Libertadores

Não faltou dedicação: faltou bola para o Palmeiras passar pelo Barcelona

Dudu precisou abortar uma arrancada para cair no chão rolando de dor. Parecia o fim da linha para o capitão palmeirense, mas ele se levantou, recebeu aquele spray mágico e voltou a campo. Aguentou mais alguns minutos antes de precisar sair. Chorou copiosamente, como havia chorado Mina, substituído ainda no primeiro tempo por lesão. Moisés voltou de um longo tempo parado no último final de semana e deu um pique de sessenta metros para terminar a jogada que começou com o seu lançamento. Mesmo diante do alto risco de perdê-lo, bateu o seu pênalti com firmeza. Bruno Henrique, outro que terminou a partida com dores, também assumiu a responsabilidade – e perdeu. Jaílson fez de tudo para desestabilizar o adversário e defendeu o pênalti que significaria a eliminação. Egídio, um dos mais criticados pela torcida, não teve medo de ficar marcado pela derrota na partida mais importante do ano, a que, na prática, encerrou o ano do Palmeiras no começo de agosto, como injustamente ficará.

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Ao fim da derrota para o Barcelona de Guayaquil nos pênaltis, no Allianz Parque, depois de vitória do mandante por 1 a 0, parte da torcida ensaiou um grito de “time sem vergonha”. Mas não faltou vergonha para o Palmeiras: eles se entregaram do primeiro minuto até o último, engoliram a dor, assumiram suas responsabilidades e colocaram a cara à tapa. Faltou organização, faltou um plano para ameaçar o adversário que não envolvesse jogar a bola na área, da intermediária, da lateral, do meio de campo, e rezar, como fez desde o começo do primeiro tempo. Faltou bola, pura e simplesmente, como faltou em quase todos os jogos de 2017.

O investimento alto do Palmeiras colocou pressão em cima do time para esta partida, principalmente por passar por ela a última chance real de título do clube na temporada. Mas não precisa de dinheiro para jogar um bom futebol. O exemplo mais próximo é o Barcelona. A qualidade técnica dos jogadores equatorianos é baixa, mas há um plano. Quando recuperavam a bola, havia ultrapassagem pelas pontas para buscar o contra-ataque. Havia opções de passe. Os atacantes buscavam a ponta e aguardavam a hora certa de cruzar. A defesa esteve bem fechada, tanto que o Palmeiras deu apenas dois chutes certos a gol nos 90 minutos que, repito, eram os mais importantes do ano. Para isso, não precisa de Dudu, Guerra, Moisés, Deyverson ou Borja, que na hora H ficou muito bem sentadinho no banco de reservas.

Precisa de um trabalho melhor, e isso passa por duas instituições do clube: a diretoria e o técnico. O planejamento torto já havia sido evidenciado com o afastamento de Felipe Melo, e Alexandre Mattos e Mauricio Galiotte precisam ser cobrados. Cuca também. Seu trabalho nessa segunda passagem, feitas todas as ponderações do pouco tempo para treinar, é muito pobre. Ano passado, o Palmeiras já havia terminado o Campeonato Brasileiro jogando mal, o que poderia ser colocado na conta da ansiedade que surge de 22 anos de fila. A prioridade era ganhar, independente da maneira. Sem esse peso, é obrigatório aprimorar o jogo. Não porque gastou R$ 100 milhões: porque um clube do tamanho do Palmeiras busca vitórias e é mais fácil alcançá-las quando se joga bem. Correr todo mundo corre. Dedicar-se todo mundo se dedica. Quando se resume o jogo ao universo da raça, e Cuca várias vezes elogiou esse aspecto do elenco, mesmo em partidas ruins, não adianta ter jogadores de qualidade porque tudo mais ou menos se iguala.

E foi isso que se viu nas duas partidas contra o Barcelona. É inadmissível chegar a esta altura da temporada apostando no abafa e no lançamento sem critério para a área desde os 10 minutos do primeiro tempo. É a maior evidência da falta de um plano de jogo – ou da existência de apenas um, e um bem rústico. O elenco do Palmeiras é melhor e mais caro, mas os 180 minutos tiveram mais correria e vibração do que jogadas bem trabalhadas, tão raras este ano no time palmeirense que você consegue lembrar de cabeça – como o gol de Deyverson contra o Avaí. Nesse cenário, tudo pode acontecer: um gol de fora da área com desvio no último minuto da partida, como no Equador, ou uma derrota nos pênaltis.

O Palmeiras sabia que não podia dar campo para o contra-ataque do Barcelona. Por isso, mesmo em desvantagem no placar, não adiantou o seu time, e Cuca buscou uma escalação que pudesse aproveitar os espaços na retomada da bola. Mas faltou profundidade para aproveitar a velocidade desses jogadores. Guedes, Keno, Deyverson e Dudu foram poucas vezes vistos na linha de fundo, ou na ponta, e a maioria das jogadas terminava na intermediária. A melhor chance criada foi em um cruzamento de Egídio, raspado de cabeça por Deyverson, que passou perto. E toda vez que o Barcelona disparava, era perigoso, sempre na iminência de criar uma grande oportunidade de gol.

O Palmeiras talvez não tivesse a real noção da importância de Moisés para a equipe até ele entrar em campo, no começo do segundo tempo, e dar um lançamento de 60 metros para Dudu. E, em seguida, percorrer esses 60 metros, mesmo tendo acabado de voltar de lesão, surgindo na área para receber o passe. E ter a calma de cortar o marcador e mandar a bola para a rede, empatando o confronto para o Palmeiras. Keno teve a bola da classificação nos pés, mas mandou ao travessão, e Deyverson fez um gol que foi anulado. Na sequência desse lance, Jonatan Álvez completou rápido contra-ataque no pé da trave. E Damián Díaz furou outra jogada dentro da pequena área.

O fim do jogo foi um Deus nos acuda para o Palmeiras, tanto que parecia mais feliz com a disputa dos pênaltis do que o Barcelona, que terminou a partida com um escanteio a seu favor. A partir da marca do cal, Guerra e Tchê Tchê acertaram, assim como Álvez, Oyola e Castillo. Bruno Henrique perdeu. Keno e Moisés acertaram, Caicedo também. Díaz teve a classificação aos seus pés e parou em Jaílson. Ayoví colocou o Barcelona em vantagem, e Egídio perdeu.

O Palmeiras foi eliminado nas oitavas de final da Libertadores, nos pênaltis, o que não é nenhum absurdo. Torneio de mata-mata, acontece. Mas isso só valeria se tivesse dominado os adversários, colocado sete bolas na trave ou coisas do gênero. Ser eliminado tendo jogado tão pouco nas oito partidas que disputou, com lapsos aqui e ali e algumas vitórias cardíacas, é, sim, um fiasco. O segundo seguido, aliás, já que ano passado caiu ainda na fase de grupos. Para vencer a Libertadores, é necessário disputá-la constantemente, como lembrou o presidente Galiotte depois da partida. Também é necessário saber disputá-la, e isso não tem nada a ver com “jogadores cascudos”: tem a ver com bola.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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