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O Aucas estreia na Libertadores com um resultado inesquecível: virada sobre o Flamengo em Quito

Flamengo construiu a vantagem inicial, mas abusou dos erros e acabou sendo abatido pelo Aucas em Quito

Um dos clubes mais tradicionais do Equador, o Aucas desfruta do maior momento de sua história. Conquistou o Campeonato Equatoriano de maneira inédita na temporada passada e ganhou o direito de estrear numa Copa Libertadores. E a primeira partida no torneio continental não poderia ser mais perfeita aos aurirrubros: a equipe derrotou o Flamengo, o atual campeão do certame, de virada, por 2 a 1. Os rubro-negros fizeram um primeiro tempo um pouco melhor, em que saíram em vantagem graças ao lindo tento de Matheus França. Entretanto, o Aucas voltou com tudo do intervalo e engoliu os visitantes, muito vulneráveis. Valeu a festa da torcida, sob chuva, numa noite inesquecível no Estádio Gonzalo Pozo Ripalda.

O Flamengo entrou em campo com uma equipe diferente da usual, em opção de Vítor Pereira para priorizar o Campeonato Carioca. A defesa contava com Pablo, Rodrigo Caio e Filipe Luís mais recuados, com Wesley e Marinho soltos pelas alas. Victor Hugo, Arturo Vidal e Everton Ribeiro fechavam o meio, com Matheus França mais próximo de Gabigol na frente. Nomes como Ayrton Lucas e Pedro eram opções no banco. Já o Aucas contava com a cátedra de César Farías no banco. O goleiro Hernán Galíndez era o principal nome na defesa. Na frente, Rômulo Otero fazia a ligação no ataque formado por Erick Castillo e Jhon Cifuente.

O Aucas tentou se criar um pouco mais no ataque durante os primeiros minutos. Enquanto o Flamengo não acertava o desfecho de seus lances ofensivos, os equatorianos arriscavam um pouco mais. E os aurirrubros deram um susto tremendo aos dez minutos, numa cobrança de falta fechada. Rômulo Otero enfatizou sua especialidade e bateu direto, num tiro venenoso que deu muito trabalho a Santos. O goleiro desviou com a ponta dos dedos e acabou auxiliado pelo travessão, que terminou de impedir o tento. Apesar do risco, logo o Fla conseguiu ditar mais o ritmo no ataque.

Com o Flamengo mais à frente em campo, o Aucas preferiu recuar. Os anfitriões abaixavam bastante suas linhas e protegiam sua área. Dificultavam o trabalho ofensivo dos rubro-negros, que não conseguiam infiltrações. Era uma marcação eficiente, que conseguia conter as chances do Fla. Enquanto isso, os equatorianos também buscavam os contragolpes. Tiveram algumas escapadas, mas nada que desse tanto trabalho a Santos. Logo a chuva começaria a apertar em Quito.

O Flamengo era ligeiramente superior na partida, mas limitado em sua busca pelo gol. Os lances quase sempre vinham em chutes de longe ou bolas paradas, mas nada que realmente ameaçasse o goleiro Hernán Galíndez. Gabigol, quando teve uma brecha, falhou na definição. O primeiro tento dos rubro-negros dependeria da individualidade, e com o mais puro talento de Matheus França, aos 38. O garoto recebeu na intermediária e foi fazendo fila. Tirou dois marcadores, antes de passar pelo terceiro dentro da área. Diante de Galíndez, não titubeou para vencer o goleiro. A vantagem era muito bem vinda, com a equipe mantendo o controle rumo ao intervalo.

O segundo tempo, entretanto, mudou de figura. O Aucas veio com muito mais fome de bola. E o Flamengo, lento no ataque, abusou dos erros na defesa. Pablo seria providencial num corte dentro da área logo de cara, antes que Santos começasse a aparecer. O goleiro realizou defesas seguras, sobretudo numa cabeçada de Jhonny Quiñónez após escanteio. Quando Gabigol tentou a resposta, mandou para fora. O duelo pendia a favor dos equatorianos e o gol de empate saiu aos 12 minutos, num ótimo lance de Erick Castillo. Depois de uma bola recuperada, o atacante limpou a marcação e mandou para dentro.

Nas cordas, o Flamengo realizou três mudanças aos 16 minutos. Ayrton Lucas, Guillermo Varela e Gerson entraram em campo. Ainda assim, o Aucas seguia mais vivo e chegou a comemorar o segundo tento nesta sequência. Castillo passou como quis pelo meio da defesa e balançou as redes, mas o tento acabou anulado por uma falta em Varela no início da jogada. Os rubro-negros respiravam muito aliviados. Os lances mais perigosos se reduziram nos minutos seguintes, mas não os descuidos. Otero tinha muito espaço para armar os aurirrubros, o que causava problemas.

A partir dos 35 minutos, o Flamengo ganhou opções ofensivas. Pedro e Everton Cebolinha entraram. Contudo, o Aucas também mexia suas peças e ganhava novo fôlego. Os problemas dos rubro-negros na última linha se repetiam. E a virada dos equatorianos realmente se consumou aos 40, justamente com um desses substitutos. Carlos Cuero lançou em velocidade e Roberto Ordóñez mais uma vez explorou a velocidade nas costas da zaga. Deu apenas um toque na saída de Santos, que saiu desesperado e não evitou o tento. O abatimento era visível no Fla, e sem tempo hábil para reagir.

O Flamengo voltou a ter mais a bola na reta final da partida, mas nem sempre com as melhores decisões. Mal na noite, Gabigol teve seu melhor lance aos 43, numa cabeçada firme que exigiu uma defesaça do goleiro Galíndez. Pedro depois teria uma escapada em contra-ataque que não aproveitou. O Aucas foi mais competente para evitar problemas e cozinhar o resultado. A torcida se permitiu até mesmo a gritos de “olé”. De fato, por aquilo que se viu em campo, o resultado dos aurirrubros era merecido.

A escalação de Vítor Pereira é um ponto natural de questionamento, com o Campeonato Carioca na mira, mas o time alternativo jogou até melhor no primeiro tempo do que na segunda etapa – sem que os nomes mais tarimbados acertassem as coisas. Os problemas estiveram expressos, e não só pela altitude. Encarar o Aucas em Quito não era um compromisso tão fácil quanto alguns imaginavam. Ainda assim, a derrota poderia ser evitada, pela quantidade de falhas, e o resultado que custa um bocado. A missão do Fla agora é não deixar o grupo de complicar, uma armadilha da qual o time vinha escapando nas edições mais recentes de Libertadores.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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