América do Sul

O Libertad fez uma campanha excepcional para levar o Apertura e consagrar gigantes do Campeonato Paraguaio

Nomes como Daniel Garnero, Roque Santa Cruz, Martín Silva e Óscar Cardozo participaram da conquista do Libertad

O Libertad recupera nos últimos meses sua posição incontestável como uma força no Campeonato Paraguaio. A partir de 2017, o Gumarelo passou em branco em sete edições consecutivas dos chamados “torneios curtos”, vendo Olimpia e Cerro Porteño dividirem entre si Apertura e Clausura. Em 2021, os alvinegros interromperam o jejum e, neste sábado, voltaram a celebrar sua segunda taça nas últimas três edições da liga. O Libertad protagonizou uma campanha excelente, com 17 vitórias em 21 partidas, e conquistou o indiscutível troféu do Apertura 2022 com uma rodada de antecedência, graças ao triunfo no confronto direto com o Cerro.

Uma mostra da força do Libertad no atual momento veio durante a fase de grupos da Libertadores. O Gumarelo foi o único clube de fora de Brasil e Argentina a liderar sua chave, superando o Athletico Paranaense no topo do Grupo B. E se a vaga nas oitavas de final veio com um pouco mais de aperto, para o reencontro com o Furacão na próxima fase, os alvinegros nadaram de braçada no Campeonato Paraguaio. Apesar de certa ameaça do Cerro Porteño, a equipe assumiu a liderança de vez em abril e não saiu mais de lá.

O Libertad teve uma boa largada no Torneio Apertura. O time conquistou oito vitórias e um empate nas primeiras nove rodadas, só tropeçando no 2 a 2 contra o Olimpia fora de casa. Com isso, assumiu a liderança na disputa cabeça a cabeça com o Cerro Porteño. O primeiro confronto direto aconteceu na décima rodada e o Ciclón deu show na Olla Azulgrana, com uma goleada por 4 a 0 que os levou ao topo. Porém, na semana seguinte, o Cerro perdeu na visita ao Tacuary e o Libertad reassumiu a ponta com um ponto a mais. Não sairia mais de lá.

O Libertad não perdeu mais desde aquela goleada. Foram nove vitórias e dois empates desde então. O Cerro Porteño permaneceu como o único perseguidor e chegou ao confronto direto deste sábado, no Estádio Tigo La Huerta, quatro pontos atrás. Só a vitória bastava aos azulgranas. O Gumarelo, então, fez o dever de casa para se sagrar campeão. Desde o primeiro tempo, os alvinegros criavam as melhores chances. Já na segunda etapa, o Cerro teve três expulsos e facilitou bastante aos oponentes. A vitória por 1 a 0 se confirmou aos 47 minutos, com um bonito giro de Bautista Merlini. O Libertad chegou a 54 pontos em 21 rodadas, com 45 gols marcados e apenas 14 sofridos. Já é a terceira melhor campanha da história do clube na liga nacional. Uma vitória na rodada final igualará o recorde.

O Libertad é treinado por um especialista no Campeonato Paraguaio: o argentino Daniel Garnero. Este é o sétimo título do comandante na liga. Sua série vitoriosa começou no Guaraní, onde teve o primeiro trabalho de peso no país. Depois, emendou um histórico tetra à frente do Olimpia. No Gumarelo desde janeiro de 2021, levou o Apertura naquele ano, antes de repetir a dose neste final de semana. Garnero levou mais da metade dos troféus nas últimas 12 edições dos torneios curtos. Já tinha sido o primeiro técnico da história a ser campeão com três clubes diferentes e, agora, se coloca como o segundo maior vencedor da liga, com um troféu a menos que o lendário Luis Cubilla – que, entretanto, faturou apenas competições anuais, não semestrais.

Já dentro de campo, o Libertad possui igualmente seus especialistas. O clube contratou Roque Santa Cruz em janeiro e o centroavante se torna campeão pela nona vez no país, a primeira sem ser com a camisa do Olimpia. Aos 40 anos, o medalhão contribuiu com seis gols na campanha. Óscar Cardozo também segue presente aos 39 anos, mas frequentando mais vezes a reserva. Entre os outros nomes rodados presentes na equipe titular estão Martín Silva, Iván Piris, Diego Vera, Daniel Bocanegra e Lorenzo Melgarejo. Todos passam dos 30 anos e contribuíram bastante, inclusive entre aqueles que tiveram mais minutos em campo – estão entre os seis primeiros, ao lado de Santa Cruz. Também compuseram o elenco medalhões do porte de Miguel Samudio, William Mendieta, Marcelo Díaz e Cristian Riveros.

O destaque individual do Libertad, ainda assim, foi um garoto de 18 anos. Julio César Enciso atravessou momentos avassaladores e terminou como artilheiro da equipe no Apertura. O atacante marcou 11 gols e deu três assistências em 14 partidas, mesmo perdendo a reta final do torneio por uma lesão. Foi quem permitiu a excelente arrancada do Gumarelo, repetidamente decisivo no início da competição. Não à toa, o prodígio da seleção paraguaia sequer ficará no país: acertou sua transferência para o Brighton, em negócio que rendeu €11,6 milhões aos alvinegros. Deixa uma marca, após estourar no Apertura de 2021.

O Libertad chega a 22 títulos no Campeonato Paraguaio. Até pelo apoio da família Léoz, o crescimento se tornou inegável neste século, quando vieram 14 desses troféus desde 2002 – é o maior vencedor do país no período. No entanto, o afastamento dos antigos poderosos da Conmebol também indica os acertos do Gumarelo mais recentemente. Entre nomes experientes e uma boa estrutura, os alvinegros constroem seu atual sucesso. Já se garantem na Libertadores de 2023 e parecem em condições de buscarem o bicampeonato no Clausura, até pela forma como conseguiram dominar esse atual Apertura.

 

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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