O Palmeiras teve o espírito perfeito à semifinal e subjugou o River Plate, numa noite de sonho na Argentina

O River Plate podia suscitar ótimas lembranças ao Palmeiras nas semifinais da Libertadores, resgatando a glória de 1999. Ainda assim, era um adversário para deixar cauteloso qualquer torcedor alviverde, por todo o sucesso recente sob as ordens de Marcelo Gallardo. No entanto, a primeira partida em Avellaneda guardou uma noite de sonho aos palmeirenses, já reservando uma atuação histórica. Os 3 a 0 de outrora no Parque Antárctica, desta vez, se reproduziram dentro da Argentina. Não houve um show de Alex ou os milagres de São Marcos. Mesmo assim, os palestrinos certamente se lembrarão das grandes exibições de Luiz Adriano, Rony, Gabriel Menino, Weverton, Danilo, Empereur e outros que tornaram possível o resultado gigante aos paulistas, num time perfeitamente armado por Abel Ferreira. Após 20 anos, o retorno à decisão continental parece muito próximo ao Palmeiras.
O Palmeiras divulgou sua escalação com Luan na zaga, mas o defensor sentiu lesão durante o aquecimento e acabou substituído por Alan Empereur. Abel Ferreira escolhia uma espinha dorsal intensa ao meio-campo, com as presenças de Danilo, Patrick de Paula e Gabriel Menino dando bastante energia ao setor – sem Raphael Veiga. Mais à frente, enquanto Rony e Gustavo Scarpa abriam pelos lados, Luiz Adriano era a referência no ataque. O River Plate, por sua vez, contava com o importante retorno de Milton Casco na lateral. Marcelo Gallardo concentrava a qualidade no meio-campo, com o quarteto formado por Enzo Pérez, Nacho Fernández, Nicolás de la Cruz e Jorge Carrascal. No ataque, Matías Suárez e Rafael Santos Borré formavam a dupla principal.
Durante os primeiros minutos, foi possível acreditar em uma pressão incessante do River Plate. E a história do jogo poderia ser diferente não fosse Weverton. A primeira ameaça dos millonarios veio em chute de Borré por cima da meta. O abafa se mantinha durante os primeiros minutos, com agressividade dos millonarios, e o goleiro evitaria o primeiro gol aos cinco. Depois de uma boa jogada do River pela esquerda, Carrascal recebeu o passe e bateu de frente para o gol. Weverton fechou muito bem o ângulo, para bloquear o arremate com o corpo. A marcação palmeirense levou um tempo a se acertar, dando muitos espaços aos adversários no início.
Com o passar dos minutos, o Palmeiras entendeu melhor a partida no Monumental e passou a se proteger melhor, antecipando os combates. O River Plate tinha mais posse de bola, mas sem tanta capacidade de criação. Quando Borré teve nova oportunidade, aos 20, pegou mal na bola. Gabriel Menino fazia um papel importante para ajudar a fechar o lado direito da defesa, onde os argentinos tinham mais qualidade técnica e Marcos Rocha parecia mais exposto. Também pela direita que os alviverdes concentravam suas subidas, contando com a participação de Rony na ponta.
O Palmeiras demorou a arriscar seus ataques, mas começou a se soltar a partir dos 20 minutos. E uma pitada de sorte acabaria se tornando fundamental para que os alviverdes abrissem o placar aos 27, logo em sua primeira boa chegada. Patrick de Paula abriu com Gabriel Menino na direita e o garoto cruzou rasteiro em busca de Luiz Adriano. A zaga do River Plate se confundiu e Franco Armani afastou mal, entregando o presente no pé de Rony. O atacante bateu rápido e ainda contou com um desvio para acertar o contrapé do goleiro. O tento apagou os millonarios, que poderiam ter sofrido o segundo logo na sequência. Os palmeirenses construíram uma linda jogada, com Luiz Adriano abrindo na direita e tocando a Scarpa, que chapelou Armani antes de finalizar à meta aberta. Porém, um impedimento do centroavante anulou o tento.
Rony ainda tentaria um chute para fora e o Palmeiras seguiu no controle por mais alguns minutos, antes que o River Plate recobrasse os sentidos na reta final do primeiro tempo. Os millonarios voltaram a ter mais volume e a pressionar a defesa do Palmeiras, buscando os espaços na área. Matías Suárez perderia uma boa oportunidade em cruzamento de Carrascal, antes que Nacho Fernández fosse flagrado em impedimento pouco depois. E o meio-campista ainda deixaria o grito preso na garganta dos argentinos aos 43, em cobrança de falta caprichosa que bateu no travessão antes de sair. O River sabia como manejar a bola, mas não o suficiente para criar grandes temores aos alviverdes durante o primeiro tempo.
A vitória do Palmeiras se confirmou pela postura da equipe na volta ao segundo tempo. Os paulistas estavam muito mais ligados e deram o primeiro aviso num chute travado de Rony. Ainda no segundo minuto, Luiz Adriano aumentou a contagem. Foi uma jogada muito inteligente dos palestrinos, a começar pela antecipação de Empereur – um dos melhores em campo. A troca de passes saiu rápida, com a boa parede de Scarpa e a enfiada rápida de Danilo. De qualquer maneira, o grande mérito da jogada foi mesmo de Luiz Adriano, ao girar e se livrar da marcação de Robert Rojas. Com o caminho livre, ficou fácil para o atacante tirar de Armani.
O River Plate tentou uma resposta imediata. Borré exigiu mais uma ótima defesa de Weverton, enquanto Carrascal também assustou. De qualquer maneira, o Palmeiras tinha mais facilidade para atacar, recuperando a bola e atacando com velocidade. O encaixe encontrado por Abel Ferreira, especialmente no meio-campo, era excelente. Patrick de Paula tentaria um chute forte aos dez, defendido por Armani. O placar dava segurança aos alviverdes e permitia que os visitantes atuassem com naturalidade em Avellaneda. Mesmo os garotos não sentiam o peso da ocasião. Diferentemente, Carrascal perdeu a cabeça. Destaque do River nos últimos jogos, o colombiano dificultou mais a vida de seu time ao tentar chutar Gabriel Menino e receber o vermelho direto aos 15.
Com um a menos, o River Plate estava praticamente acabado. E a pá de cal aconteceu aos 17. Scarpa cobrou falta pelo lado direito e Matías Viña saltou completamente livre, para desviar de cabeça e vencer Armani. Entregues, os argentinos pouco fariam depois disso. Os alviverdes puderam manter a tranquilidade na defesa e renovaram as energias com as alterações. O quarto gol até parecia mais provável, com sustos dos substitutos Breno Lopes e Willian. Gallardo também acionou seu banco, com alterações que surtiram pouco efeito, até pela desvantagem numérica.
No fim, ficou a impressão de que o placar poderia ter sido mais confortável ao Palmeiras, tamanha a superioridade no segundo tempo. Gabriel Menino merecia seu gol pela excelente atuação, e ficou próximo disso aos 40. O garoto recebeu o passe de Breno Lopes em contra-ataque e bateu cruzado, mas Armani realizou ótima defesa. Logo depois, a bola cruzaria na pequena área do River, mas Willian não pegou em cheio. Quando Borré teve a chance de descontar, num ataque gerado por um erro de Marcos Rocha, cabeceou muito mal. Não era a noite dos millonarios. E os minutos finais sequer guardaram uma tentativa de abafa, em apatia inimaginável ao time de Gallardo.
O River Plate tem evidentes problemas na defesa e isso pesou em Avellaneda. O time não aproveitou seus momentos de posse de bola e sentiu demais os gols adversários. Do outro lado, contudo, também houve um Palmeiras em letras garrafais. Os alviverdes não se desesperaram diante da pressão inicial dos argentinos, aproveitaram suas ocasiões e cresceram durante a partida. Foi uma atuação maiúscula dos palestrinos, sentindo muito bem a temperatura da semifinal e mostrando o espírito ideal à ocasião, além de uma perfeita estratégia. Ainda haverá uma segunda partida no Allianz Parque, para os paulistas completarem seu serviço, mas a empreitada palmeirense parece já aguardar o capítulo final no Maracanã.