Paulo Junior: Brilho do Fluminense demorou e se salvou num chute de Samuel Xavier
Com tantos esperando por queda de Diniz, Fluminense segue na Libertadores e bem no Brasileirão
O Fluminense não conseguiu encontrar seu melhor jogo ao receber o Argentinos Juniors e precisar de uma vitória simples para avançar nas oitavas de final da Copa Libertadores, mas, ironicamente, nunca pareceu tão claro que a grande prova para esse time, à medida que o jogo corria arrastado no Maracanã, era encontrar um gol de classificação e ponto, pouca inspiração à parte.
Fernando Diniz é o único técnico desta geração cujas derrotas são sempre, sem exceção, creditadas à forma com que enxerga suas equipes. Cair para o time argentino em casa, um rival que não figura entre os favoritos ao título, jogaria sobre seus ombros o perfil pouco ortodoxo em pensar o futebol, os cinco gols no River Plate, os quatro em final contra o Flamengo, o convite para treinar a seleção. Seria o fracasso do dinizismo, sem vírgulas, não importaria o enredo.
Então a grande notícia para o Fluminense é que, desta vez, não. O clichê, essa repetição que esconde uma certa perseguição específica, uma teimosia que guarda uma subjetividade a ser melhor compreendida (a psicanálise não é bobagem, afinal), agora, fracassou. O time de Diniz, com tanta gente à espreita a cada próximo desafio para dizer que começa bem e depois desanda, é sempre assim!, baixou um pouco seu nível técnico, mas ganhou, 2 a 0 suado, no fim. É terceiro colocado no Campeonato Brasileiro mesmo sem brilhar e está entre os oito da América conforme a expectativa criada lá em abril, maio.
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Em campo, Marcelo fez a falta prevista no trato com a bola, muito mais contra um time acariciando o cronômetro durante todo o tempo de empate. André novamente se desdobrou, ainda que pudesse ter sido expulso, e Jhon Arias, mesmo que as estatísticas mais diretas não vão dar conta de apontar, foi o coração e a alma suficientes para manter a esperança do gol já nos muitos e muitos minutos de segundo tempo. Que ótimo jogador o colombiano.
E aí surge o chute de Samuel Xavier, mais um muito bom jogador que, sob níveis máximos de confiança, vive dias de craque. Sua batida impressionante no Diego Armando Maradona, terça passada, durou uma semana no primeiro lugar de sua carreira até que a sobra no Maracanã veio de novo na sua perna direita, pronta para as redes e para a entrada de seu museu particular. O lateral de ótimos momentos em Ceará e Sport é o nome improvável do confronto, pela regularidade e boa escolha nas jogadas, uma rotina, e mais pelos dois foguetes que mantiveram o clube perto das quartas de final.
Isso porque o Fluminense frustrou seu torcedor por não conseguir criar as grandes chances que o tricolor esperava ver em casa, dependendo de um alívio num bate de fora de seu lateral. Cano teve um desvio sem sucesso, Ganso não conseguiu espetar seus toques especiais e Keno acabou sem sobrar em suas arrancadas. Lima, mais uma vez, não arrumou muita coisa. Se o time não tem conseguido envolver no ataque como nos melhores momentos, o próprio John Kennedy, autor do segundo gol no contra-ataque e esperto para se meter ali entre os zagueiros, poderia ser considerado para os próximos grandes jogos.
O time tem duas semanas para se ajeitar e procurar jogar mais bola na próxima fase, provavelmente contra o Flamengo, em dois jogos inéditos pela maior copa do continente dignos de honrar o grande clássico, já no palco da final de novembro. A arquibancada que comemorou na noite desta terça-feira sabe que, diante do maior rival, é preciso subir o nível. O torneio chega num momento de duelos enormes, ainda mais se confirmar a tendência de duas noites históricas de Maracanã, aqueles jogos que o Fluminense espera há 15 anos, uma expectativa que viaja desde que a bola saiu do peito do pé do camisa 2, aos 40 e tantos do segundo tempo.