Treinado pelo ídolo Dudamel, o Deportivo Cali é campeão do Finalización e encerra um jejum de seis anos
Dudamel assumiu o time fora da zona de classificação e emendou uma sequência excepcional para terminar com o décimo título do Deportivo Cali

Rafael Dudamel representa uma página importante na história do Deportivo Cali. O venezuelano é considerado um dos maiores goleiros dos verdiblancos, ao brilhar na equipe que conquistou o Campeonato Colombiano em 1998 e disputou a final da Libertadores em 1999. E, como técnico, o veterano também eterniza seu nome no clube, ao liderar a conquista do Torneio Finalización de 2021 nesta quarta-feira. O Deportivo Cali tinha uma missão dura no segundo jogo da final, ao visitar o Deportes Tolima, após empatar a ida dentro de casa. De virada, os Azucareros buscaram a vitória por 2 a 1 em Ibagué e celebraram o seu décimo título nacional, encerrando um jejum que durou por seis anos.
O Deportivo Cali é o quarto clube com mais títulos na história do Campeonato Colombiano. O ápice aconteceu entre os anos 1960 e 1970, com cinco troféus, quando os verdiblancos disputaram sua primeira final de Libertadores. Outro período forte se deu no fim dos anos 1990, época em que o time levou mais duas taças e reapareceu na decisão continental. Todavia, o atual século é de mais vices que conquistas aos Azucareros. Atlético Nacional e América de Cali ultrapassaram o Deportivo Cali no total de títulos, enquanto Junior de Barranquilla e Independiente Santa Fe aproveitaram os últimos anos para se aproximarem na tabela histórica.
Mesmo com a inauguração recente de seu estádio em 2010, o Deportivo Cali não deu um salto de desempenho na última década. Até levou o troféu em 2015, para botar fim a um jejum de dez anos na liga nacional, mas longe de exibir tanta regularidade. Nas dez edições do Campeonato Colombiano seguintes ao título, os verdiblancos participaram dos mata-matas em oito, mas somente uma vez alcançaram de novo a final – derrotados pelo Atlético Nacional no Apertura de 2017. O costume era sucumbir nas quartas de final.
O roteiro do Deportivo Cali no Apertura de 2021 não fugiu muito do sofrimento habitual da torcida, após as vendas de jogadores importantes como Agustín Palavecino (River Plate) e Déiber Caicedo (Vancouver Whitecaps). Os verdiblancos terminaram na quarta colocação da fase de classificação, mas encerraram a campanha nas quartas de final, eliminados pelo Tolima – que já tinha despachado o Cali na primeira fase da Copa Sul-Americana e viria a ser o campeão do Apertura. Para piorar, a própria campanha no Finalización não animava muito em seu início. Nas oito primeiras rodadas, os Azucareros sofreram quatro derrotas e ganharam apenas dois jogos. Ocupavam o modesto 13° lugar na tabela e optaram por demitir o técnico uruguaio Alfredo Arias. Foi quando surgiu a brecha para o retorno de Dudamel ao clube de seus amores.
Dudamel não vinha de trabalhos tão inspiradores assim antes de assumir o Deportivo Cali. O venezuelano teve campanhas surpreendentes na seleção de seu país, tanto com o sub-20 quanto com o time principal. Porém, durou meses no Atlético Mineiro e também não emplacou na Universidad de Chile. A confiança dos verdiblancos era no ambiente que ele conhecia tão bem em Cali. Mas não que o início tenha sido tão fácil assim. A estreia já aconteceu no clássico contra o América, com vitória dos Diabos Vermelhos por 1 a 0. Neste momento, os Azucareros ocupavam o 15° lugar no Finalización e ficavam a cinco pontos da zona de classificação.
A reação do Deportivo Cali começou a partir de então, com um empate diante do Tolima. O time se aproveitou da tabela mais tranquila na reta final do Finalización e emendou nove partidas de invencibilidade, com seis vitórias no período. Assim, conseguiu se consolidar na zona de classificação e nem mesmo a derrota para o Jaguares na penúltima rodada atrapalhou. O maior entrevero neste intervalo ocorreu em outubro, nas semifinais da Copa da Colômbia, quando as decisões da arbitragem na classificação do Atlético Nacional geraram enorme ruído no país. De qualquer maneira, os verdiblancos seguiam no páreo pelo Finalización.
O Deportivo Cali avançou na sétima posição da fase de classificação, mas o quadrangular semifinal do Finalización garantia um campeonato praticamente novo. Os verdiblancos estavam num grupo cascudo ao lado de Atlético Nacional, Junior de Barranquilla e Deportivo Pereira. O time de Dudamel compensou, ao crescer no momento certo e sobrar na chave para garantir a vaga na final, graças à primeira colocação. Foram quatro vitórias e um empate nas cinco primeiras rodadas, que encaminharam a classificação por antecipação. Dudamel pôde até poupar forças no último compromisso, antes que ocorressem as finais contra o Tolima. A chance de revanche, depois das eliminações no Apertura e na Copa Sul-Americana.
O primeiro jogo em Cali contou com um clima fantástico nas arquibancadas. Todavia, o empate por 1 a 1 parecia dificultar a vida do Deportivo Cali. Melhor no primeiro tempo, o time da casa conseguiu abrir a contagem aos 42 minutos, num rebote que o artilheiro Harold Preciado arrematou. Só que o Tolima garantiu a igualdade no início da segunda etapa, em escanteio fechado que Gustavo Ramírez desviou. Na reta final, o goleiro William Cuesta faria ótimas defesas para evitar o segundo tento de Preciado.
O reencontro nesta quarta, em Ibagué, via a torcida do Tolima sedenta por um bicampeonato no mesmo ano que não ocorria no Campeonato Colombiano desde 2013. E o jogo pareceu se abrir aos Pijaos logo aos 14 minutos, num escanteio de Daniel Cataño que Julián Quiñones completou de cabeça para as redes. A sequência do primeiro tempo seria de pressão do Deportivo Cali, que chegou a quase 70% de posse de bola, mas não criou oportunidades tão boas assim para empatar.
Exposto aos contra-ataques, o Deportivo Cali quase tomou o segundo gol no início do segundo tempo. O Tolima criou duas ótimas chances, mas parou no goleiro Guillermo de Amores. E a reação começou aos 14, num lindo pivô de Ángelo Rodríguez para Jhon Vásquez arrancar o empate. O gol não diminuiu a intensidade dos verdiblancos, que perderam dois bons lances com o capitão Téo Gutiérrez. Mas a virada não demorou, num pênalti assinalado por toque de mão. Aos 30, Harold Preciado chutou forte e superou o goleiro Cuesta na marca da cal. Na reta final, o Tolima tentou uma pressão desesperada, sem muito efeito. A décima estrela se bordaria mesmo no peito dos Azucareros.
A conquista do Deportivo Cali contou com algumas figuras preponderantes. Harold Preciado foi o grande protagonista do time, com 13 gols anotados no Finalización, oito deles apenas na fase decisiva. Téo Gutiérrez, contratado do Junior em agosto, também auxiliou por seu poder de decisão e experiência – ao lado do igualmente rodado Ángelo Rodríguez. No meio-campo, jovens como Andrés Colorado, Jhojan Valencia e Andrés Balanta deram sustentação aos verdiblancos. Já na defesa, a combinação entre o garoto Jorge Marsiglia e o veterano Hernán Menosse valeu bastante, enquanto o uruguaio Guillermo de Amores seria importante no gol.
A conquista do Deportivo Cali confirma a equipe na fase de grupos da Copa Libertadores, assim como o Tolima, enquanto Millonarios (adversário do Fluminense) e Atlético Nacional jogarão as preliminares. Os verdiblancos, ao menos no papel, não indicam uma equipe tão forte quanto outros representantes colombianos que tiveram destaque continental na última década. A maneira como o time pegou embalo na fase decisiva do Finalización, entretanto, talvez permita ao clube impor respeito além das fronteiras. E será interessante ver a volta por cima de Dudamel. Eliminado cedo na Sul-Americana com Atlético Mineiro e Universidad de Chile, terá a chance de estrear como técnico na Libertadores. Aos torcedores do Deportivo Cali, a história do ex-goleiro na competição inspira sonhos.