recuperação econômica mais recente permitisse investimentos.
Jorge Fossati chegou como uma grande aposta do Universitario. O treinador de 70 anos possui um currículo que fala por si, com troféus em diferentes países e um sucesso marcante especialmente nos tempos de LDU Quito. Tinha voltado ao Uruguai mais recentemente, à frente de River Plate e Danubio, mas La U ofereceu um projeto interessante. Já em campo, uma série de contratações chegou. Entre os estrangeiros, o grande destaque ficava para Emanuel Herrera, que teve ótima passagem pelo Sporting Cristal e estava no futebol mexicano. Também vieram figuras com história na seleção peruana, como Álex Valera, Horacio Calcaterra e Edison Flores – este, de volta ao Monumental U depois de sete anos no exterior. Juntavam-se a outros companheiros da Blanquirroja no elenco, como o capitão Aldo Corzo, José Carvallo e Andy Polo.
O Universitario ainda levou um tempo para engrenar no Campeonato Peruano. A equipe teve um desempenho ruim no início do Torneio Apertura e não conseguiu buscar o prejuízo quando despertou. Terminou na terceira colocação, oito pontos abaixo do rival Alianza Lima no topo da tabela. Com isso, os aliancistas se garantiram na decisão. Já o início do Clausura se combinou com um momento vergonhoso para o Universitario, em meio aos episódios de racismo contra o Corinthians na Copa Sul-Americana. Porém, a queda no torneio continental permitiu que La U concentrasse forças na Liga 1. Foi quando se recuperou e criou chances para buscar o troféu.
O Universitario sofreu apenas uma derrota no Clausura, com 39 pontos, que valeram a conquista do segundo turno. A definição ainda se arrastou até a última rodada, com Melgar, Alianza Lima e Sporting Cristal na cola, mas La U cumpriu a missão ao derrotar o Sport Huancayo. Com o título simbólico, o Universitario ganhou a chance de desafiar o Alianza Lima, vencedor do primeiro turno, nas finais do Campeonato Peruano. De quebra, os dois rivais se confirmaram direto na fase de grupos da Libertadores 2024. Sporting Cristal e Melgar disputarão as fases classificatórias do torneio continental.
As finais
A partida de ida das finais do Campeonato Peruano não teve o melhor resultado para o Universitario. Dentro do Monumental U, os cremas foram claramente superiores, mas cederam o empate por 1 a 1 no final. La U teve um gol anulado de forma discutível e perdeu um caminhão de chances, mas também ganhou um pênalti questionável por toque no braço de Hernán Barcos. Alex Valera abriu o placar aos 18 minutos da etapa final. Entretanto, no único bom ataque do Alianza, o empate saiu aos 49, num tiro seco de Gabriel Costa.
Por ter a melhor campanha geral, o Alianza Lima tinha o direito de decidir a volta em casa, no Matute. Contudo, o Universitario estava mais embalado e fez justiça em relação ao que foi a primeira partida. Venceu por 2 a 0 e selou a conquista na casa dos rivais. O gol precoce de Edison Flores logo aos três minutos ajudou demais. Num lance de seleção, Andy Polo escapou pela direita e cruzou para a cabeçada do atacante. A pressão aliancista não era suficiente e sequer testava o goleiro José Carvallo. Assim, La U continuava mais perigosa e fechou a contagem aos 37 do segundo tempo. Calcaterra pegou uma bola limpa na intermediária e botou uma curva venenosa rumo ao ângulo, sem chances ao goleiro Ángelo Campos. Pintura. A torcida da casa via tudo atônita. Já depois do apito final, prevaleceu o apagão e o vexame dos anfitriões.
O título valoriza a história de Jorge Fossati. O treinador consegue ser campeão no quinto país diferente: já tinha vencido as ligas de Uruguai, Equador, Paraguai e Catar. Já em campo, figuras importantes do futebol peruano voltam ao topo. Veteranos como Carvallo, Corzo e Emanuel Herrera foram centrais à conquista. Álex Valera e Luis Urruti anotaram gols importantes, assim como Andy Polo ofereceu assistências providenciais. Já Edison Flores chegou apenas na reta final, mas fez sua estrela brilhar como prata da casa. O gol desta quarta-feira no Matute consagra o atacante como ídolo dos cremas. Vale mencionar ainda o meia Piero Quispe, mais jovem da base titular e que começa a ganhar espaço na seleção.
Até pela média de idade elevada deste time do Universitario, o título talvez não corresponda ao início de uma dinastia. No entanto, a conquista do Campeonato Peruano já representa demais por si. Era um troféu que a torcida esperava faz tempo e que veio com contornos épicos. Jorge Fossati conseguiu romper uma barreira que durante tantos anos pareceu intransponível. E com jogadores que, ao menos no curto prazo, poderão sustentar as ambições de La U para que o hiato não se alongue novamente.