Amor de Hilda Furacão, artilheiro ‘bad boy’ une Galo, Botafogo e Argentina
Paulo Valentim, marido Hilda Maia Valentim, brilhou nos Alvinegros mineiro e carioca e até no Boca Juniors entre os anos 50 e 60
Botafogo, Atlético Mineiro e Argentina. As três palavras tem uma clara ligação às vésperas da grande final da Libertadores, realizada em Buenos Aires neste sábado (30), às 17h (horário de Brasília), mas também há um nome em comum que as ligam: o ex-atacante Paulo Valentim.
Conhecido por seu pavio curto e as várias confusões em campo, o que hoje o daria uma fama de “bad boy”, Paulinho ganhou holofotes no futebol brasileiro a partir da chegada ao Galo, em 1954, período que conheceu o amor de sua vida, Hilda Maia, ex-prostituta que inspirou o livro e a minissérie Hilda Furacão.
Apenas dois anos depois, o goleador implacável parou no Glorisoso, onde brilhou ao lado de Garrincha e companhia.
A carreira dele ainda teria outro capítulo marcante no Boca Juniors, com grandes atuações justamente no Monumental de Núñez, casa do rival River Plate e palco da final de 2024.
Filho de ex-jogador, Paulinho se encontrou no futebol e no amor no Atlético
Nascido em 1932, Paulinho era filho de Joaquim Valentim, conhecido com Quim, ex-zagueiro e parte do elenco do Galo que foi “campeão dos campeões” em 1937, conquista posteriormente reconhecida como Campeonato Brasileiro pela CBF.
Quim indicou o filho para o Galo após passagens pouco marcantes por Central de Barra do Piraí e o Guarany de Volta Redonda.
— Vai aí o meu filho Paulinho, vejam se ele tem condições. Se as tiver, que fique no Atlético, club do meu coração. Se não acertar com o Atlético, mandem-no de volta. Não o deixem ficar em nenhum outro club. Só interessa o Atlético — escreveu Quim, segundo o site oficial do Galo, em carta endereçada aos dirigentes do Atlético à época.
No primeiro ano como um ponta direita reserva no título estadual, Paulo Valentim virou centroavante a partir de 1955 e se tornou peça essencial do time que levou o bicampeão mineiro naquela temporada. No jogo que deu o título contra o Jacaré, o atacante abriu o placar e foi expulso, o exemplo perfeito de como era esquentado na mesma medida que goleador.
A saída da Belo Horizonte acontece em 56 com incríveis 35 gols em 63 jogos (média de 0,55 gol, mais do que um a cada duas partidas), mas não antes de se apaixonar por Hilda em uma das visitas que fazia nos cabarés da região. Mesmo no Rio de Janeiro, ele retornou várias vezes à capital mineira para se encontrar com a Furacão.
Paulo Valentim e a parceria com Garrincha no Botafogo
Para levar Paulinho, o Botafogo precisou superar os interesses de Vasco e Palmeiras e comprá-lo por 1 milhão de cruzeiros, naquele momento a maior transação da história do futebol mineiro.
Em General Severiano, se tornou parte de um dos times mais mágicos da história do Glorioso, fazendo parte do quinteto ofensivo que contava com Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagalo e ainda tinha Didi e Nilton Santos na equipe.
Há várias maneiras de exemplificar o sucesso de Valentim no Rio. Seja pelos números incríveis (135 gols em 206 jogos), ser eleito por Garrincha o melhor parceiro em campo ou a atuação na final do Campeonato Carioca de 1957, quando marcou cinco vezes na vitória por 6 a 2 sobre o Fluminense, derrubando um tabu de nove anos do Bota sem levar o estadual.
— Eu podia cruzar de olhos fechados para trás que ele [Paulo Valentim] estava lá sempre, pronto para finalizar ao gol de forma certeira. Foi uma figura no Boca Juniors e isso já diz muito. — disse Garrincha ao jornal argentino Clarín.
O centroavante, que já tinha feito parte da lista reserva da seleção brasileira quando estava no Botafogo, não conseguiu ir a Copa do Mundo de 1958, mas recebeu sua primeira convocação no ano seguinte, no Campeonato Sul-Americano (hoje a Copa América), competição disputada totalmente no Monumental de Núñez.
Paulinho brilhou com a Amarelinha e, mesmo reserva de Pelé, saiu do banco com 1 a 0 contra o Uruguai para marcar um hat-trick e virar o jogo, que ficou marcado por uma confusão generalizada no fim após o atacante do Bota começar uma confusão com um adversário.
Também foi em seu período no Rio que se casou com Hilda Furacão, em 1957, na cidade de Barra do Piraí, onde nasceu. O casório contou com a presença do jornalista e técnico João Saldanha.
No Boca Juniors, brasileiro vira carrasco do River Plate e Hilda Furacão ‘primeira-dama'
“Tim! Tim! Tim! Gol de Valentim!”. Foi este pequeno verso que o atacante brasileiro ganhou por sua passagem entre 1960 e 1965 na Bombonera, o que já explica muito o sucesso que foi o período, no qual viveu no luxo que o futebol argentino era capaz de dar e viu sua amada ser tratada como “primeira-dama” do clube.
Entre os 71 gols em 111 jogos que Paulinho fez, 10 foram em cima do rival River Plate, de longe o maior artilheiro do Superclássico pelo lado Xeneize — o terceiro no geral. Um deles aconteceu em 1962 na vitória por 1 a 0 que deu o título do Campeonato Argentino na casa do Boca, o primeiro em oito anos.
O brasileiro estava no elenco que perdeu a final da Libertadores de 1963 para o Santos de Pelé, mas Valentim estava cumprindo suspensão pelo cartão vermelho sofrido contra o Peñarol na fase anterior.
O declínio do atacante ídolo do Galo e Botafogo iniciou em 1964, quando teve problemas de relacionamento com a direção e deixou o clube no ano seguinte rumo ao São Paulo, onde também não se firmou. Ele passaria ainda pelo Atlante, do México.
No futebol mexicano, em uma das coincidências da vida, reencontrou o Galo, que fazia excursão em 1972 após vencer o título brasileiro do ano anterior em cima justamente do Botafogo.
Sem dinheiro, Paulo Valentim deixou o México com ajuda do ex-massagista Gregório e retornou para Buenos Aires, de onde Hilda nunca saiu, mesmo com as trocas de clube do marido.
O atacante faleceu em 1984 por conta dos problemas que o uso desenfreado da bebida alcoólica lhe trouxe. Hilda Furacão morreu em um asilo em 2014, um ano antes da morte do único filho que teve com Paulinho, Ulisses Valentim.