América do Sul

Invicto desde março, o Deportivo Táchira é campeão venezuelano com muitos méritos

O Deportivo Táchira foi líder das duas fases de classificação do Campeonato Venezuelano, mas precisou disputar uma decisão contra o Caracas e venceu os rivais nos pênaltis

O Deportivo Táchira precisou vencer uma maratona ao longo da temporada, mas se provou como o melhor time do Campeonato Venezuelano neste sábado. Os aurinegros terminaram na primeira colocação da fase de classificação e também lideraram o quadrangular semifinal. Porém, o título seria definido ainda numa finalíssima em jogo único, com a vantagem de receber o rival Caracas em San Cristóbal. O Táchira chegou a correr riscos, com o empate por 1 a 1 se arrastando até o fim da prorrogação. Ainda assim, a vitória por 4 a 1 nos pênaltis confirmou a merecida taça dos aurinegros. O Táchira completou 29 partidas de invencibilidade na liga, recorde histórico do futebol venezuelano. A equipe não sabe o que é perder desde 11 de março, com 18 vitórias e 11 empates desde então.

O Deportivo Táchira conquista o Campeonato Venezuelano pela décima vez. Os aurinegros vivem um dos períodos mais relevantes de sua história, com cinco desses troféus acumulados nos últimos 15 anos. E a conquista melhorou a situação do clube de San Cristóbal na tabela histórica da liga nacional. Maior vencedor do país, o Caracas tem duas taças a mais, 12 no total. A principal rivalidade nacional tende a esquentar com essa corrida nos próximos anos.

Deportivo Táchira e Caracas estarão na fase de grupos da Libertadores. Os classificados para as preliminares são Academia Puerto Cabello e Portuguesa. A Academia Puerto Cabello chama atenção como estreante, mas a volta do Portuguesa Fútbol Club é até mais relevante: participante costumeiro do torneio continental nos anos 1970 e 1980, quando teve até Jairzinho, o Penta não disputava o torneio há 40 anos. As vagas na Sul-Americana foram preenchidas por Carabobo, Deportivo La Guaira, Metropolitanos e Rayo Zuliano. Já o Mineros de Guayana foi rebaixado depois de 40 anos consecutivos na elite.

A campanha do Táchira

O Campeonato Venezuelano tem uma fase de classificação com turno e returno, em que os quatro primeiros colocados passam à próxima etapa. O Deportivo Táchira se impôs desde então. Foram 19 vitórias e apenas duas derrotas em 28 rodadas, com 47 gols anotados e 17 sofridos. Os aurinegros somaram 64 pontos, quatro a mais que a Academia Puerto Cabello, que até passou mais rodadas na primeira colocação. A largada do Táchira não foi tão boa assim, com suas duas derrotas logo nas primeiras seis rodadas. Já o Caracas foi apenas o quarto colocado, 19 pontos atrás dos rivais. Porém, a pontuação zerava na segunda fase, um quadrangular semifinal em que os dois primeiros colocados avançariam à decisão.

De novo, o Deportivo Táchira provou sua superioridade. Somou 12 pontos, com três vitórias e três empates. E se a Academia Puerto Cabello perdeu forças, o Caracas aproveitou para dar um salto na tabela. Ficou na segunda posição, com nove pontos. Seria o desafiante do Táchira na finalíssima, com o maior clássico nacional colocando em xeque a sequência invicta dos líderes.

A partida em San Cristóbal permaneceu amarrada durante quase todo o tempo. O gol do Deportivo Táchira saiu apenas aos 39 da segunda etapa. Yerson Chacón acertou um lindo cruzamento e o garoto Jean Franco Castillo, que tinha saído do banco, emendou a cabeçada nas redes. Contudo, o Caracas arrancou o empate aos 46. Numa falta cobrada em direção à área, Bryant Ortega se meteu de carrinho para conseguir forçar a prorrogação. Durante o tempo extra, o Táchira até ficou com um homem a mais, após a expulsão de Manuel Sulbarán aos 13 do primeiro tempo. Contudo, os aurinegros não aproveitaram e foram para a loteria dos pênaltis.

Ao menos, a competência na marca da cal confirmou o Deportivo Táchira como melhor time do Campeonato Venezuelano. Os aurinegros foram perfeitos nas cobranças, com gols de Gonzalo Ritacco, Maurice Cova, Esli García e Carlos Vivas. Já o Caracas só converteu uma de suas três batidas. O arqueiro Alejandro Araque cresceu na meta aurinegra, inclusive ao pegar o chute de cavadinha de Bryant Ortega. O goleiro botou a faixa no peito de sua equipe.

O Táchira é comandado por Eduardo Saragó, treinador de 41 anos que começou bem cedo e possui 15 anos de experiência na elite do futebol local. É o seu segundo título no Campeonato Venezuelano, após ter sido campeão com o Deportivo Lara em 2011/12. Também foi vice à frente do Zamora e possui uma Copa Venezuela pelo Caracas. Consegue agora fazer um trabalho relevante pelo quarto clube distinto. Já em campo, nomes como Maurice Cova e Gonzalo Ritacco se destacaram. Contribuíram a uma campanha histórica.

É verdade que a invencibilidade do Táchira esconde algumas instabilidades. No início da arrancada, os aurinegros abusaram dos empates. Além disso, o time também caiu na primeira fase da Copa Sul-Americana, diante do Estudiantes de Mérida, ainda no início de março. De qualquer maneira, passar quase nove meses sem perder um jogo sequer é algo fantástico. Resta saber o barulho que o time fará na Libertadores, de volta à fase de grupos após oito anos. Naquela ocasião, o Táchira passou até às oitavas. Terá repercussão agora, num momento de alta do futebol venezuelano por tudo aquilo que se vive com a seleção.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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