Entre promessas e últimas danças, esse é o grande charme da Libertadores
Longe da Europa, o papel aqui é representar o seu povo com dignidade, e, também, fornecer talento para o mundo desfrutar

Alguém viu o Vélez Sarsfield contra o Peñarol na quarta-feira pela Libertadores? Não foi tão fácil assistir. Durante muito tempo, tratou-se de uma disputa entre dois times desfilando as suas limitações. Mas quem ficou até o final foi premiado — e talvez, neste sentido, o jogo sirva como símbolo da Copa Libertadores hoje em dia.
Seria demais esperar a mesma qualidade do espetáculo da Liga dos Campeões. O talento dos quatro cantos do mundo está no outro lado do Atlântico. Os grandes clubes brasileiros estão se colocando num patamar onde, esperamos, sejam capazes de competir com os europeus. Mas o papel dos outros é, principalmente, representar o seu povo e as suas cores com dignidade, e, também, fornecer talento para o mundo desfrutar. E, de vez em quando, que talento!
A Libertadores e os seus símbolos
O Peñarol estava vencendo — uma bela jogada coletiva finalizada por Leo Fernandez, ex-Fluminense. Para o Vélez, perder era um desastre. O início do ano já tem sido muito ruim, e com uma derrota em casa ficariam bem prejudicadas as possibilidades de sair vivo da fase de grupos na Libertadores. E depois de criar pouco ou nada durante 78 minutos, o Vélez conseguiu virar o jogo — com dois gols de adolescentes bem promissores.
O gol de empate veio de um belo chute de primeira de Maher Carrizo, um canhoto de 19 anos. Ganhou destaque na reta final do ano passado, defendeu bem a seleção argentina no início do ano no torneio continental sub-20 e parece pronto para aceitar responsabilidades bem adultos.
Mas o momento mais mágico foi no último minuto. Martin Campaña, o goleiro veterano de Penarol, não conseguiu segurar um chute, e lá para marcar com o rebote foi Álvaro Montoro, 17 anos, quem entrou do banco no segundo tempo.
✅️ Primer gol.
✅️ Primer gol en la Libertadores.
✅️ Gol para ganar sobre la hora.
✅️ Festejo y grito a la altura.ÁLVARO MONTORO 🔥 pic.twitter.com/rLf0FrsCRC
— Vélez Sarsfield (@Velez) April 3, 2025
O gol de Carrizo foi melhor. Mas o de Montoro foi mais importante. Fica na história. Foi o primeiro gol de um jovem visto com uma das grandes promessas do futebol argentino.
Lembra um pouco a estreia como titular de Estevão um ano atrás. Veio contra o Liverpool do Uruguai na Libertadores, e também houve gol da grande promessa. Não estou argumentando que Montoro é mais que Estevão — isso seria maluquice. Mas o momento foi melhor ainda. O de Estevão foi mais um de uma vitória fácil.
O de Montoro foi dramático e decisivo numa partida muito difícil. Vamos supor que realmente vire um grande jogador. Qualquer um que acompanhou o jogo, no estádio ou pela televisão, vai poder recordar com prazer (até alguns torcedores de Peñarol) que a gente estava lá no início.
🧙♂️🪄 ¡Marino Hinestroza y toda su magia en la victoria de @nacionaloficial 🇨🇴!#LaMagiaDeVerdad @CocaColaAr pic.twitter.com/HkXpswDMfE
— CONMEBOL Libertadores (@Libertadores) April 3, 2025
Um outro jogador que estreou muito bem na Libertadores foi Marino Hinestroza, do Atlético Nacional. O colombiano tem 22 anos, e já passou por Brasil, México e Estados Unidos. A volta para casa parece que fez bem. Atacando a partir do lado direito, fez um jogo magnífico contra o Nacional do Uruguai, marcando o primeiro gol e dando as assistências para os outros na vitória por 3 a 0.
Depois do jogo de quarta-feira, a mídia local já está doida para ver ele na seleção. A Libertadores, então, já lançou muitas carreiras. E também às vezes serve para oferecer uma última dança para um nome famoso.
Foi emocionante, na terça-feira, assistir Roque Santa Cruz, 43 anos, entrar para os minutos finais da vitória do Libertad contra o Alianza Lima. Lembro que vi o atacante paraguaio pela primeira vez na antiga Copa Mercosul — em 1998! No ano seguinte foi contratado pelo Bayern de Munique, com a expectativa de que iria virar um dos melhores jogadores do mundo. As lesões complicaram muito a sua trajetória no futebol.
Mas mesmo assim, tem sido uma bela carreira. Bem, a gente não está vendo os atuais melhores do planeta na Libertadores. Mas uma grande parte do charme da competição é a chance de ver jogadores como Santa Cruz pela última vez — e promessas como Montoro e Hinostroza pela primeira vez.