Libertadores

Impiedoso, o Boca Juniors esmaga a LDU em Quito e mostra sua fome de revanche na Libertadores

O Boca Juniors não apenas joga a Libertadores, o Boca Juniors sente a Libertadores. E a sente muito mais, à flor da pele, quando se iniciam os mata-matas da competição continental. Poucos adversários são tão temíveis nos momentos decisivos do certame. Mesmo em uma fase de reformulação, os xeneizes pareceram nem se esforçar para esmagar os sonhos da LDU Quito dentro do Estádio Casa Blanca. A campanha de destaque dos equatorianos e seu bom aproveitamento em casa não foram suficientes para intimidar o Boca. Letais, os argentinos já podem se vislumbrar nas semifinais: bateram os oponentes por 3 a 0 e não precisarão de grande esforço para concluir seu serviço na Bombonera, durante a próxima semana.

Não foi dessa vez que Daniele de Rossi estreou na Libertadores. O veterano até apareceu no banco da equipe de Gustavo Alfaro, mas não ganhou minutos na altitude de Quito. A tarde, ainda assim, seria de outros recém-contratados do Boca Juniors. E também de um jogador que renasce: Ramón Ábila. Com uma atuação decisiva, o centroavante não deixou os xeneizes sentirem saudades de Darío Benedetto, negociado com o Olympique de Marseille.

A LDU também tinha as suas armas, novamente com Antonio Valencia entre os titulares. E os Albos propunham mais o jogo, dominando a posse durante os primeiros minutos, com alguns lances de perigo. Porém, o Boca Juniors fazia um excelente trabalho com suas linhas de marcação. Davam pouquíssimas brechas aos equatorianos. Mais agressivos quando roubavam a bola, os argentinos logo rondaram o gol. Nicolás Capaldo exigiu grande defesa de Adrián Gabbarini aos sete minutos, dando o primeiro aviso. Já aos 11, saiu o gol. Muito bem em seu início pelo clube, Alexis Mac Allister efetuou um lançamento fantástico e deixou Ábila de frente para o crime. Livre, o centroavante driblou o goleiro e mandou para dentro.

Enquanto a LDU tentava se impor no campo de ataque, também deixava espaços para o Boca Juniors contra-atacar. Assim, os xeneizes exibiam muito mais consistência. Defendiam bem e criavam as melhores chances do outro lado. Ábila poderia ter anotado o segundo, aos 27, mas errou o chute na saída do goleiro. E se a situação já era favorável aos visitantes, ela ficou ainda melhor nos acréscimos. Jefferson Orejuela deu uma solada em Emanuel Reynoso e merecidamente recebeu o vermelho direto.

Reynoso, aliás, era outro a sobrar pelo Boca. O jovem de 23 anos, reserva nas últimas temporadas, precisou sair do banco durante o primeiro tempo, para substituir o lesionado Mauro Zárate. Organizou muito bem as jogadas ofensivas e, de lambuja, anotou um golaço na volta ao segundo tempo. Logo aos dois minutos, o camisa 30 cobrou uma falta no capricho e mandou a bola no canto de Gabbarini. Com um a menos e sem um dos seus esteios na cabeça de área, a LDU teria um trabalho hercúleo para reverter a situação.

Antes dos 15 minutos, a LDU ameaçou em duas chegadas, mas o goleiro Esteban Andrada conseguiu abafar. O Boca Juniors era muito mais time e tinha a situação nas mãos. Explorou os contragolpes para definir a peleja. O time teve um gol anulado aos 24. Reynoso fez uma jogadaça e entregou a Eduardo Salvio, mas um impedimento foi flagrado na construção. Nem fez falta. Aos 36, o Boca assinalou o terceiro. Ábila roubou a bola, arrancou e saiu de frente para Gabbarini. Travado, entretanto, contaria com a colaboração de Luis Caicedo, que marcou contra. Julio Buffarini até poderia ter feito o quarto, desperdiçando ataque aberto. Antes do fim, a LDU ainda reclamaria de um pênalti negligenciado pelo árbitro. Nada que evitasse a dor.

Este Boca Juniors é diferente do que se via nos tempos de Guillermo Barros Schelotto, apesar das filosofias de jogo semelhantes. Muitos protagonistas do time bicampeão argentino e vice da Libertadores já se foram – incluindo Darío Benedetto, Nahitan Nández, Wilmar Barrios, Cristian Pavón, Pablo Pérez e outras peças vitais. Os xeneizes se remontam. E também se provam, com uma vitória desse peso. O resultado em Quito tranquiliza a situação para a volta na Bombonera e, principalmente, marca território antes de um possível reencontro com o River Plate nas semifinais. Os boquenses fizeram sua parte em busca da revanche.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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