Numa rodada final insana, o Independiente Petrolero levou o inédito título boliviano logo na temporada em que voltou à elite após 17 anos
O Strongest era o líder até a penúltima rodada, mas o Independiente Petrolero garantiu a taça com um gol aos 51 do segundo tempo
O Campeonato Boliviano atravessou uma das temporadas mais emocionantes dos últimos anos. E a rodada final serviu para coroar um campeão inédito, o Independiente Petrolero, que tinha acabado de retornar à primeira divisão e tomou a primeira posição exatamente no último compromisso, com o gol da vitória aos 51 do segundo tempo. O clube de Sucre possui sua tradição na elite e era um participante costumeiro especialmente na década de 1990. Entretanto, não disputava a primeira divisão desde 2003 e retornou da maneira mais imponente possível. O Rojo também garantiu sua participação inédita na Libertadores para 2022, após 23 anos de ausência das competições continentais, desde que figurou na Copa Conmebol de 1999.
Fundado em 1932, o Independiente Petrolero possui sua tradição na região de Sucre. Todavia, as participações na elite foram um tanto quanto limitadas. Foram três temporadas na década de 1970 e mais três na década de 1980. O período mais duradouro na elite aconteceu de 1990 a 2003, quando o Rojo chegou a ser vice-campeão do Apertura em 1994. Ainda assim, veria o rival Universitario de Sucre levar os primeiros títulos nacionais para a capital a partir de 2008, quando o Inde já amargava sua sequência nas divisões de acesso.
O acesso do Independiente Petrolero em 2020 já representava um renascimento ao clube, depois de 17 anos militando nas divisões inferiores. E o retorno da equipe à primeira divisão não poderia ser mais surpreendente: com uma folha salarial baixa e sem grandes investimentos, o Rojo não aparecia entre os principais candidatos ao título. Contou com o trabalho do treinador Marcelo Robledo e da presidente Jenny Montaño, uma farmacêutica e empresária local. Ex-jogadora de vôlei do clube, Montaño ascendeu na estrutura administrativa nos últimos anos, mas não tinha experiências prévias no futebol e surpreendeu pelo sucesso imediato.
Durante as primeiras rodadas do Campeonato Boliviano, disputadas ainda antes da Copa América, o Independiente Petrolero não engrenou totalmente, mas ocupava posições intermediárias na tabela e já pleiteava um lugar na Copa Sul-Americana. A guinada começou de verdade a partir da retomada da competição em julho. Do final do primeiro turno em diante, o Rojo emendou uma sequência de 13 rodadas de invencibilidade, com 10 vitórias no período. Foi quando o time se destacou na corrida particular contra Always Ready e The Strongest pela taça, quase sempre ocupando o terceiro lugar. A derrota para o Royal Pari, a cinco rodadas do fim, custou um pouco o fôlego. No entanto, o Inde teria jogos acessíveis na reta final. Aproveitaria isso.
O Independiente Petrolero venceu seus últimos quatro compromissos pelo Campeonato Boliviano. O caminho se abriu na penúltima rodada, quando o Rojo venceu o Nacional de Potosí e contou com um tropeço do Always Ready para tomar a segunda colocação. O The Strongest, ainda assim, era o líder e entrava no último compromisso com um ponto a mais. Porém, se o Tigre sucumbiu na derrota por 1 a 0 contra o Real Santa Cruz, o Inde cumpriu sua missão com uma grande virada sobre o Guabirá por 3 a 2 fora de casa. O gol do título sairia aos 51 do segundo tempo.
O Independiente Petrolero abriu o placar graças a um gol contra de Nelson Amarilla no primeiro minuto, mas John Jairo Mosquera e Kevin Mina viraram para o Guabirá no início do segundo tempo. O empate do Rojo saiu com Martín Prost, aos 28, mas naquele momento o clube precisaria disputar um jogo extra contra o Strongest pela taça, já que ambos estavam igualados na tabela com 63 pontos. Paralelamente, o Always Ready virou num maluco 4 a 3 sobre o Aurora e ia despontando para o título. Isso até o gol da vitória do Inde sair aos 51 do segundo tempo, com Juan Godoy se tornando o herói para os alvirrubros.
No fim das contas, o Independiente Petrolero terminou na primeira colocação com 65 pontos. O Always Ready, em segundo, veio com 64 e o Strongest somou 63 em terceiro. Os três disputarão a Libertadores de 2022, assim como o Bolívar, que entrará com o Strongest nas preliminares. Royal Pari, Oriente Petrolero, Jorge Wilstermann e Guabirá estarão na Copa Sul-Americana. Já o San José de Oruro foi rebaixado por conta de sua crise administrativa, enquanto o Real Potosí jogará os playoffs para tentar evitar o descenso.
O Independiente Petrolero fez uma campanha praticamente impecável como mandante. Foram 13 vitórias em 15 partidas em Sucre, com apenas uma derrota. Tal rendimento fez a diferença para a conquista do título. Campeão nos tempos de goleiro por Strongest, Jorge Wilstermann e Universitario de Sucre, Marcelo Robledo faz história também como técnico. Foi o grande responsável não só pelo desempenho coletivo, mas também pela montagem do elenco. Já em campo, o Rojo se valeu de uma equipe cheia de veteranos, incluindo o artilheiro Martín Prost, o armador Gustavo Cristaldo e o capitão Mijaíl Avilés. Ainda que reserva, o brasileiro Marcelo Gomes também teve sua parte no título. O meio-campista de 40 anos fez sua carreira na Bolívia e chegou ao quarto troféu nacional pelo quarto clube diferente.
O Independiente Petrolero poderá ainda figurar pela segunda vez nas competições continentais. O Rojo participou da Copa Conmebol de 1999, mas caiu logo de cara para o futuro campeão Talleres. Já em 2022, será uma das caras novas na Libertadores, cujo dinheiro permitirá a construção de um novo centro de treinamentos. Ainda é difícil de apontar se o sucesso atual será pontual ou se haverá um crescimento sustentável do Inde. Mas, pela forma como saiu esse título inédito em 2021, o clube de Sucre já tem seu lugar nos anais do Campeonato Boliviano.
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