Libertadores

O Palmeiras buscou o empate, mas sua reação precisa ir além do segundo tempo de Mendoza

A eliminação na Copa do Brasil, o fim da invencibilidade no Brasileiro e até mesmo a turbulência que tanto atrapalhou a viagem até Mendoza. O momento do Palmeiras para iniciar sua participação nas oitavas de final da Copa Libertadores não era nada favorável, e o time precisaria superar seus próprios traumas (esportivos ou não) durante o primeiro duelo contra o Godoy Cruz. Em parte do jogo, os alviverdes flertaram com a tragédia e naufragavam nas limitações de um time que nem sempre corresponde ao seu investimento. Porém, diante de todas as dificuldades, os palestrinos voltam para casa tranquilizados pelo resultado. O empate por 2 a 2 sai de ótimo tamanho graças à reação no segundo tempo. Permite que o caminho se abra em São Paulo, contra um adversário claramente inferior.

A boa notícia ao time titular do Palmeiras era o retorno de Willian. Vinha em uma linha de frente modificada, com Raphael Veiga na armação e Borja como referência, além de Dudu. Contudo, se o ataque não funcionou de imediato, o que mais preocupou foi a maneira como a defesa palmeirense perdeu consistência durante os últimos jogos. E o Godoy Cruz logo encontrou o caminho do gol, aproveitando os buracos pelos lados do campo. Até parecia que os visitantes seriam presas fáceis na Argentina.

Logo aos dois minutos, Facundo Gutiérrez desperdiçou para o Godoy Cruz. Nada que fizesse tanta falta, já que Santiago García abriu o placar na sequência. Após cruzamento na área, Juan Brunetta ajeitou totalmente livre e Morro García ganhou de Gustavo Gómez no alto para arrematar de cabeça. Weverton chegou a tocar na bola, mas não evitou o gol. O Palmeiras tinha dificuldades para sair ao ataque e construir seu jogo no meio-campo, tomando sufoco dos mendocinos. Borja até poderia ter empatado aos dez, mas parou no goleiro Andrés Mehring. O momento claudicante parecia se renovar aos alviverdes.

E quando o Palmeiras dava sinais de melhora, a situação se complicou em contra-ataque aos 28. Morro García aumentou a diferença. Ezequiel Bullaude tentou duas vezes o passe pelo meio e encontrou o centroavante sozinho pelo lado esquerdo, soltando a bomba rente à trave. As falhas foram várias, da frouxidão na dividida à avenida escancarada na esquerda. O Palmeiras estava contra as cordas e dependia de um respiro. Agradeceu também os erros dos argentinos, que permitiram o primeiro gol aos 33, em lance brigado na área. Willian ajeitou a bola, Marcos Rocha cruzou e, depois que o goleiro passou batido, Felipe Melo mandou para dentro.

O alento do Palmeiras seria breve. Três minutos depois, o árbitro Wilmar Roldán marcou um pênalti ao Godoy Cruz, em puxão de Gustavo Gómez sobre Morro García. O centroavante poderia se consagrar com uma tripleta. Virou o símbolo da displicência, com uma cobrança fraca e baixa, bem no meio do gol, que facilitou a defesa salvadora de Weverton. A partir de então, os palmeirenses realmente ganharam sobrevida. O fim do primeiro tempo seria muito bem-vindo para que Felipão repensasse sua estrategia.

O Palmeiras voltou ao segundo tempo bem mais aceso no ataque, acertando os passes e pressionando. Willian era um escape claro pelo lado. Mesmo sem estar na melhor condição física, o ponta dava chamava o jogo e partia para cima. Quase empatou aos nove minutos, batendo cruzado e mandando para fora. Borja era outro que se esforçava na linha de frente. Quando acertou, garantiu a igualdade aos 13 minutos. Após o passe de Luan, o centroavante girou sobre a marcação e ficou de frente para o goleiro, dando um toque por baixo para balançar as redes. Após quase cinco meses, o colombiano voltava a marcar pelo clube.

Durante a sequência do duelo, o Palmeiras pareceu ter a possibilidade de virada. Mesmo sem acertar a definição das jogadas, a superioridade do time permitia que ele crescesse naturalmente. Não que o Godoy Cruz tenha apenas tomado pressão. Os anfitriões assustaram especialmente nos contragolpes, explorando a noite infeliz de Diogo Barbosa. Gutiérrez mandou uma cabeçada para fora e Weverton fez boa defesa em arremate de Morro García. Mas por aquilo que se viu no primeiro tempo, não deixava de seu uma situação confortável aos palestrinos. Aos 42, Bruno Henrique quase fez o terceiro, em chute no canto que Mehring foi buscar. Mesmo com o empate, a reação garante uma situação palpável ao Allianz Parque.

A preocupação do Palmeiras neste momento não é exatamente com o resultado, e sim com o rendimento do time. A defesa cochila como não ocorria durante os meses anteriores, enquanto a construção de jogo permanece insuficiente. Passar pelo Godoy Cruz parece o menor dos obstáculos, considerando a falta de qualidade dos adversários. Só que já está claro que os palestrinos não poderão vacilar no reencontro em São Paulo. E poderão vacilar menos ainda nos compromissos seguintes, se quiserem manter seus objetivos, seja em busca de mais um título no Brasileirão, seja na difícil empreitada na Libertadores. É preciso reagir além do segundo tempo em Mendoza.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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