Libertadores

10 anos da Libertadores: como Ronaldinho mudou a história do Atlético-MG

Título mais marcante da história do Atlético-MG, um recital de Ronaldinho, completa dez anos

Há exatos 10 anos, o Atlético-MG celebrava seu primeiro título de Copa Libertadores, vencendo o Olimpia, nos pênaltis, no Mineirão. Aquela noite foi a consagração da virada de chave na reconstrução do clube, que teve um grande nome à sua frente: Ronaldinho Gaúcho.

Ronaldinho foi o responsável por ajudar na reconstrução do Barcelona, da Espanha, um dos maiores clubes do mundo. Mas ele não parou por aí e voltou ao Brasil para fazer o mesmo em seu país natal. Inicialmente, teve insucesso no projeto do Flamengo, onde chegou em 2011 e saiu em maio de 2012.

O Bruxo não ficou muito tempo desempregado. Em 4 de junho, ele surpreendeu a todos aparecendo treinando na Cidade do Galo, sem mesmo ter sido anunciado. Esse dia se tornou um marco na história do Atlético, que teve a certeza disso há 10 anos, conquistando a América.

Como era o Atlético pré-Ronaldinho

O Atlético sempre esteve entre os grandes clubes do Brasil, praticamente desde que foi fundado é assim. No entanto, o Galo sempre teve uma fama de azarado e cavalo paraguaio, aquele time que rema muito, mas morre na praia. Foram muitas as vezes que o clube era favorito a um título ou chegou em uma decisão e acabou derrotado. O alvinegro, por exemplo, é até hoje o único time a ser vice-campeão Brasileiro invicto, quando perdeu o título de 1977 nos pênaltis, em pleno Mineirão, para o São Paulo.

No século passado, apesar dos tropeços, o Atlético sempre foi um time temido, que conseguia se fazer presente em fases agudas do Brasileirão, por exemplo. Mas na primeira década do século 21 isso mudou. O clube não conseguia mais ter destaque nacional ou sequer estadual, vencendo o primeiro Mineiro no século apenas em 2007.

O Atlético ainda sofreu seu maior baque ao ser rebaixado para a Série B em 2005. O clube voltou em 2006, com grande campanha e festa da torcida, mas seguiu sendo um time “irrelevante”, brigando sempre na parte de baixo da tabela.

A chegada de Alexandre Kalil

As coisas começaram a mudar para o Atlético quando Alexandre Kalil assumiu o clube em 2008. O mandatário teve ambições diferentes para o clube, procurando reergue-lo. Os primeiros anos não foram os melhores, com muitos erros, como a contratação de Diego Souza, que chegou a vestir a camisa 1 por ser “a principal contratação”.

Em 2011, Kalil viveu seu pior ano à frente do Atlético. Mas aquele seria o último dos anos ruins. O Galo foi apenas o 15° colocado, lutando contra o rebaixamento até as últimas rodadas. Mas o pior viria na última rodada. No clássico contra o Cruzeiro, podendo rebaixar o maior rival, o alvinegro sofreu sua pior derrota na história do confronto, um 6 a 1 acachapante.

A chegada de Ronaldinho

Em 2012, o Atlético já se mostrava diferente e, com um time melhor em campo, venceu o Campeonato Mineiro, mas parecia não ter o toque especial para a virada de chave do clube. Ela aconteceu com a chegada de Ronaldinho, em junho daquele ano. Foi a união perfeita, como disse Kalil, afirnal nenhum deles tinha nada a perder:

“Não foi coragem, foi nada a perder. Tínhamos 40 anos que não ganhávamos nada. O Ronaldinho não valia nada no mercado brasileiro, imprensa massacrando e tudo mais”, disse o mandatário em entrevista recente ao Flow Podcast.

Kalil presentei Ronaldinho com a maior honraria do Atlético, o “Galo de Prata” (Bruno Cantini)

Ronaldinho saiu do Flamengo com todos tendo a certeza que sua carreira tinha acabado, já que não rendeu nem perto do esperado. Em uma enquete do GE, todas as torcidas do Brasil votaram contra uma possível contratação do camisa 10, incluindo a do Galo, onde ele teve 68% de rejeição.

Mas a história foi completamente diferente do esperado, foi como na matemática: menos com menos, dá mais. Com o Bruxo, o Galo lutou até o fim pelo título do Brasileirão, algo que não acontecia desde 2001, mas mais uma vez ficou com o vice-campeonato. O vice naquele ano, para muitos, era mais um capítulo do azarado Clube Atlético Mineiro. Por outro lado, muitos perceberam que aquele ano podia ser transformador, e que algo grande estava guardado com o clube.

O Atlético com e pós-Ronaldinho

Ronaldinho Gaúcho trouxe com ele a mentalidade vencedora que faltava ao Atlético. O clube passou a pensar grande e entender que podia sim brigar no topo. Com ele, o Galo deu show e se tornou um dos grandes atrativos do país. O “Galo de Ouro”, que a torcida canta nas arquibancadas, estava de volta.

Dava pra ver a diferença do time em campo, como todos se comportavam de forma diferente. Na Libertadores, a gana por vencer, a vontade de colocar o nome na história do clube. E não foi só em campo. Nas arquibancadas, os torcedores também mudaram. Deixaram de lado o “tudo bem, perdemos, isso é o Atlético” e adotaram o “Eu Acredito”. Nos bastidores, a mesma coisa, passaram a pensar grande dentro do clube.

Com Ronaldinho, o Atlético reverteu o quadro de ser azarado, passando a ter resultados épicos a seu favor. Passou por cima do poderoso São Paulo nas oitavas, Victor fez uma das grandes defesas da história nas quartas, a luz acabou e um herói improvável surgiu nas semis.

Na grande, como o próprio R10 disse no documentário “Vingadores da América”: “A confiança já estava em 1000%. Quando a gente chegou na final eu já sabia que podia perder de 2 (a 0) lá (na ida) que em casa a gente não perde”. O Bruxo ainda afirmou que “foi a final mais tranquila da carreira”. Ou seja, o Galo saiu de um time que todo mundo sabia que podia chegar, mas que ia entregar, para um que todo mundo sabia que ia ser campeão.

É o maior presente que eu poderia receber e dar ao mesmo tempo. Nunca na minha carreira eu tinha recebido tanto carinho. Nunca fui tão bem recebido em nenhum lugar do mundo. Obrigado. O Galo vai morar no meu coração para sempre”, disse Ronaldinho no campo após o título.

Pós-Ronaldinho

Ronaldinho deixou o Atlético confirmando a tese acima: campeão. O último jogo dele pelo clube foi na Recopa Sul-Americana, quando o Galo bateu o Lanús e ficou com a taça. Mesmo depois da saída do camisa 10, ficou clara a mudança de postura do alvinegro. Era praticamente um novo time, que se colocou entre os principais do Brasil e buscou brigar pelos títulos desde então. Alguns anos não deram certo, claro, mas definitivamente o Atlético é um outro clube após a passagem do Bruxo.

Guardadas as devidas proporções, Ronaldinho repetiu no Atlético o que conseguiu no Barcelona: devolver os dias de glórias e o orgulho do torcedor, fazê-lo voltar a gritar campeão. Algo que só alguém da magnitude de R10 é capaz.

Ovação na volta ao Atlético

Há pouco mais de uma semana, Ronaldinho Gaúcho voltou a atuar com a camisa do Atlético, no “Lendas do Galo”, evento teste na Arena MRV, futura casa do alvinegro. O jogador jogou ao lado de grandes nomes da história do clube, mas foi, de longe, o mais ovacionado. Na chegada, quando entrou em campo, em qualquer lance que tocava na bola, R10 conseguiu fazer a torcida se levantar e cantar seu nome.

A torcida do Atlético, sem dúvidas, sabe da importância de Ronaldinho para a história do clube. Depois dele, o Galo ainda conquistou duas Copas do Brasil e um Campeonato Brasileiro, além de voltar a dominar Minas Gerais, vencendo sete dos 11 estaduais disputados desde a chegada do Bruxo.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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