O Nacional de Montevidéu recorre à aura do ídolo Recoba como seu novo treinador
Recoba trabalhava nas categorias de base do Nacional e possui uma história respeitável no clube, sobretudo com os sucessos em campo no final da carreira
O Nacional de Montevidéu recorre a um antigo ídolo em busca de uma guinada na reta final do Campeonato Uruguaio. O lendário Álvaro Recoba ganhará uma chance de treinar os tricolores, clube no qual encerrou a carreira e teve momentos brilhantes em duas passagens. Mais recentemente, El Chino trabalhava nas categorias de base do Bolso, além de ter sido assistente da equipe principal. O momento em que assume o Nacional nem é dos melhores, assim como a diretoria parece se valer do veterano como um escudo. Apesar disso, o velho craque demonstrou sua empolgação com a oportunidade. Poderá transmitir um pouco de sua vivência e de sua maestria em busca de melhores resultados.
Recoba assume o cargo de Álvaro Gutiérrez, que comandava o Nacional desde março e acabou demitido após uma derrota para o Boston River nesta quinta-feira. O comandante de 55 anos estava em sua terceira passagem pelo Gran Parque Central, respaldado pelos títulos uruguaios que conquistou em 2015 (com auxílio de Recoba em campo) e em 2019. No entanto, esta volta ao Bolso passou longe de repetir o sucesso. O treinador teve um aproveitamento de 56% dos pontos, com somente 13 vitórias em 29 partidas. O Nacional foi vice-campeão do Apertura e não se classificou à decisão do Intermédio. Já no atual Clausura, a equipe está na quinta posição. Também caiu nas oitavas da Libertadores diante do Boca Juniors.
Recoba assume um time que ganhou só duas partidas nas seis primeiras rodadas do Clausura, atravancado pelos constantes empates. Há tempo de recuperação, a cinco pontos do líder Peñarol. Um momento crucial acontecerá no clássico, que ocorrerá em três rodadas. El Chino tenta evocar a imagem de quem teve grandes momentos contra os rivais para buscar uma reviravolta, já que os carboneros parecem capazes de levar o título antecipado no Campeonato Uruguaio – que soma Apertura, Intermédio e Clausura, antes da fase final.
Álvaro “Chino” Recoba asume el cargo de entrenador del primer equipo en el día de hoy. El Cuerpo Técnico estará integrado por Nelson Abeijon (AT) y Juan Manuel Alzamendi (PF)
¡Éxitos en esta nueva etapa, @Chino_Recoba20!#ElClubGigante 🔵⚪️🔴 pic.twitter.com/Z1X1Hb62MW
— Nacional (@Nacional) October 20, 2023
A história de Recoba como jogador do Nacional
Recoba não iniciou sua carreira no Nacional, mas o clube marcou sua eclosão no futebol. O atacante foi contratado em 1996, do Danubio. Não demorou a ganhar a torcida tricolor, como um jovem de muita qualidade técnica e uma aptidão impressionante para anotar lindos gols – ficou famoso um tento em que fez estrago na defesa do Montevideo Wanderers por sua sequência de dribles. El Chino não chegou a vencer o Campeonato Uruguaio, mas comemorou títulos isolados do Clausura em 1996 e do Apertura em 1997. Além disso, teve a chance de disputar a Copa Libertadores. O reconhecimento também garantiu sua estreia na seleção do Uruguai, antes que rumasse à Internazionale no meio de 1997.
Recoba consolidou seu nome na Europa a partir de então. Também defendeu Venezia e Torino na Itália, mas seu auge aconteceu mesmo na Inter. Era uma das estrelas do time nos tempos em que ainda contavam com Ronaldo Fenômeno e depois se tornou um coadjuvante notável à medida que as taças voltavam a pintar nas mãos dos nerazzurri, no meio da década de 2000. Sua mudança do país aconteceu em 2008, quando defendeu o Panionios, na Grécia. Já o retorno ao Uruguai veio em 2010, com a camisa do Danubio. Ficou um ano em seu clube formador, até repetir o movimento e assinar com o Nacional para o último ato de sua carreira.
Naquele momento, Recoba reaparecia no Nacional como uma figura de relevo para o futebol uruguaio, presente em 68 jogos pela seleção e em uma Copa do Mundo. A imagem do Chino ficou um pouco esquecida depois das façanhas da Celeste no Mundial de 2010 e na Copa América de 2011, as quais ele assistiu de longe. Ainda assim, seu final de carreira teve grande prestígio pelas mágicas que oferecia ao Bolso. O veterano relembrou os motivos de ser tão adorado pelos tricolores. Colecionava alguns lances de pura categoria, especialmente pelos infindáveis gols olímpicos que assinalava.
Recoba teve um desempenho sensacional em 2011/12. Conquistou o Torneio Apertura e levou o troféu de campeão uruguaio. Seria dele o gol que decidiu a final, com um leve toque para garantir o 1 a 0 sobre o Defensor. Marcelo Gallardo era o treinador, numa transição de carreira antes de assumir o River Plate. Os dois troféus seguintes do Campeonato Uruguaio escaparam do Nacional, mas Recoba mantinha sua aura nos clássicos contra o Peñarol. Em seus momentos mais célebres, liderou uma virada por 3 a 2 contra os aurinegros e definiu outro triunfo por 2 a 1 com um golaço de falta aos 49 do segundo tempo – embora também estivesse presente num 5 a 0 dos carboneros. Já seu último título uruguaio aconteceu em 2014/15, como um jogador de segundo tempo, mas ainda pronto a brilhar.
O que esperar de Recoba
A experiência de Recoba como treinador é pequena. Foi assistente por um ano e depois dirigiu os garotos da base, com direito a um título no Campeonato Uruguaio, mas não passou disso. Sua escolha se dá mais por nome e história do que necessariamente por um trabalho que o respalde. Mesmo assim, pode ser visto com certa expectativa. Seu time na base era conhecido por um estilo de jogo vistoso e que buscava atuar com a bola no chão. Além disso, as jogadas ensaiadas nas bolas paradas eram um forte, relembrando os seus tempos de jogador. Em entrevistas, já declarou que os jogadores estão acima das táticas.
Em abril, numa conversa com uma rádio local, Recoba chegou a falar sobre sua ambição de treinar o Nacional: “Sempre digo que, no dia em que me oferecerem o time principal do Nacional, vou mergulhar de cabeça. Eu sou parte do clube, então nem precisam me procurar. Quando chegar o momento, vou dizer que sim, porque é o que todo treinador sonha. No meu caso, é muito mais que isso. Há um tempo dizia que me faltava experiência, mas não sei se importa tanto, porque a experiência surge a partir dos acertos e dos erros”.
A pressão não permite muito tempo para Recoba manobrar, e a chance de ver o Peñarol campeão pode atrapalhá-lo no início de trabalho. Contudo, mesmo com um fracasso inicial, El Chino é grande o suficiente para ao menos iniciar a próxima temporada e tentar dar uma cara ao Bolso. O conhecimento dos jogadores da base pode ser um diferencial, enquanto também chegou a ser companheiro de jogadores do elenco profissional. É ver como será a paciência com o velho craque nesta transição. Nem todos os ídolos recentes da seleção uruguaia tiveram tal sucesso, vide a passagem apagada de Diego Forlán à frente do Peñarol em 2020, demitido após 11 partidas. Para Recoba, o parâmetro precisa ser Gallardo, com quem conviveu tão bem.