Libertadores

Mais incômodo que o resultado foi a atuação apagada do Atlético Mineiro na Bolívia

O que deixou o atleticano mais insatisfeito na derrota desta quarta não foi exatamente o resultado, e sim a apatia na visita à Bolívia. O Atlético Mineiro realmente sofreu com as condições enfrentadas no Estádio Félix Capriles. Havia altitude, não tanto quanto em La Paz, mas que afetou os jogadores, como eles mesmos declararam na saída do estádio. O gramado pesado e de grandes dimensões também atrapalhou o estilo de jogo da equipe, contra uma equipe leve e que também possui os seus medalhões. Todavia, não dá para ser totalmente conivente com a fraca exibição dos mineiros, colocando apenas a culpa no ambiente. Para um time superior tecnicamente, o Galo apresentou pouco e errou muito. Volta para Belo Horizonte com a derrota por 1 a 0 para o Jorge Wilstermann, sabendo que precisará fazer mais no Estádio Independência – onde realmente pode e deve fazer mais.

Durante os primeiros minutos de jogo, o Atlético teve uma postura interessante em Cochabamba. Pode não ter sido o time mais ofensivo com a bola dominada, mas tentou se posicionar no campo de ataque, pressionando a saída de bola do Jorge Wilstermann. O problema é que aquela energia inicial não se manteve durante a sequência do primeiro tempo. Aos poucos, o Galo foi se entrincheirando e permitindo que os bolivianos dominassem a posse de bola. Tinham dificuldades para sair jogando, sem conectar os seus homens de frente, faltando tranquilidade. Enquanto isso, o time da casa aproveitava o momento para crescer.

Mesmo tentando pressionar, o Jorge Wilstermann não criou tantas chances de gol. Victor mal precisou trabalhar ao longo dos 90 minutos. No entanto, aos poucos a marcação do Atlético ia se abrindo, com dificuldades para brecar o brasileiro Serginho. E, diante das tentativas, os Aviadores conseguiram inaugurar o placar aos 40 minutos, em um raro lance de perigo efetivo, apesar do sufoco constante. Marcelo Bergese chutou cruzado e Gabriel salvou quase em cima da linha. Mas, na sobra, Gilbert Álvarez apareceu para emendar de bicicleta.

A cena dos jogadores reunidos no centro do gramado, conversando, antes da saída do intervalo, deixava clara a consciência sobre o jogo sem encaixe que faziam. Roger Machado tentou mudar a postura no início do segundo tempo. Robinho, depois de uma atuação satisfatória no clássico, fez 45 minutos bastante apagados. Saiu de campo para a entrada de Valdívia. Ainda assim, o Jorge Wilstermann esboçou uma pressão nos minutos iniciais. Rondou a área dos mineiros e pediu um pênalti não marcado pelo árbitro, em bola que bateu no braço de Alex Silva – este, homônimo do “Pirulito”, sofrendo na marcação pela lateral alvinegra.

Aos poucos, o Atlético Mineiro começou a se soltar mais. Conseguia trabalhar um pouco mais as jogadas, sem tantas bolas rifadas quanto no primeiro tempo. Apesar disso, faltavam chances claras de gol. O Jorge Wilstermann respondia e conseguia ser mais perigoso. Diante de um adversário bem postado e acostumado ao campo, a solução encontrada pelo Galo estava nas bolas longas. E o time ganhou fôlego com as entradas de Otero e Rafael Moura, oferecendo mais energia ao ataque. O centroavante, inclusive, foi quem mais incomodou, mesmo tendo menos de 20 minutos em campo. Fazendo o pivô e lutando com a marcação, o He-Man quase empatou aos 36, em bola desviada de cabeça que triscou a trave. Porém, faltou criatividade e tempo para concretizar a vontade em gol.

Ao contrário da maioria dos clubes brasileiros que permanecem na Libertadores, o Atlético não teve brecha para poupar seus jogadores no Campeonato Brasileiro. Enfrentou justamente o clássico contra o Cruzeiro, em um momento de recuperação do time na tabela. E isso quando encontraria justamente o ambiente mais desgastante entre todos eles na Libertadores, em Cochabamba. As pernas pesaram e tornam mais delicado o reencontro dos times no final do mês, no Estádio Independência.

Tecnicamente, o Atlético Mineiro é bastante superior ao Jorge Wilstermann. Ainda assim, precisa entrar em campo consciente. Os bolivianos já demonstraram em outras ocasiões a sua disciplina tática, valiosa em uma situação como esta. Se dificultarem o ataque do Galo e descolarem um contra-ataque, o perigo é iminente. O ponto é que, por aquilo que possui em mãos, o time de Roger Machado tem grande possibilidade de reverter a situação. Precisa de mais vigor e mais alternativas na criação, algo que não se viu na Bolívia. Tem um mês para trabalhar, solucionar os problemas e seguir em frente na Libertadores.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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