O roteiro das oitavas de final da Libertadores
Oito duelos, e a batalha de vida ou morte pela conquista das Américas começa nesta quarta-feira. Os mata-matas da Libertadores 2014 são um pouco diferentes do que estamos acostumados a ver. Pela primeira vez desde 2000, os brasileiros não são maioria, com apenas três representantes – um a menos que a Argentina. Mesmo assim, o Brasil foi o único que emplacou dois times na primeira colocação, em um grupo de líderes com sete nacionalidades, recorde desde que o torneio deixou de ter sua primeira fase dividida por países. Uma competição de maior diversidade, que não tira seu peso nem seu interesse.
>>> Balanço da fase de grupos da Libertadores
Atlético Mineiro, Cruzeiro e Grêmio são os brasileiros que seguem no sonho da conquista (ou, no caso dos três, da reconquista) continental. Estão entre os favoritos, assim como Vélez Sarsfield e San Lorenzo, os estrangeiros que parecem ter mais pecha para levantar a taça. Mas, em uma edição com tantas surpresas, não é bom descartar azarões como o Defensor, o Santos Laguna, o Bolívar e o León. Neste ponto, aliás, é que está a maior peculiaridade desta Libertadores. Se é a mais surpreendente dos últimos tempos, também é a mais imprevisível.
Tabela de confrontos (jogos de ida na casa do primeiro time)
Nacional-PAR x Vélez Sarsfield-ARG (23 de abril / 29 de abril)
San Lorenzo-ARG x Grêmio (23 de abril / 30 de abril)
Lanús-ARG x Santos Laguna-MEX (16 de abril / 23 de abril)
Atlético Nacional-COL x Atlético Mineiro-BRA (23 de abril / 1º de maio)
The Strongest-BOL x Defensor-URU (17 de abril / 29 de abril)
León-MEX x Bolívar-BOL (16 de abril / 22 de abril)
Cruzeiro-BRA x Cerro Porteño-PAR (16 de abril / 30 de abril)
Arsenal-ARG x Unión Española-CHI (24 de abril / 30 de abril)
O jogão
Grêmio x San Lorenzo
De um lado, o líder do grupo mais difícil da história da Libertadores. O vice-campeão brasileiro, que tenta o tricampeonato continental. Do outro, o protagonista da classificação mais milagrosa. O campeão argentino, que persegue o título que tanto lhe falta. Se o peso das camisas já seria suficiente para tornar memoráveis as batalhas de Porto Alegre e Buenos Aires, o contexto engrandece ainda mais os dois jogões que se desenham. O Grêmio saiu muito melhor do que a encomenda no ‘grupo da morte’, tanto por medalhões com Barcos e Zé Roberto justificarem suas famas, quanto pela explosão de talentos como Ramiro e Luan. Já o San Lorenzo veio errante durante a maior parte da campanha, mas também provou sua qualidade ao ser empurrado à classificação por sua torcida fanática, bem como pelo ímpeto de Ignacio Piatti, grande destaque individual. Enquanto os gremistas querem se refazer da goleada na final do Gauchão e dar o troco de peso incomparável no Internacional com uma façanha na Libertadores, os cuervos vão na fé de que o Papa Francisco é mesmo o maior reforço de sua história.
Reyes de Copas
Atlético Mineiro x Atlético Nacional
Somente um duelo dessas oitavas de final da Libertadores reúne dois times que já foram campeões do torneio. O ‘clássico dos Atléticos’ põe frente a frente adversários que nunca se cruzaram por torneios continentais, mas que mesmo assim promete, pela fase recente da dupla. A campanha do Galo na fase de grupos não manteve a aura do que os alvinegros fizeram no último ano, embora ainda se trate dos atuais donos da taça. E nunca se pode menosprezar uma equipe com Ronaldinho tirando os coelhos da cartola e Victor fazendo seus milagres no gol, por mais que Paulo Autuori tome suas decisões contestáveis. Já do outro lado, o Atlético Nacional é um rival misterioso. Será a equipe que se debateu inutilmente contra o Grêmio ou que engoliu o Newell’s? Em todo caso, é bom ficar de olho em Sherman Cárdenas e Edwin Cardona, os maestros de um ataque muito técnico. A favor dos mineiros, também o retrospecto desfavorável dos Verdolagas contra equipes brasileiras.
Os ascendentes
Cerro Porteño x Cruzeiro
Nenhum outro time foi melhor do que o Cruzeiro nas duas rodadas finais da Libertadores. Os mineiros precisavam de duas vitórias e conseguiram de maneira irrefutável, fazendo funcionar o melhor ataque da fase de grupos. De qualquer forma, os atuais campeões ficaram devendo e prometem deixar para trás a imagem ruim do início de campanha. Para tanto, o entrosamento de seus homens de frente é essencial, com as ótimas combinações de Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart, Willian e Júlio Baptista. O problema é que do outro lado o Cerro Porteño também cresceu na copa, em um grupo no qual não parecia tão favorito assim. O grande nome da campanha é o veterano Julio dos Santos, autor de cinco dos dez gols do Ciclón no Grupo 3 e artilheiro da Libertadores. Embora não tenha deixado saudades, o meio-campista conhece bem a Raposa, de suas passagens por Grêmio e Atlético Paranaense.
As incógnitas
Santos Laguna x Lanús
O desempenho na fase de grupos às vezes pode enganar. E nenhum confronto é mais matreiro do que este. O Santos Laguna conta com um ataque com potencial e tem a terceira melhor campanha até o momento. Só que os adversários da chave no qual o mexicano triunfou não passam tanta confiança assim – Deportivo Anzoátegui, um Peñarol muito aquém de sua tradição e o Arsenal, lanterna do Argentino. Enquanto isso, o Lanús suou sangue para avançar, mas em um dos grupos mais equilibrados da história do torneio, com Cerro Porteño, O’Higgins e Deportivo Cali impondo desafios maiores. O favoritismo ainda é dos mexicanos, mas não dá para menosprezar os argentinos, ainda mais com o Estádio de La Fortaleza para ajudar.
Vale sua torcida
Vélez Sarsfield x Nacional
O Vélez foi, mais uma vez, o time mais forte da Libertadores. E sem muitas dúvidas quanto a isso. A defesa liderada por Sebá Dominguez se manteve segura, enquanto a dupla de ataque formada por Lucas Pratto e Mauro Zárate é a de maior qualidade do certame. Em um ano no qual os brasileiros são menos numerosos, o Fortín é favoritíssimo para ir longe. Assim como para esmagar o Nacional. Só que não dá para negar o carisma do time paraguaio, que geralmente serve de saco de pancadas na Libertadores, mas desta vez surpreendeu com sua primeira classificação aos mata-matas. Dono do PORTAL MÍSTICO, o Tricolor espera por outra chance de fazer história. Difícil ficar indiferente a tanta simpatia, por mais que o Vélez também conte com bastante torcida no Brasil – ainda mais por ser o principal antagonista dos clubes brasileiros que permanecem vivos.
O reencontro (desnecessário)
León x Bolívar
A Conmebol segue com a questionável regra de definir os confrontos das oitavas a partir da classificação na fase de grupos. E quase todo ano dois clubes que já se pegaram na primeira fase voltam a se encontrar nos mata-matas. Desta vez, o reencontro é por conta dos dois carrascos do Flamengo, León e Bolívar. É lógico que dá para esperar por bons jogos, até pelo retrospecto: os mexicanos foram superiores no empate por 1 a 1 em La Paz, enquanto os bolivianos arrancaram uma surpreendente vitória na visita a Guanajuato. Por mais que o time de Xabier Azkargorta tenha sido o melhor do Grupo 7, pelos confrontos diretos a impressão de favoritismo é do León. O conjunto celeste é mais bem encaixado, mas os talentos individuais de Carlos Peña e Mauro Boselli podem pesar.
O cara
Gustavo Canales
A troca constante de clubes talvez tenha atrapalhado uma notoriedade maior, mas Gustavo Canales é um dos melhores centroavantes que surgiram no futebol chileno durante os últimos anos. Um dos destaques na Universidad de Chile de Jorge Sampaoli, o argentino está em sua terceira passagem pela Unión Española. Talvez a melhor. Foi o grande nome do time que empurrou o Botafogo do penhasco, carregando a Fúria Roja em vários momentos da competição. Dono de uma presença de área enorme, Canales dará trabalho ao Arsenal, que confia em sua defesa (a terceira menos vazada entre os classificados) para segurá-lo.
O brasileiro
Felipe Gedoz
Ramiro, Ricardo Goulart e Victor jogaram muito bem. Mas o maior destaque individual do Brasil na fase de grupos da Libertadores atua fora do país. Se a campanha do Defensor foi tão boa, muito disso se deve a Felipe Gedoz. O gaúcho foi o maestro do time, coordenando o jogo ofensivo, além de garantir uma arma poderosa nas bolas paradas. São quatro gols no torneio, que explicam o porquê do Cruzeiro ter passado tantos apuros. Ao seu lado, De Arrascaeta é outro que merece cuidado especial do Strongest, dono de uma defesa frágil demais para levar a crer que segurará os Violetas.
O forasteiro
Dani Güiza
Não são muitos os jogadores de fora das Américas que costumam se destacar na Libertadores. Entretanto, esta edição do torneio possui uma exceção. Güiza chegou ao Cerro Porteño sob muitos olhares tortos. Um campeão com a seleção espanhola, em franca decadência, indo se aventurar no Paraguai. Mas depois de superar o período de adaptação, o centroavante se mostra bem entrosado no Ciclón. Foi fundamental na classificação, autor de três gols na fase de grupos, e merece um pouco mais de atenção da defesa do Cruzeiro.
O paredão
Agustín Marchesín
O goleiro do Lanús teve grandes créditos na conquista da Copa Sul-Americana de 2013. E está ainda mais espetacular na Libertadores. Sua atuação contra o O’Higgins, no jogo que garantiu a classificação dos argentinos, está entre as melhores de um arqueiro nos últimos anos do torneio continental. Camisa 1 seguro e de ótimos reflexos, Marchesín agora terá a difícil missão de segurar o ataque do Santos Laguna, comandado por Oribe Peralta e Darwin Quintero. Nenhum de seus adversários na fase de grupos tinha tanto poder de fogo assim.
A novidade
Martín Palermo
Já que Anelka não fechou com o Atlético Mineiro, a principal novidade para os mata-matas é Palermo, centroavante que se tornou sinônimo de Libertadores. O maior artilheiro da história do Boca Juniors também foi essencial para escrever a história gloriosa dos xeneizes na América durante os anos 2000. Agora, porém, o artilheiro é apenas um técnico principiante. E terá como missão resgatar o Arsenal, que resolveu mudar seu comando mais pela campanha horrível no Torneio Final, do qual é o lanterna. Na Libertadores, os portenhos tiveram o quarto melhor desempenho da fase de grupos, o melhor entre os segundos colocados. Ao menos no duelo contra a Unión Española, a preocupação do ex-comandante do Godoy Cruz não é tão grande.
O alçapão
Estádio Hernando Siles
Cinco clubes classificados tiveram 100% de aproveitamento em casa na fase de grupos: Vélez, Arsenal, Santos Laguna, Cerro Porteño e Strongest. No entanto, quando se nota os sete pontos conquistados pelo Bolívar, não dá para negar que o estádio que mais faz diferença no campeonato é mesmo o Hernando Siles, de La Paz. A altitude é um fantasma para quem chega à capital boliviana. E isso, somado ao bom encaixe das equipes da capital neste ano, resulta mesmo em campanhas surpreendentes. Todo cuidado é pouco para Defensor e León.
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